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Primo de Luzia ajuda a desvendar o passado do continente Sul-americano

Ao analisar o DNA do esqueleto de "Luzio", um fóssil recém-encontrado, os pesquisadores conseguiram comprovar que ele é um dos ancestrais das comunidades nativas do continente.

Por Caio César Pereira
Atualizado em 31 jul 2023, 12h32 - Publicado em 31 jul 2023, 12h32

Apesar do termo comum “descobrimento do Brasil”, a gente sabe que na verdade ele não foi bem descoberto. Afinal, por aqui já existia uma grande variedade de povos indígenas que habitavam essas terras antes da chegada dos europeus. Estudos sobre nossos ancestrais aqui são um dos principais tópicos da etnologia e arqueologia sul-americana, e o mais recente indica que um primo de Luzia (o mais antigo fóssil humano já encontrado no continente) é um dos ancestrais dos povos do Brasil.

Em uma pesquisa conjunta da Universidade de São Paulo e da Universidade de Tübingen, na Alemanha, os pesquisadores conseguiram extrair amostras de DNA do esqueleto de Luzio, o um indivíduo de mais ou menos 10.400 anos.

Luzio foi encontrado no Vale do Ribeira, e é o fóssil mais antigo já encontrado no estado de São Paulo. Ao analisar os resultados de seu DNA, os pesquisadores chegaram a uma conclusão: ele é ancestral das comunidades nativas aqui no continente sul-americano.

Isso por si só já seria uma grande descoberta, mas ela tem ainda um bônus. Antes, se acreditava que os primeiros brasileiros por aqui tinham uma origem diferente dos outros povos espalhados pelo continente. A pesquisa, no entanto, mostra que essa hipótese estava errada.

“Extrair o DNA do esqueleto de Luzio era uma peça central que ainda faltava para desvendarmos as origens dos primeiros americanos. Os resultados que obtemos deixam claro que não existiu no passado uma população humana diferente na América, como se acreditou por décadas”, explica André Strauss, professor do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, e um dos autores do estudo.

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Ao mesmo tempo, o estudo de Luzio possibilitou uma outra descoberta. Próximo de onde foi encontrado, os pesquisadores acharam também alguns enfeites feitos com dente de tubarão e rabo de arraia, o que pode indicar uma cultura intermediária entre os povos da costa e os povos do centro do continente.

Assim, a pesquisa também analisou o DNA de fósseis das comunidades costeiras do continente, conhecidas como Sambaquis, povo que habitou uma região de mais ou menos 3 km ao longo de toda a costa da América do Sul (o seu nome é graças às construções feitas com conchas por esses povos, e que você pode ver mais aqui). 

Apesar dos registros arqueológicos encontrados indicarem que esses povos compartilhavam certos aspectos culturais, as análises de seu genoma, na verdade, mostraram algumas diferenças. Segundo os pesquisadores, provavelmente, elas devem ter ocorrido pela interação entre os grupos da costa e do interior, o que pode ser observado no local onde foi encontrado o próprio Luzio.

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