Os invasores
Predadores agressivos, transmigrados artificialmente de outros ambientes, proliferam à nossa volta, infestando campos, rios e cidades. São os invasores. Onde eles chegam, uma crise se instala. A industrialização, a urbanização e a poluição estão extinguindo muitas espécies, é verdade. Mas há aquelas que resistem, se adaptam e proliferam... sem parar. Parecem inofensivas, às vezes, são até bonitinhas, mas destroem as outras espécies, desequilibram o meio ambiente e transtornam o dia-a-dia dos homens
Em 1890, o entomologista amador Leopold Trouvelot importou a deslumbrante borboleta européia Bombys disparate para sua criação, em Massachusetts, nos Estados Unidos. Algumas fugiram. Em semanas, as lagartas destruíram seu jardim. Em anos, viraram a maior praga da agricultura americana.
A experiência de Trouvelot mostra que em uma época de viagens cada vez mais fáceis – muitas espécies animais e vegetais, removidas de seu habitat, adaptam-se e proliferam, longe dos seus predadores naturais, explosivamente. Viram invasores: seres adaptativos, resistentes e prolíficos que ocupam o espaço, eliminam os outros e atrapalham os homens.
Casos inocentes, como a moda de importação de tartaruguinhas da Flórida como mascotes de crianças na França, nos anos 80, viraram um inferno. Como tinham mal cheiro e comiam muito, 500 000 tartarugas foram abandonadas em rios e lagos até 1990, disputando alimento com a fauna local, que acabou ameaçada.
Outra história: em 1902, uma dúzia de coelhinhos felpudos foi levada para a Austrália. Doze anos depois, o governo foi forçado a introduzir no país a doença mixomatosis cuniculi (que só atinge coelhos) para enfrentar as hordas que estavam acabando com as pastagens do gado. Coelhos foram caçados e infectados com o vírus, propagando a doença aos outros por meio de picadas de insetos. Morreram quase todos. Mas os sobreviventes geraram uma espécie mutante que resiste, até hoje, aos programas de controle biológico dos australianos.
Agora, os invasores são combatidos com tecnologia moderna. A análise do DNA das espécies permite selecionar predadores apropriados no novo ambiente. O Programa de Pesquisa Interdisciplinar Francês do Sahel acridae, por exemplo, desenvolveu um fungo que “come”, por dentro, os gafanhotos. Parece cruel. Mas graças a ele, os invasores do Saara pararam de aterrorizar a França.