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O ser humano não evoluiu na savana, diz estudo

Aquela história de que aprendemos a andar de pé porque a floresta virou savana? Não é bem por aí, de acordo com uma nova pesquisa americana.

Por Ingrid Luisa
Atualizado em 11 out 2019, 16h47 - Publicado em 11 out 2019, 16h12

A evolução humana está intimamente ligada às mudanças no ecossistema terrestre: mutações aleatórias que resultaram em uma melhor adaptação ao meio foram sendo selecionadas ao longo da evolução, até darem origem ao ser humano que existe hoje.

Ou seja, uma das maneiras da ciência entender o que nos faz humanos… É justamente estudar as pressões ambientais que nossos ancestrais presenciaram. Só que, uma vez que não dá para viajar no tempo, montar esse quebra-cabeça de milhões de anos é uma tarefa muito difícil.

O ponto de partida é sempre o mesmo: começa na África, onde os antepassados de toda a humanidade surgiam. Por consequência, muitos estudos que tentam deduzir o “cenário” do passado fazem analogias ao ecossistema africano conhecido atualmente. O único problema? O ambiente que reconhecemos hoje como “típico” daquela região não é necessariamente o mesmo de milhões de anos atrás. Por isso, não há consenso de como exatamente era a paisagem habitada pelos nossos parentes longínquos.

Uma das teorias mais conhecidas sobre esse assunto é chamada de “hipótese da savana“. De acordo com ela, os primeiros hominídeos viveriam em ambientes arbóreos, que foram se tornando mais áridos até se tornarem savanas parecidas com as atuais. E nessa mudança estaria um dos “motores” do bipedalismo, ou seja, a capacidade andar ereto sobre duas pernas – já que na savana, onde as árvores são poucas, e espaçadas por longos trechos de gramíneas, haveria pouca motivação para que os hominídeos seguissem adaptados para subir em árvores.

A hipótese da savana, coitada, já apanhou bastante na história da ciência. Mas a percepção de que a savana foi o pano de fundo da evolução dos hominídeos continuou por muito tempo.

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Agora, um estudo liderado por um cientista da Universidade de Utah veio colocá-la em cheque. Ele foi o primeiro a tentar comparar a savana atual com fósseis de animais importantes para o meio ambiente de milhões de anos atrás. E, dessa comparação, o time de pesquisadores chegou a uma conclusão clara: durante a maior parte da jornada evolutiva dos nossos ancestrais, o ecossistema africano tinha pouco de “savanístico”.

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores resolveram investigar as diferenças entre os ambientes atuais e os de milhões de anos atrás. Eles analisaram dados de mais de 200 comunidades de mamíferos africanos atuais e fósseis de mais de 100 comunidades que viveram na África Oriental nos últimos 7 milhões de anos – mais ou menos o momento, na história da evolução, em que a árvore genealógica dos humanos ancestrais se diferencia da dos chimpanzés.

A conclusão inicial desse estudo já diz muito: há pouquíssima sobreposição nos grupos de mamíferos típicos de cada período. Ou seja, quase nenhum tipo de animal que prospera hoje na África Oriental se dava tão bem na região no passado, e vice versa. Só isso é um forte indício de que os ecossistemas tinham pouco em comum.

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Na análise, os pesquisadores se concentraram em três características principais associadas aos animais que viviam na região: dieta, tamanho do corpo e estratégia digestiva. Herbívoros foram animais especialmente importantes nessa pesquisa, já que a dieta é um reflexo direto da vegetação do ambiente onde ele vive. A presença de grandes herbívoros como elefantes, com concentração e população muito maiores, já é uma evidência de que para alimentar tudo aquilo de massa muscular, não dava para ter só gramíneas e árvores espaçadas.

Gradativamente, então, esse mato mais rico e folhoso foi se transformando na savana que conhecemos hoje – o que teria ocorrido, segundo o estudo, entre 1 milhão e 700 mil anos atrás, quando o bipedalismo já existia há bastante tempo entre os nossos antepassados.

A diminuição na população de grandes herbívoros, segundo o estudo, acompanha direitinho essa transição, partindo de um ambiente “com mais biomassa na vegetação” – ou seja, com uma concentração maior de plantas e mata mais fechada – para um ecossistema com maiores períodos de aridez e menos capacidade de sustentar árvores muito exuberantes.

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