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O Taz está em extinção – mas um furacão evolutivo pode salvar o demônio

Os demônios da Tasmânia da vida real começaram a morrer em um ritmo insano nos últimos 20 anos - mas aí mostraram para todo mundo que a evolução nem sempre é um processo lento.

Por Ana Carolina Leonardi
Atualizado em 31 out 2016, 18h59 - Publicado em 2 set 2016, 17h45

Charles Darwin, autor da Teoria da Evolução, dizia que a natureza não dá saltos. A evidência mais recente de que nem sempre é assim é o demônio da Tasmânia.

Provavelmente você sabe que Taz, personagem insano da Looney Tunes, foi inspirado no demônio da Tasmânia. Trata-se de um marsupial australiano que é muito veloz, tem um apetite gigante e fica o tempo todo de boca aberta. Mas enquanto Taz ficou eternizado nos desenhos animados, a espécie que o inspirou começou a morrer em ritmo acelerado nos últimos 20 anos.

A culpa dessa vez, não é dos humanos, mas de um dos cânceres mais estranhos do mundo. Em primeiro lugar, ele é um dos únicos três cânceres conhecidos que é contagioso. A Doença do Tumor Facial do Demônio só afeta a espécie do Taz; Ela é transmitida quando um animal morde o outro ou quando eles dividem comida. O tumor não só afeta o organismo do demônio por dentro (levando à falha geral de órgãos ou a infecções secundárias fatais), mas também aparece cria lesões e inchaços no rosto e no pescoço deles, impedindo que se alimentem. Seja pela progressão da doença ou por inanição, o câncer é fatal em quase 100% dos casos e mata os doentes em cerca de um ano.

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O surto da doença se desenvolveu muito rápido: o tumor foi detectado pela primeira vez em 1996 e desde então dizimou quase 80% dos irmãos do Taz na vida real. Mas aí, de repente, um “milagre” evolutivo aconteceu: a espécie começou a desenvolver uma resistência genética a doença.

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Pesquisadores da Universidade da Tasmânia analisaram o genoma de quase 300 demônios, comparando o material com as informações genéticas das gerações anteriores ao surto de câncer.

Os cientistas encontraram mudanças marcantes, especialmente em duas regiões genômicas, ligadas ao câncer e à imunidade. A conclusão deles foi que a resistência genética a doença começou a se espalhar entre as populações de demônios. E as estatísticas já começaram a responder, com uma queda no número de mortes ligadas a tumores.

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Os genes resistentes já estavam, é claro, presentes em alguns indivíduos da espécie, em uma frequência bem mais baixa. Como em qualquer processo evolutivo, a pressão externa do ambiente deu destaque para certas características genéticas na população. Com o surto de câncer, só sobraram animais resistentes vivos e capazes de se reproduzir – e aí a frequência da resistência foi aumentando.

Até aí, tudo normal. Mas o esperado é que o processo de seleção natural levasse mais de dez gerações. No caso dos demônios da Tasmânia, os cientistas garantem que o salto evolutivo se deu em cerca de quatro.

A explicação que os pesquisadores consideram mais plausível é de que a evolução é um processo dinâmico. Quando a pressão do ambiente se torna extrema, como no caso do surto de um câncer tremendamente fatal e da explosão da taxa de mortalidade, o processo evolutivo se manifestaria visivelmente com mais rapidez.

O próximo passo dos cientistas é trazer esse “furacão evolutivo” até a população de demônios da Tasmânia que eles mantêm em cativeiro, como uma garantia contra a extinção da espécie na natureza. A ideia é cruzar os demônios de laboratório com os selvagens para oferecer variabilidade genética aos descendentes e espalhar ainda mais a resistência ao câncer e outras doenças.

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