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Pegadas encontradas nos EUA podem ser a evidência mais antiga de humanos na América do Norte

Pesquisadores encontraram pegadas humanas que datam entre 21 e 23 mil anos atrás – pelo menos cinco mil anos antes do que sugere a hipótese mais aceita atualmente. Entenda a controvérsia sobre a chegada dos humanos na América.

Por Carolina Fioratti
Atualizado em 27 set 2021, 13h21 - Publicado em 27 set 2021, 13h04

Não há consenso sobre a época em que os humanos chegaram às Américas. Uma das hipóteses mais conhecidas indica que o povo Clóvis, grupo pré-histórico originário do leste asiático, foram os pioneiros. Eles teriam sido os primeiros a atravessar o estreito de Bering – faixa de terra que conectava a Rússia ao Alasca – chegando à América do Norte há 13 mil anos.

Mas há controvérsias: um estudo britânico constatou que fezes de 14 mil anos encontradas nas cavernas de Paisley, no Oregon (EUA), eram resultado do metabolismo humano. Outra pesquisa feita por cientistas americanos datou pontas de lança encontradas no Texas (EUA) em 15,5 mil anos. Ou seja, existem evidências de que os humanos pisaram no continente antes do que se pensava. 

Essas teses apontam para um diferença no tempo de aproximadamente dois mil anos, mas um novo estudo recém publicado na revista Science pode alongar ainda mais esse intervalo. Pegadas humanas encontradas no parque nacional White Sands, no Novo México, foram datadas entre 21 e 23 mil anos de idade – 10 mil anos antes do episódio de Bering. 

Os pesquisadores acreditam que as pegadas foram deixadas principalmente por crianças e adolescentes, considerando o tamanho dos pés. As marcas parecem ter sido formadas na lama macia às margens de um lago raso, que hoje se encontra seco.

Local da escavação com pegadas humanas fossilizadas.
Pegadas humanas de 20 mil anos encontradas no parque nacional White Sands, no Novo México. (National Park Service/USGS/Bournemouth University/Reprodução)
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Para a felicidade dos cientistas, havia sementes da planta aquática Ruppia cirrhosa presas nas camadas de sedimentos acima e abaixo de onde estavam as pegadas. Dessa forma, pesquisadores do Serviço Geológico dos Estados Unidos puderam datá-las por radiocarbono, chegando à idade do fóssil. 

Por se tratar de um tema tão controverso na história, os cientistas consideraram diversas possibilidades antes de cravar a idade das pegadas. Eles consideraram se não poderia ter ocorrido ali um “efeito reservatório”, em que os organismos incorporam carbono de outras rochas, que foi trazido pela água. O fenômeno seria capaz de interferir na datação por radiocarbono, mas parece não ter ocorrido neste caso. Os cientistas dataram também carvão vegetal encontrado na mesma região, um material que não é atingido pelo efeito reservatório. Os resultados apontaram para intervalos de tempo semelhantes ao encontrado para as sementes.

Há 20 mil anos, o mundo passava por um período conhecido como Último Máximo Glacial, em que grande parte do que é hoje o Canadá estava coberto de gelo. Dessa forma, os humanos vindos da Ásia não conseguiriam entrar na América, o que abre espaço para a hipótese de que os humanos chegaram no continente ainda mais cedo.

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Adriana Dias, arqueóloga e pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul explica que, na América do Norte, há sítios datados entre 40 e 25 mil anos. Neles, há concentrações de ossos de mamute, cavalos e bisões com marcas que podem ter sido provocadas pelo homem. “No entanto, em nenhum destes lugares foram encontrados artefatos ou outros vestígios de ação humana”, explica a cientista.

Há também questões a serem resolvidas do ponto de vista biológico. Em entrevista à BBC News, Andrea Manica, pesquisadora da Universidade de Cambridge não envolvida no estudo, explicou que “as evidências de humanos na América do Norte há 23 mil anos estão em desacordo com a genética, que mostra claramente uma divisão entre nativos americanos e asiáticos de aproximadamente 15 a 16 mil anos atrás”. 

A cientista sugere que estes povos foram substituídos em algum momento por outros grupos, mas não há explicação clara de como isso ocorreu. Adriana reforça a ideia ao contar sobre sítios arqueológicos com datações radiocarbônicas na faixa de 25 mil anos bem documentados no Brasil, como o abrigo Santa Elina, na Serra das Araras (Mato Grosso) e o sítio Toca do Sítio do Meio, na Serra da Capivara (Piauí).

“Estes lugares indicam a possibilidade de ocupação das latitudes equatoriais anteriores ao Último Máximo Glacial. No entanto, a alta dispersão geográfica destes sítios e a baixa densidade populacional possivelmente envolvida nestes movimentos pioneiros fez com que não houvesse continuidade biológica e cultural. Além disso, após abandonados, estes lugares só foram novamente ocupados a partir do fim do período glacial, há 13.000 anos”, explicou.

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