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Oceanos em miniatura simulam efeitos do aquecimento global

Pesquisadores recriaram pequenos ecossistemas – com peixes, algas e crustáceos – para ver o que acontece quando a temperatura e o gás carbônico aumentam.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
30 Maio 2017, 18h08

A temperatura média da Terra vai subir nos próximos anos – só não sabemos quanto. As mudanças climáticas induzidas pela atividade humana podem ser atenuadas pelos esforços diplomáticos do Acordo de Paris, mas já estão em curso. Um aumento de pelo menos 1,5ºC na média, segundo a maior parte dos especialistas, é irreversível.

Com isso, ecossistemas frágeis poderão desaparecer ou sofrer alterações – os corais, especialmente sensíveis a mudanças sutis na química e na temperatura da água dos oceanos, já são vítimas há mais de 20 anos.

Entender como o aumento na concentração de gás carbônico na atmosfera vai afetar as relações entre seres vivos é uma tarefa difícil. Estudar animais ou plantas isoladamente não é o suficiente – um peixe no aquário é uma versão muito limitada de um oceano inteiro, afinal.

Por outro lado, é impossível acompanhar, simultaneamente, as centenas (ou milhares) de espécies que convivem em um ecossistema de verdade – como todas são interligadas entre si, não dá para saber com precisão o quê está causando o quê.

Para resolver esse problema, pesquisadores da Universidade de Adelaide, na Austrália, bolaram um meio termo muito prático. Eles encheram 12 piscinas de plástico infláveis com, ao todo, 1,8 mil litros de água do mar. Depois, forraram o fundo com areia, pedras, algas, crustáceos e pequenos invertebrados, e completaram a mistura com peixes carnívoros.

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Fizeram, em resumo, os aquários mais realistas do mundo. Veja abaixo.

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(Universidade de Adelaide/Divulgação)

O próximo passo foi submeter essas miniaturas de oceano às mudanças climáticas previstas por especialistas. Em duas das piscinas, a temperatura da água subiu 5ºC – uma simulação realista do quanto os mares ao sul da Austrália, por exemplo, irão esquentar nas próximas décadas. Em outras três os pesquisadores bombearam concentrações anormais de gás carbônico. O composto químico é capaz de aumentar tanto a acidez dos oceanos quanto a fotossíntese das algas.

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Alguns dos “aquários” restantes sofreram as duas alterações ao mesmo tempo, outros foram mantidos intactos para servir de controle.

A principal descoberta, até agora, é que o gás carbônico puro, em geral, é benéfico: aumenta a quantidade e o tamanho das algas, que servirão de alimento para mais crustáceos, que por sua vez servirão de alimento para mais peixes carnívoros. Seus benefícios desaparecem, porém, quando ele é combinado ao aumento de temperatura – as algas, apesar de gordinhas, se tornam menos nutritivas, e os crustáceos se estressam e crescem menos, causando um desequilíbrio completo da cadeia alimentar.

O último prego no caixão do oceano foi o aumento, por causa do calor, do metabolismo dos peixes carnívoros – com fome o dia inteiro, eles acabavam devorando rapidamente a população já reduzida de pequenos herbívoros. Os resultados foram publicados no periódico científico Global Change Biology.

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Ivan Nagelkerken, um dos autores, já havia trabalhado em um estudo similar, publicado em fevereiro deste ano. Na época, ele descobriu que o aumento da temperatura e da concentração de gás carbônico nas águas também deixa o apetite dos tubarões nas alturas – ao mesmo tempo em que seus sentidos são afetados, e a caçada perde eficiência.

Pesquisadores entrevistados pelo The New York Times afirmam que, até hoje, nenhum estudo havia sido capaz de identificar relações de causa e consequência tão ilustrativas sobre a vida na Terra durante o aquecimento global. O pequeno número de espécies e a forma previsível como elas interagiram entre si permitiu entender de maneira inédita a reação de uma cadeia alimentar equilibrada a uma pequena alteração ambiental. Conclusão? As notícias não são nada boas. É melhor torcer pela redução nas emissões. 

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