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Ressurreição

Visionários querem preservar o corpo de pessoas que acabaram de morrer para trazê-las de volta daqui a décadas ou séculos

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h50 - Publicado em 15 set 2014, 22h00

Texto Reinaldo José Lopes

Para judeus, cristãos e muçulmanos, todas as pessoas que já morreram estão em “stand by”, esperando a ressurreição dos mortos, mas um grupo de 167 defuntos nos EUA (e mais alguns espalhados por outros lugares do mundo) resolveu não deixar a possibilidade nas mãos de Deus. O corpo inteiro (ou, em algum casos, só a cabeça) desses sujeitos foi submetido a temperaturas de quase 200 graus Celsius negativos, equivalentes às do nitrogênio na forma líquida, pela bagatela de US$ 150 mil. A esperança de tais pessoas é que, nessas condições, seu cérebro e órgãos sejam preservados, de forma que elas possam voltar à vida como se tivessem dormido um longo sono. O plano dá um ótimo roteiro de ficção científica, mas será que tem alguma chance de dar certo?

A resposta curta é um sonoro “não sabemos”, com uma boa dose de ceticismo embutida na frase. Muitos médicos e biólogos consideram esse tipo de tentativa de ressurreição como charlata-nismo, e os problemas técnicos a ser enfrentados são gigantescos. Mas, ao menos em princípio, o raciocínio de quem defende a colocação de recém-defuntos na geladeira faz sentido.

A razão disso é simples. “Pelo que sabemos, tudo o que os seres humanos são, sua consciência, memórias e sentimentos, depende da base física do cérebro para existir”, diz o psicólogo Paul Bloom, da Universidade Yale (EUA). A alma, tão importante para muitas religiões, pode até existir, mas, no mínimo, depende do cérebro para funcionar. Se a base física da nossa consciência puder ser preservada e “reinicializada”, como se faz com um computador, então a lógica se torna inescapável: sim, a ressurreição tecnológica é possível.

Morte cerebral, pero no mucho

Talvez você esteja se perguntando, mesmo assim, se não é meio perda de tempo congelar (ou “preservar criogenicamente”, como preferem os adeptos da prática) uma pessoa que teve morte cerebral. Segundo os defensores da criogenia, como Benjamin P. Best, da ong americana Cryonics Ins-titute, é importante lembrar que, mesmo quando a atividade cerebral cessa, a morte está longe de ser um fenômeno instantâneo. Como sabemos pela experiência com transplantes de órgãos, as células de várias partes do corpo continuam vivas por várias horas; até os neurônios do cérebro só “morrem” de vez, passando pelo processo conhecido como apoptose, ou morte celular programada, após períodos bem longos de tempo.

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Além disso, as organizações de criogenia dizem conseguir evitar danos às células, como a formação de cristais de gelo, usando substâncias anticongelantes, as quais impedem que o gelo se acumule de forma danosa enquanto, ao mesmo tempo, garantem a temperatura baixa necessária à preservação do corpo. Tudo isso pode até estar correto, mas é importante lembrar que não só os neurônios do seu cérebro que permitem o funcionamento da mente. O tipo e a quantidade de co-nexões entre eles também são essenciais. Pelo que sabemos hoje, essas conexões, ou sinapses, são formadas por moléculas orgânicas relativamente voláteis, talvez incapazes de sobreviver até à forma mais delicada de congelamento.

É claro que os entusiastas da criogenia não se deixam vencer por isso. Eles apostam no desenvolvimento de robôs microscópicos, capazes de viajar pelo organismo e corrigir quaisquer falhas em sinapses e outros detalhes celulares, permi-tindo uma ressurreição sem sustos para os defuntos congelados (leia mais sobre isso na página 58). Ainda é cedo para dizer se eles têm razão.

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