Trouxéssemos de volta animais extintos?
Porém, sem um exemplar vivo, quem seria a mamãe tilacino? Provavelmente, uma fêmea de outro marsupial, como o diabo-da-tasmânia, o simpático Taz.
Elisa Almeida França
Mamutes, dodôs, moas e tigres-da- tasmânia de volta ao lar. Esta seria uma hipótese absurda não fosse o incrível avanço das pesquisas genéticas nos últimos anos. Depois da clonagem de animais e do mapeamento de genes humanos, esses estudos abrem também a possibilidade de trazer animais extintos de volta à vida, a partir do DNA preservado de alguns deles.
Se pode soar estranho imaginar um elefante pré-histórico habitando novamente as planícies geladas da Sibéria, promover o retorno do tilacino – o marsupial carnívoro também conhecido como tigre-da-tasmânia – seria reparar um erro histórico. Afinal foi o homem que o exterminou, no século XIX, numa caçada feroz patrocinada por criadores de ovelhas.
“Quando pudermos clonar animais extintos, o tilacino encabeçará a lista”, diz o diretor do Museu Australiano, Michael Archer. À frente do projeto que visa clonar o animal, ele está entusiasmado com os progressos do trabalho. “Disseram que não encontraríamos DNA depois de tanto tempo, mas o fizemos. Que se o DNA estivesse lá, estaria em fragmentos tão pequenos, que não teriam utilidade. Mas os pedaços que achamos são grandes, constituídos de mil a 2 mil pares de bases”, afirma (o código genético do tilacino tem cerca de 3,5 milhões de pares de bases).
Porém, sem um exemplar vivo, quem seria a mamãe tilacino? Provavelmente, uma fêmea de outro marsupial, como o diabo-da-tasmânia, o simpático Taz.
O método atual da clonagem tem alguns pontos fracos. Um deles é a variabilidade genética entre os indivíduos, que praticamente seria perdida, já que o clone é constituído pelo mesmo código genético de seu antecessor imediato.
A variação das características impressas nos genes dos animais garante sua adaptação às mudanças ambientais.
Segundo Jean Paul Metzger, professor de Ecologia de Paisagens da USP, quando se cruzam indivíduos com composição genética similar, os genes recessivos vão aumentando. “O que poderia levar o animal novamente à extinção”, diz. O biólogo Cláudio Pádua, diretor do Instituto de Pesquisas Ecológicas (organização não-governamental que investiga espécies ameaçadas) concorda. “A porcentagem máxima para a perda de variabilidade genética, sem pôr em risco a continuidade de uma espécie, é de aproximadamente 1%”, afirma.
O professor Lawrence Smith, da Universidade de Montreal, no Canadá, no entanto, acha que é possível manter a diversidade genética mesmo havendo poucos reprodutores de uma espécie. “Os filhos dos clones não devem ser exatamente iguais. Eles não apresentarão tanta variabilidade, porém nossa experiência com clonagem vegetal aponta para a possibilidade de aumentar a diversidade a cada nova geração”, diz.
Essa é uma discussão importante para que as espécies redivivas possam ser introduzidas em seus hábitats originais. Segundo o professor Luiz Francisco Lembo Duarte, da Unicamp, reinserir um animal extinto num ecossistema pode gerar novo problema. “A natureza se acomoda rapidamente, assim corre-se o risco de introduzir um animal exótico num ambiente estável”, diz. Para ele, isso exigiria estudos profundos e específicos para avaliar o impacto sobre outras espécies.
A clonagem poderá servir ainda para a recuperação de animais em risco de extinção, como o gauro ou o condor californiano e os nossos ararinha-azul e mico-leão-dourado. Hoje, muitos zoológicos mantêm bancos genéticos prevendo a utilização dessa tecnologia num futuro próximo. Atingido o objetivo, resta esperar que tanto investimento não resulte em tilacinos atacando ovelhas, mamutes morrendo de calor e dodôs sem-teto.