Programado para a fé
Imagens do cérebro, obtidas durante sessões de preces e meditação, ajudam a neurologia a desvendar os mistérios que cercam os fenômenos espirituais e indicam que há uma base biológica para a crença humana.
Jomar Morais / Rodrigo Maroja
No início, é só uma sensação de crescente tranqüilidade. Pequenos incômodos ambientais, como o zumbido de um mosquito ou a elevação da temperatura, deixam de ser obstáculos à concentração. A ansiedade cede lugar à observação serena da vida, a uma paz indefinível. Então, numa súbita e indelével onda tem-se a impressão de que o corpo e a própria individualidade se dissolveram. Não existe mais limite entre o indivíduo e o resto do mundo, não há tempo nem espaço. Uma “iluminação” repentina parece esclarecer todas as coisas.
Você já experimentou ou deve conhecer alguém que passou por uma experiência semelhante. Delírio? Viagem? Mergulho numa outra dimensão? O Dalai Lama diz que já passou por isso (e, muito à vontade, repete a dose diariamente). No século XII, São Francisco de Assis, o santo do mundo natural, experimentou as mesmas sensações. Chico Xavier, o médium brasileiro que morreu no dia 30 de junho, conhecia o fenômeno desde criancinha. Na verdade, não existe uma única religião no planeta sem casos do gênero para narrar. Mas, afinal, o que é esse estado alterado de consciência tão constante em todos os credos? A resposta pode estar no seu cérebro. Pelo menos, segundo a mais recente tentativa da ciência para explicar a origem das experiências místicas que une a neurologia com a teologia: a neuroteologia.
O estudo das experiências religiosas não é novo. Mas quase nunca a ciência levou a sério esse tipo de pesquisa. A psiquiatria e a psicologia do início do século XX incluíram a experiência mística dentro do rol de doenças mentais. “Apesar da sua importância na vida das pessoas, a religião sempre foi tratada com indiferença ou apatia pela maioria dos psicólogos e neurocientistas”, diz David Wulff, psicólogo e professor do Wheaton College, em Massachusetts, Estados Unidos. Com a neuroteologia, isso está mudando. A partir de imagens obtidas por tomógrafos que detectam quais áreas do cérebro são ativadas em diferentes atividades, pesquisadores procuram agora entender o complexo relacionamento entre espiritualidade e cérebro, lançando as bases do que vem sendo considerada uma biologia da fé.
Não se trata de conversão dos céticos cientistas às crenças milenares. Eles continuam exigentes como antes na busca de provas que possam ser confirmadas em experiências realizadas por laboratórios. A diferença está nas novas técnicas de investigação e na importância crescente atribuída a esse tipo de pesquisa. Para isso, certos cientistas não têm hesitado sequer em se transformar em cobaias de seus próprios estudos. Eles se submetem ao fenômeno da consciência alterada durante transes naturais ou provocados, a fim de avaliarem nas entranhas a sensação de estar fora do espaço e do tempo relatada pelos religiosos. E, ao retornarem à normalidade, quase sempre trazem consigo alguma descoberta.
Nessas ocasiões, é comum um místico afirmar que se encontra na presença de Deus ou de uma entidade espiritual. Um cientista pode ter uma resposta diferente, como ocorreu com o neurologista americano James Austin quando experimentou, há 20 anos, uma sensação semelhante à descrita no início desta reportagem. Austin apreciava o rio Tâmisa fluir enquanto esperava um metrô em Londres quando tudo aconteceu: o senso de individualidade desapareceu e ele sentiu-se unido aos edifícios, ao rio e às nuvens, em meio a uma sensação de eternidade. Foram segundos infindáveis de deslumbramento. “Todos os meus receios, inclusive o medo da morte, desapareceram.
Eu havia alcançado a compreensão da natureza última das coisas”, revelou Austin, há três anos, no livro Zen and the Brain (O Zen e o cérebro), publicado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o MIT, e ainda não traduzido para o português. Para o neurologista, no entanto, o extraordinário fenômeno não foi uma prova da existência de Deus. “Foi uma prova da existência do cérebro”, diz o pesquisador.
O estudo de Austin tem o mérito de ser um dos pioneiros na nova vertente de pesquisas dos eventos místicos, mas está longe de encerrar o assunto. De lá para cá, várias outras experiências foram realizadas por cientistas de universidades renomadas, como Harvard e Columbia, culminando com uma incursão inédita no território cerebral realizada por dois pesquisadores da Universidade da Pensilvânia, também nos Estados Unidos: o radiologista Andrew Newberg e o psiquiatra Eugene d’Aquili, falecido há dois anos. Os dados da pesquisa estão no livro Why God Won’t Go Away (Por que Deus não vai embora, ainda sem tradução no Brasil) e confirmam o avanço do estudo dos fenômenos místicos em relação às técnicas tradicionais. Antes, podia-se apenas medir a alteração das ondas cerebrais – de beta para alfa – durante as experiências contemplativas, mas não se sabia por que a mudança ocorria nem que áreas do cérebro eram responsáveis por isso.
Newberg e D’Aquili avaliaram o desempenho cerebral de oito praticantes budistas, durante sessões de meditação, e o de um grupo de freiras franciscanas, enquanto elas rezavam fervorosamente durante 45 minutos. A maior novidade emergiu das imagens do lobo parietal superior, a área do cérebro localizada na parte de trás do crânio. Constatou-se que, no transcorrer das meditações, a atividade nessa região diminuía gradualmente até ficar praticamente bloqueada no momento de pico, aquele em que o meditador experimenta a sensação de iluminação religiosa. Justamente a mesma área do cérebro que, em estado normal, proporciona ao homem o senso de orientação no espaço e no tempo, bem como a diferenciação entre o indivíduo e os demais seres e coisas.
É como se, privados de impulsos elétricos, os neurônios do lobo parietal desligassem os mecanismos das funções visuais e motoras do organismo. Quando a experiência foi repetida com as franciscanas – cujas rezas enfatizam mais palavras que imagens – registrou-se uma excitação da região associada à linguagem, na base do lobo parietal, mas elas também tiveram os impulsos da área de orientação bloqueados ao atingirem o êxtase.
O que os budistas e as freiras sentiram não é resultado de auto-sugestão ou de uma doença mental, asseguram os pesquisadores. É algo real, baseado em eventos biológicos. “O sentimento de unicidade parece paralisar os receptores sensórios da região parietal”, diz Newberg. Com isso, o cérebro fica impossibilitado de traçar fronteiras e percebe o “eu” como um ente expandido, ilimitado e unido a todas as coisas. A sensação de unicidade, porém, é apenas uma – talvez a mais marcante – das impressões causadas pelas experiências místicas profundas. Os êxtases incluem, ainda, uma intensa alteração emocional com expressões de alegria e pavor. E, nesse aspecto, as imagens do cérebro trazem mais revelações.
As imagens dos lobos temporais, onde repousa o chamado “cérebro emocional” ou sistema límbico, mostram uma atividade redobrada dessas áreas durante as experiências contemplativas, o que ajuda a explicar as marcas deixadas por tais eventos na personalidade das pessoas. Formado numa etapa remota da evolução, quando surgiram os répteis, o sistema límbico está associado às emoções e reações instintivas. Nos humanos esses impulsos estão integrados a funções cognitivas superiores produzindo assim uma complexa experiência emocional. Cabe ao sistema límbico monitorar nossas vivências, atribuindo a cada uma delas um valor sentimental, o traço emotivo que permanece na memória e, não raro, pode ser a causa de fortes mudanças de atitude.
Você certamente já ouviu falar de alguém que mudou radicalmente os hábitos e o modo de ver a vida depois de escapar ileso de um acidente ou após ser alvo de uma demonstração extrema de amor num momento de dificuldade. Em escalas diferentes, eu e você certamente já fomos protagonistas de cenas do gênero, nas quais o sistema límbico assume o papel de diretor da peça. Na história das religiões eventos como esse são freqüentes. O judeu Saulo, por exemplo, comandava uma blitz policial para prender líderes cristãos no século I, quando teria experimentado um transe durante o qual viu o próprio Cristo propor-lhe uma nova vida. Depois disso, convertido, tornou-se o apóstolo Paulo, o grande responsável pela propagação do Cristianismo.
Sabe-se agora que uma intensa atividade elétrica nos lobos temporais pode levar alguém ao êxtase místico, o que faz com que alguns pesquisadores associem uma conexão entre o fenômeno religioso e o ataque de epilepsia, quando idêntica atividade dos lobos é registrada. Não há nada conclusivo sobre tal hipótese, mas uma engenhoca concebida para testá-la – um capacete que emite descargas elétricas, inventado por Michael Persinger, da Universidade Laurentian, em Sudbury, Canadá – confirmou que estímulos elétricos na base do sistema límbico podem provocar alucinações, a sensação de estar fora do corpo e o senso do divino. Ao estimular a mesma área, durante cirurgias no cérebro, alguns pacientes também relataram sentimentos religiosos.
A influência decisiva do “cérebro emocional” nos eventos místicos, diz Newberg, pode esclarecer, ainda, por que os rituais são uma prática tão importante nas religiões. Os movimentos estilizados e repetitivos, os símbolos como a cruz e as imagens sagradas e os cânticos usados nas cerimônias religiosas as diferenciam das ações cotidianas e, desse modo, ajudariam o cérebro a percebê-los como eventos mais significativos. Esses acessórios ativam o sistema límbico, ora produzindo alegria e harmonia, ora tensão e medo, facilitando a transição para os estados alterados de consciência.
E as experiências transcendentais não estariam restritas aos círculos de iniciados, mas são comuns mesmo entre as pessoas que não são religiosas. Na década passada, uma pesquisa do Instituto Gallup apurou que 53% dos americanos adultos admitiam já ter vivenciado um momento de súbito despertar espiritual ou insight, um lampejo intuitivo. Os relatos dessas experiências aumentavam com a idade, a educação e a renda das pessoas ouvidas. Apesar de não existirem dados precisos sobre o assunto no Brasil, seria razoável admitir que uma sondagem do gênero poderia registrar percentuais ainda maiores que os da pesquisa americana, se considerarmos que a crença em Deus é compartilhada por 99% da população, segundo apurou o Instituto Vox Populi no semestre passado – e o país é um celeiro mundial de religiões mediúnicas.
Os pesquisadores acreditam que não existe um só homem com as funções cerebrais em dia que não tenha experimentado um estado de êxtase semelhante aos dos místicos. Lembra aquele grito de gol que você deixou sair no meio da torcida organizada do seu time? Pois é, aquela impressão de que o tempo parou e você ficou maior que o estádio, enquanto berrava? É a mesma que, desde o início deste texto, estamos chamando de sensação de unicidade. E aquele arrepio que tomou conta de você ao cantar o hino nacional naquela passeata? Até quando você dança ou ouve um discurso empolgante – enfim, quando está diante de algum recurso que desperte o sistema límbico – é possível sentir, pelo menos parcialmente, o que os místicos costumam vivenciar quando buscam Deus.
Newberg e D’Aquili estudaram essas variantes e concluíram que isso acontece com pessoas absolutamente saudáveis. Os portadores de psicoses, como os esquizofrênicos, podem até entrar em transe, ter visões e ouvir vozes. Mas, nesse caso, segundo os pesquisadores, o fenômeno, relacionado a processos obsessivos, é repetitivo e torturante e não espontâneo e criativo como ocorre nas experiências místicas. Robert Formam, especialista em religiões comparadas do Hunter College de Nova York, diz que os indivíduos que passaram por uma experiência mística se mostram mais abertos a inovações e apresentam um grau maior de tolerância com a ambigüidade e a incerteza. Em compensação, diz o psicólogo David Wullf, eles também teriam mais dificuldade em distinguir o que é imaginação do que é real.
OK. Depois de tudo o que foi escrito, podemos então dizer que o funcionamento do cérebro explica todas as sensações que, ao longo de milênios, o homem tem atribuído aos deuses e a outras forças imponderáveis? Não é bem assim. No fundo, a polêmica continua. O que mudou foram os novos argumentos trazidos pela neuroteologia.
Proponha-se a questão a um neurofisiologista convencional, como o professor Luis Eugênio Mello, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e a resposta virá, taxativa: “As experiências místicas têm relação direta com o efeito placebo, que pode ser gerado por condicionamento ou por expectativa. O fato de se acreditar que alguma coisa vai acontecer acaba gerando conseqüências sobre as reações fisiológicas”. Luis Eugênio não aceita a hipótese de que o cérebro foi “meticulosamente preparado” para a experiência transcendental, como acredita Newberg, e acha que se temos essa predisposição à fé ela surgiu “por acaso”, usando áreas relevantes para outros processos neurais. Idéia semelhante têm ateus e materialistas, para os quais o denominador comum de todos aqueles fenômenos é o cérebro e nada mais.
“Não podemos dizer que eles estão errados”, afirma Newberg. “Nem que estão errados os que acreditam na existência de algum tipo de interação do cérebro com algo divino.” O único consenso, por enquanto, é que todas as nossas experiências, sejam as da realidade concreta sejam as místicas, ocorrem em nossa estrutura cerebral. A neuroteologia, no entanto, levanta suspeitas sobre o que poderia ser uma dimensão da consciência além dos lobos e feixes de neurônios, a partir da constatação de que a consciência persiste quando o indivíduo perde a noção do “eu” e os sentidos deixam de funcionar.
O fato de as experiências espirituais estarem associadas à atividade dos neurônios não quer dizer, necessariamente, que tais experiências são meras ilusões neurológicas, segundo Newberg, mas certamente que a engrenagem cerebral possui um mecanismo para a transcendência. “A questão central é determinar se a atividade neurológica associada à experiência espiritual significa que o cérebro é a causa dessa experiência ou se, em vez isso, está percebendo uma realidade além do corpo”, acrescenta o cientista. Até que se alcance um consenso, só a fé, seja numa teoria científica seja num dogma, será capaz de responder se Deus é uma criação do nosso cérebro ou se o nosso cérebro foi criado por Deus.
Frases
O cérebro de uma freira se altera quando ela se concentra em uma oração
Na década passada, uma pesquisa do Instituto Gallup revelou que 53% dos americanos de diversas religiões já vivenciaram um momento de súbito despertar espiritual
Ninguém precisa ser religioso para ter uma experiência transcendental
O poder do mito
Em todas as épocas e em toda parte, o homem compartilhou a idéia do sagrado e encontrou nas mitologias uma forma de resolver seus conflitos
Há 50 000 anos, os neardentais que vagaram entre a África, a Ásia e a Europa, tornaram-se as primeiras criaturas a sepultar seus mortos com cerimônia. Junto com os corpos, eles enterraram ferramentas, armas, roupas e outros suprimentos que deixaram para a posteridade uma dúvida: teriam os nossos primos da Idade da Pedra equipado os defuntos com utensílios por acharem que, além do túmulo, eles continuariam a viver?
É significativo que tais esboços de prática religiosa, os mais antigos de que se tem notícia na história, estejam associados a esse grupo. Segundo Andrew Newberg, em seu estudo sobre o “circuito espiritual” do cérebro, eles foram os primeiros a possuir uma estrutura cerebral suficientemente poderosa para compreender a morte, dotada de um lobo parietal semelhante ao nosso, e, portanto, habilitada a processar as construções mitológicas. Em resumo: sabiam diferenciar a vida da morte e transcender a essa com a crença na imortalidade. Milhões de anos antes, outro ancestral humano, o Australopithecus, também chegou a exibir um lobo parietal desenvolvido mas, ao que parece, jamais foi capaz de produzir algum tipo de cerimônia elaborada. Faltava-lhe a estrutura neuronial necessária à linguagem, outro detalhe fundamental no desenvolvimento dos mitos.
Com o lobo parietal, possibilidades opostas – por exemplo, vida-morte, existência do predador-não-existência do predador – foram resolvidas por meio das mesmas funções cognitivas usadas para perceber o mundo físico. Como conseqüência, isso pode ter induzido a mente a transformar idéias em convicções e possibilidades em crenças. Os mitos e a própria religião seriam, dessa forma, quase uma conseqüência da evolução da nossa espécie. Isso explicaria, então, porque os mitos estão presentes em todas as culturas humanas.
Pascal Boyer, professor da Universidade Washington, em Saint Louis, Estados Unidos, é um dos poucos pesquisadores que discordam dessa “inevitabilidade biológica” para a crença nos mitos. No livro Religion Explained (A religião explicada, ainda não traduzido para o português), Boyer diz que a suposta universalidade de tais conceitos é apenas o efeito de uma seleção aleatória. A experiência humana, afirma, teria gerado um gigantesco arquivo de informações que o homem só conseguiu preservar parcialmente, em meio a milhões de mensagens perdidas, esquecidas, ignoradas, distorcidas e, algumas vezes, inventadas por nada. Formou-se então, segundo Boyer, uma sopa de representações e mensagens das quais só algumas acabaram fixando-se no imaginário coletivo. Seria o caso de alguns mitos religiosos.
Joseph Campbell, o renomado especialista em religiões autor dos livros As Máscaras de Deus e O Poder do Mito, foi um dos primeiros pesquisadores a destacar a universalidade de algumas dessas narrativas. Virgens que concebem enviados divinos, dilúvios, expulsões do paraíso, regiões celestes e infernais, tentações demoníacas e ressurreições não seriam exclusividade da Bíblia judaico-cristã. São argumentos mitológicos que se repetem nas diversas tradições religiosas do planeta e têm origem, segundo Campbell, em aspirações e crenças comuns. Veja-se, por exemplo, o episódio da tentação de Cristo. O Evangelho narra que Jesus retirou-se para orar no deserto e ali, durante 40 dias, foi assediado por Satanás, disposto a desviá-lo do seu propósito mediante a oferta de poder e prazeres. Cristo sobreviveu ao cerco e retornou fortalecido para cumprir sua missão. Cinco séculos antes, conforme a tradição budista, o jovem príncipe Sidarta enfrentou provação semelhante.
Ao exilar-se na floresta para meditar, durante 40 dias ele combateu as insinuações do demônio Mara, obstinado em tirá-lo da sua busca. Sidarta resistiu e alcançou a meta da iluminação espiritual, tornando-se Buda.
São igualmente universais certos elementos da ritualística religiosa, como a música e os movimentos ritmados, importantes na estimulação do sistema límbico que levariam ao estado de transe. Durante a história, a humanidade experimentou transes provocados pelo canto, pela dança ou por plantas alucinógenas. Alguns pesquisadores dizem que a perda desse costume – ainda preservado pelo espiritismo, os cultos afro-brasileiros, os evangélicos pentecostais e os católicos carismáticos – pode ter sido nociva ao homem.
“Trata-se de uma perda perigosa”, diz o doutor em Antropologia da Religião José Jorge de Carvalho, da Universidade de Brasília. “As pessoas que praticam o transe formam uma grande reserva de autocontrole. Muitas são capazes de enfrentar situações de adversidade extrema sem se estressarem.” A ênfase dada à racionalidade na civilização moderna privilegia as atividades do córtex cerebral mas, de acordo com José Jorge, o córtex é eficiente para mapear e controlar o mundo externo, não para lidar com o mundo interior, o mundo das emoções. “No transe, o cérebro emocional é exercitado”, diz José Jorge.
No passado, acredita Newberg, o sentimento e as práticas místicas foram fundamentais para a própria sobrevivência e evolução da humanidade, ainda que as religiões estejam associadas aos conflitos mais sangrentos da civilização. Os rituais ajudaram a reduzir a agressividade dos membros do grupo e a estabelecer laços sociais fortes entre eles. Evitaram a dispersão e facilitaram o esforço coletivo como nenhum outro recurso. “O poder dos mitos está no fato de que seus símbolos e temas nos conectam à parte mais essencial de nós mesmos de um modo que a lógica e a razão, sozinhas, não conseguem fazer”, diz Newberg.
Frase
Os mitos seriam uma conseqüência natural da evolução humana
Para saber mais
Na livraria
Why God Won·t Go Away, Andrew Newberg e Eugene D·Aquili, Ballantine Books, EUA, 2001
Religion Explained, Pascal Boyer, Basic Books, EUA, 2001
O Universo Autoconsiente, Amit Goswami, Rosa dos Tempos, Rio de Janeiro, 2001
O Tao da Física, Fritjof Capra, Cultrix, São Paulo, 1999
Na internet