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Para sobreviver, este bicho esconde sua identidade até dos pais

A identidade secreta tem motivo bem nobre: não ser morto pelos outros membros do grupo

Por Guilherme Eler
Atualizado em 11 mar 2024, 15h11 - Publicado em 3 Maio 2017, 16h43

Na luta pela sobrevivência vale literalmente tudo – inclusive falsificação ideológica. É essa, pelo menos, a estratégia que os filhotes do mangusto-listrado possuem para não ter sua vida interrompida logo na infância. O costume de matar filhotes, sobretudo os que não são parentes, é mais comum do que deveria na espécie. Por isso, as crias buscam estar sob supervisão constante de adultos, sejam eles da família ou não. Para terem mais cuidadores do que inimigos, os filhotes dão um jeito de passar despercebidos por onde forem – e, no melhor estilo agente secreto, escondem sua identidade até dos próprios pais.

As crias só conseguem se manter sob sigilo por conta da relação parental distante que os mangustos-listrados mantêm. Na maioria dos outros casos animais, a família que concebe o filhote acompanha seu desenvolvimento nas primeiras fases da vida – o que significa também protegê-lo de potenciais ameaças. Os mangustos-listrados, porém, adotam um sistema de criação mais moderno, em que a responsabilidade acaba sendo coletiva: os adultos tomam para si a tarefa de monitorar todas as crias do bando, sem se limitar a formalismos familiares.

Na dúvida de quem é parente e quem não é, os mais velhos preferem proteger a atacar. Para manter esse apreço, e não cometer o descuido de se identificarem como filhos deste ou daquele casal, manter-se anônimo é a melhor estratégia. Assim, os filhotes reduzem a probabilidade de sofrerem nas garras de estranhos mais estressadinhos. Essa habilidade evolutiva foi descrita em um estudo publicado no periódico Proceedings of the Royal Society B.

Para conseguirem realizar essa missão secreta, além de não se manterem na cola dos pais biológicos, eles se valem da aparência. Isso porque as ninhadas dos mangustos-listrados costumam surgir todas na mesma época. Assim, os filhotes, que já são parecidos entre si, costumam ter o mesmo tamanho – o que dificulta sua identificação, de acordo com os cientistas.

Outros fatores também chamaram a atenção dos pesquisadores da Universidade de Exeter, na Inglaterra, que conduziram a pesquisa. Fêmeas adultas, especialmente as que já são mães, tendem a ajudar mais as crias do sexo feminino, segundo Emma Vitikainen, uma das autoras do estudo. O mesmo vale para os filhotes do sexo masculino, mais auxiliados pelos machos do bando.

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Primos dos suricatos, os mangustos-listrados possuem relações familiares um tanto conturbadas. Em um outro estudo, publicado no fim de março, cientistas já tinham mapeado um outro hábito pouco fraternal: a estranha prática dos machos de priorizar as fêmeas da família quando precisam expulsar alguém do grupo. É como se seu condomínio ficasse pequeno demais e seu pai resolvesse botar sua prima para correr, ao invés de um vizinho encrenqueiro distante.

E a explicação para isso é ainda mais peculiar. Ter muitas fêmeas no grupo significa ter muitos filhotes. E quem tem filho sabe: cuidar de criança não é das tarefas mais fáceis. No mundo animal, isso significa um problema, já que nem todos terão a sorte de conseguir sobreviver. As fêmeas, que oferecem menos resistência do que os machos do grupo, se tornam assim o alvo perfeito para serem despejadas.

Toda vez que você achar que têm problemas em casa, lembre-se do exemplo dos mangustos-listrados. Eles fazem qualquer problema digno do programa Casos de Família parecer fichinha.

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