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Puns contaminam um ambiente esterilizado? Depende da sua calça

Pesquisadores testaram na prática a toxicidade de flatulências e cravaram: com a exceção do mau odor, nada é capaz de ultrapassar a barreira de tecido

Por Guilherme Eler
Atualizado em 11 mar 2024, 16h41 - Publicado em 4 out 2017, 19h18

Foi durante um programa da rádio australiana Triple J que Karl Kruszelnicki revelou o momento mais emblemático de sua carreira como médico. “Tudo começou com o questionamento de uma enfermeira. Ela queria saber se estava contaminando o centro operatório quando soltava um punzinho silencioso durante o expediente.”

Por mais que não pareça, a pergunta sem noção tinha um fundo nobre: a preocupação de que os gases indesejados prejudicassem a saúde dos frágeis pacientes do hospital em que trabalhava, ainda nos idos de 2001. Passado o choque que a sinceridade da funcionária deve ter causado, a questão despretensiosa se tornou um objetivo científico real para Kruszelnicki: “Eu percebi que não sabia a resposta para essa pergunta. Mas estava determinado a descobrir”.

Auxiliado pelo microbiologista Luke Tennent, o médico decidiu iniciar um experimento ousado. Primeiro, pediu para que um amigo soltasse seu gás em duas placas de Petri (tipo esta aqui), cuidadosamente posicionadas a uma distância de 5 cm de seu traseiro. Na primeira rajada, o voluntário estava completamente vestido; na seguinte, ele tinha as calças arriadas.

Uma vez coletadas as amostras, bastava observar atentamente os efeitos da bomba de metano. No dia seguinte, a segunda placa de Petri já acusava uma colônia grande de bactérias, exclusivas do intestino e da pele. O recipiente que recebeu o pum soltado pela cobaia com roupa, porém, estava intacto. Bingo. As fibras do tecido da calça agiam mesmo como um filtro, não deixando passar adiante nenhum tipo de germe. Além disso, não havia muito do que se preocupar, já que as bactérias encontradas não eram nocivas aos humanos. Dos dois micróbios detectados, um deles vinha do pum em si, e o outro, do efeito que o vento causa na pele – arrastando consigo a bactéria que estivesse na hora e lugar errados.

Era a resposta que Kruszelnicki precisava. Ou melhor, o consolo que a pobre enfermeira incontinente queria ouvir. Não era preciso se preocupar tanto com o timing de suas flatulências. Desde que fabricado por uma pessoa devidamente vestida, o gás tóxico não causaria infecções ou algo do tipo nos frágeis pacientes – faria, no máximo, os presentes darem uma torcidinha de nariz.

“Mas o que tenho a ver com tudo isso?”, você, leitor que chegou ao fim do texto, deve estar se perguntando. Há duas possibilidades. Quem trabalha na área da saúde pode continuar expressando sua felicidade da forma como achar conveniente, mesmo enquanto estiver no batente. Já quem costuma pisar em hospital só quando a coisa aperta, também ganhou um respiro. Ainda que algum dos médicos ou enfermeiros resolvam se aliviar na hora H, seu quadro clínico deverá permanecer o mesmo.

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