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O terror psicológico do Natal

Está aumentando o número de pessoas com transtornos mentais relacionados a essa data festiva. Ansiedade, depressão e até fobias estão na mesa antes mesmo de a ceia ser servida.

Por Alexandre Carvalho
Atualizado em 20 dez 2021, 18h30 - Publicado em 20 dez 2021, 18h26

Lágrimas, expressão de pânico, tentativa de se desvencilhar e fugir. Não há um dia num shopping center em dezembro em que essa cena não se repita com crianças pequenas, colocadas contra a vontade no colo de uma espécie peculiar de bicho-papão: o Papai Noel. Ou melhor: o profissional simpático (espera-se) contratado para representar o ídolo de menininhas e menininhos mais sociáveis.

Mas esse medo irracional não é exclusividade dos pequerruchos. Adultos podem sofrer de transtornos mentais associados ao Natal, incluindo um conjunto de fobias que tornam esse período de festas a época mais atormentadora do ano. 

Fobias são medos desproporcionais aos riscos que ameaçam nossa integridade física ou psicológica. Mas que riscos maiores que encontrar uva passa no seu arroz podem estar relacionados ao Natal? Bem, os que podem bagunçar sua estabilidade emocional são muitos. 

Uma pesquisa feita na Austrália, pelo Exército da Salvação, mostrou que, para quase 30% dos adultos no país, a época do Natal é o período mais estressante do ano. Faz sentido: compras de presentes em lojas lotadas e em tempo de inflação nas alturas, encontros com tios politicamente intragáveis, os arranjos para o evento (se a festa for na sua casa)… O que não falta é motivo para estresse.

Já o Coaching Club, da Espanha, que atua nas áreas de orientação profissional e terapia, fez um levantamento que apontou um aumento de 25% no número de pessoas que procuram psicólogos para tratar de distúrbios emocionais associados especificamente a essa data comemorativa. 

“Esse fechamento de ciclo [representado pelo Natal] pode nos levar a uma avaliação inevitável do tempo decorrido e, como consequência, ansiedade, frustração ou tristeza motivada pela insatisfação pessoal com objetivos não cumpridos”, apontou Veronica Rodriguez, diretora da organização. 

E a Covid está contribuindo para esse estado sombrio da mente. Uma pesquisa apresentada dia 2 de dezembro pelo Instituto Francês de Opinião Pública (Ifop) revelou que um terço dos franceses agora se sente triste ou ansioso com a perspectiva da festa de Natal. Essa melancolia tem ligação com o medo de empobrecer por causa da incerteza econômica que vem na esteira do coronavírus.

Medo e delírio no presépio

É principalmente por conta de uma expectativa negativa quanto à repetição desses mal-estares anuais que o indivíduo pode desenvolver transtornos psíquicos associados ao aniversário de Jesus. O psicólogo britânico Graham Price, especialista em gestão do estresse, aponta que os “fóbicos de Natal” também podem sofrer terror psicológico por causa de um acontecimento traumático na infância, que tenha coincidido com as celebrações do fim de dezembro, ou mesmo pela recorrência de brigas quando parentes que não se bicam acabam juntos na mesma sala só para cumprir uma tradição familiar. 

Aliás, nessa época de tantos reencontros, em que a fobia social se torna um desafio muito maior, reunir-se com parentes pode virar motivo de pânico mesmo (o nome técnico é singenesofobia). Até receber presentes rende um tipo de medo específico: a pessoa fica angustiada diante do momento em que vira o centro das atenções, quando todos os olhos estão voltados para a sua reação ao tirar a “lembrancinha” da embalagem. E tem mais: pesquisadores da Universidade Estadual de Ohio (EUA) investigaram por que algumas pessoas ficam muito ansiosas ao receber presentes. Uma das conclusões foi que ganhar algo que ajude a economizar dinheiro (uma panela ou mesmo uma roupa, por exemplo) faz a pessoa se sentir inferiorizada. É o que Sigmund Freud chamaria de sofrimento por “ferida narcísica”.

Graham Price sugere a terapia cognitivo-comportamental para quem esse conjunto de ansiedades natalinas vira um tormento que realmente atrapalha a vida.

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