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Por que os gatos têm hábitos tão esquisitos?

Os ancestrais do gato aprenderam a ser caça e caçador - e o seu pet ainda anda pela sala como se estivesse na selva.

Por Ana Carolina Leonardi
Atualizado em 11 mar 2024, 10h57 - Publicado em 1 jun 2016, 15h00

De dentro de uma gaveta, do alto da estante ou embaixo do móvel, você vê dois pares de olhos brilhantes se destacando na escuridão. Parece o início de filme de terror, mas é uma experiência diária para quem tem gatos e para os milhões de fanáticos que transformam os vídeos felinos nas grandes sensações do Youtube.

Os gatos já foram perseguidos porque eram associados às bruxas e à magia negra, mas o comportamento estranho dos bichanos tem explicações científicas. Um professor da Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, em um vídeo para o programa TED-Ed, relacionou as esquisitices do seu pet com a forma como a espécie evoluiu. Tony Buffington é especialista em clínica veterinária e fundou o projeto “Indoor Pet Iniative”, que se dedica a estudar animais de estimação que vivem dentro de casa e descobrir formas de melhorar o dia a dia deles.

Tudo começou antes dos gatos se tornarem animais domésticos. Na selva, eles tinham uma posição interessante na cadeia alimentar: eram, ao mesmo tempo, predadores de animais pequenos e refeição para os maiores, e portanto dependiam de instintos poderosos, tanto de defesa quanto de ataque. Hoje em dia, ainda veem sua sala de estar como um campo de batalha.

Alpinistas de armário

Os gatos evoluíram seu equilíbrio e sua estrutura muscular para pode subir em árvores. A habilidade de escalada era uma grande vantagem na selva: permitia analisar todo o ambiente ao redor e decidir com clareza qual era a melhor opção de caça, ou a melhor rota de fuga caso avistasse um predador.

Um apartamento provavelmente não tem coiotes à espreita, mas o hábito ficou e os gatos mantiveram sua preferência pela vigilância nas alturas – é isso que você vê toda a vez que seu gato sobe no armário.

LEIA: Como os gatos veem o mundo

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Sempre alerta

A vida selvagem também ensinou à espécie felina que é preciso aproveitar sempre que a comida estiver disponível. Por isso, gatos geralmente comem pouco, mas várias vezes por dia e mesmo na madrugada. Antes da ração, eles dependiam de pequenos animais para se alimentar, o que exigia rapidez, agilidade e precisão.

Quando você dá um brinquedo pequeno ao gato, ele não vai ver o objeto como um amiguinho, e sim como caça. Da mesma forma como o bichano faria com uma presa, ele usa sua estratégia de quatro etapas: espreitar, dar o bote, matar e comer. Mesmo que seja um bichinho de borracha, a brincadeira do gato também é treino.

LEIA: Como os gatos caem em pé?

Não fui eu, foi meu instinto

A vigilância e o preparo constante aumentaram as chances de sobrevivência do gato na selva – e arruinaram as chances de sobrevivência dos seus móveis. Todos os instintos do gato o levam a estar sempre pronto para atacar – e isso inclui as garras, essencial para autodefesa e caça.

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Afiar as garras tem um efeito relaxante nos animais e ajuda a alongar seus músculos. Esse feedback positivo do corpo leva os bichanos a arranhar tudo o que veem pela frente, independente do quanto você pagou nas novas cortinas.

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A curiosidade encaixotou o gato

Se você assistiu Tom e Jerry, sabe que buracos e espaços pequenos são bons esconderijos das presas contra os predadores. O instinto de caça (ele de novo) hoje em dia explica a curiosidade incontrolável dos gatos de fuçar buracos, caixas, bolsas, gavetas…

Por outro lado, na sua condição simultânea de caça e caçador, os gatos selvagens se aproveitavam das mesmas técnicas para se esconder dos animais maiores que ele. Por isso, são experts em se encolher em lugares inusitados – aprenderam com os ancestrais que apertado é sinônimo de seguro.

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A discrição herdada pelos gatos também explica porque eles não gostam de caixas de areia fedidas. No passado, o cheiro poderia atrair predadores e revelar sua posição.

LEIAGatos miam com sotaque

O mistério final

Se algumas esquisitices a ciência explicou, outras ainda está longe de entender completamente. Uma questão em aberto é o ronronar dos gatos. Eles fazem esses sons quando estão felizes, com dor ou com fome, então ninguém sabe exatamente o que motiva o barulho.

Um das possibilidades é que, além de expressar emoções, ronronar seja terapêutico. Gatos ronronam para si mesmo quando estão estressados ou para outros gatos feridos, o que parece ter um efeito relaxante. Mas é possível que também existam consequências físicas. Os gatos ronronam a uma frequência de 26 Hz. Quando fazemos exercícios pesados, a frequência das ondas de impacto ajuda a fortalecer os ossos – e agora cientistas investigam se o ronronar pode ter o mesmo efeito e até regenerar tecidos.

Tendo ou não um efeito na saúde, não deixe o ronrom entrar na sua cabeça: existem evidências de que os bichanos adaptam o barulho para lembrar o choro de um bebê e convencer o dono a fazer o que eles querem.

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