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Queda de nave israelense espalhou milhares de tardígrados pela Lua

Do alto de seu meio milímetro de tamanho, tardígrados são as criaturas mais resistentes da Terra. E, com sorte, têm chances de retornar intactos de uma visita ao espaço.

Por Guilherme Eler
Atualizado em 12 mar 2024, 14h45 - Publicado em 7 ago 2019, 16h29

Qual é o bicho mais resistente que existe? Não, não são as baratas. Principalmente em um planeta onde vivem os tardígrados – simpáticos seres gorduchinhos como este que você vê na foto acima. Primos distantes dos artrópodes, eles costumam ter entre 0,5 e 1,2 milímetro de tamanho e sempre a mesma aparência: corpos rechonchudos de onde emergem oito pernas e pequenas mãozinhas – além de uma espécie de “esfíncter” onde deveria ser o rosto.

Eles, sim, já deram diversas provas de que merecem o título, sobretudo pela habilidade de viver tranquilamente em situações extremas. Índices de radiação que poderiam matar humanos; temperaturas escaldantes ou o frio Antártico, aridez extrema, longos períodos sem comer e até mesmo a queda de um asteroide. Nada disso é páreo para os tardígrados.

Sua capacidade de adaptação é tamanha que, em 2019, eles foram escolhidos para um experimento ousado. Uma nave israelense que tinha como destino final a Lua, a Beresheet, levou na bagagam uma “biblioteca lunar”, contendo milhões de arquivos digitais sobre o planeta Terra, amostras de DNA humano e um lote de milhares de tardígrados desidratados. Era a grande oportunidade de provar se esses seres microscópicos, além de dominarem climas extremos na Terra, podiam também viver no espaço.

Os prognósticos eram promissores. Em 2007, cientistas já haviam demonstrado que tardígrados poderiam sobreviver às condições que encontrariam em uma viagem ao espaço. Mesmo após serem bombardeados por altas doses de radiação, temperaturas abaixo de zero e viverem no vácuo alguns dias, eles permaneceram firmes e fortes.

O problema é que a Beresheet não concluiu sua missão original e, em vez de pousar placidamente na Lua, se espatifou por lá no último dia 11 de abril. A queda teria espalhado o carregamento de tardígrados pela superfície lunar.

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A grande notícia é que, a tal “biblioteca lunar” que o veículo carregava sobreviveu. E, de acordo com o que disse à revista Wired Nova Spivack, fundador da missão que bancou a ida dos tardígrados a Lua, os bichinhos (presos em âmbar e em uma fita adesiva) também não morreram. E podem, ainda, voltar à vida se tirados do estado de dormência em que se encontram.

Tardígrados têm a estranha habilidade de perder quase toda a água do corpo e reduzir drasticamente seu metabolismo – entrando numa espécie de “animação suspensa”. Esse estado letárgico, conhecido pela ciência como criptobiose, é que os permite sobreviver em condições que, normalmente, poderiam ser fatais. Como viagens ao espaço, por exemplo.

Uma vez colocados na água, os animais se tornam ativos novamente – recuperando a capacidade de se alimentar e se reproduzir como sempre fizeram. Mas não há a possibilidade de que os tardígrados tomem conta da Lua e iniciem por lá uma civilização extraterrestre. Como não há atmosfera e água em estado líquido na superfície, eles não conseguem se reproduzir, permanecendo na situação de animação suspensa em que estão.

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O que se especula agora, porém, é se seria possível buscá-los na Lua e devolvê-los à vida. Duvida que os bichinhos conseguiriam sobreviver a mais essa prova? É melhor pensar de novo. Há casos de tardígrados ressucitados após passarem 30 anos congelados, por exemplo.

Quanto tempo eles aguardarão na superfície lunar, ou se a chegada de humanos benevolentes será suficiente para trazê-los de volta, só o tempo irá dizer. Enquanto eles estiverem ali, no entanto, poderemos afirmar sem medo que existe, sim, vida na Lua – para além dos micróbios presentes nos 96 sacos de fezes, vômito e urina que os astronautas deixaram por lá.

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