Se os ETs existem, por que não fazemos contato?
A galáxia é absurdamente grande. O Universo, então, nem se fale. A vida inteligente deve estar por todo lado. Quer dizer, deveria
Texto Salvador Nogueira
Os números são avassaladores. Existem cerca de 200 bilhões de estrelas na Via Láctea. E a Via Láctea é apenas uma de centenas de bilhões de galáxias em todo o Universo observável. Aparentemente, os elementos essenciais à vida estão disponíveis de forma abundante em todo o Cosmo. Como não acreditar que existem formas de vida alienígenas? Ao ouvir tudo isso de seus entusiasmados colegas durante o almoço, o físico ítalo-americano Enrico Fermi perdeu a paciência: “Está bem, está bem. Mas, se é assim, então onde estão eles?!”
“Com essa simples pergunta, ele condensou um grande problema para a Seti [sigla inglesa de busca por inteligência extraterrestre]”, afirma David Grinspoon, do Southwest Research Institute, no Colorado (EUA). A pergunta de Fermi foi feita em 1943, e até hoje os cientistas não encontraram resposta convincente – o que é sempre um embaraço para os pesquisadores que tentam encorajar o financiamento do uso de radiotelescópios para procurar sinais de rádio emitidos por civilizações alienígenas. O paradoxo de Fermi, como acabou ficando conhecido, evoca muitas reflexões, algumas não muito animadoras, a respeito da vida inteligente no Universo.
A hipótese da raridade
Como gostava de lembrar o saudoso astrônomo americano Carl Sagan, ao defender as contínuas “escutas” em busca de sinais extraterrestres, “ausência de evidência não é evidência de ausência”. Verdade. Mas pode muito bem ser evidência de raridade.
Hoje, muitas das estrelas mais próximas da Terra já foram analisadas com os radiotelescópios mais poderosos que temos por aqui e nenhuma sinalização artificial foi detectada. É bastante provável que não exista, pelo menos nas vizinhanças cósmicas, alguém com capacidade de transmitir sinais para nós. As civilizações que estão por aí, por serem muito raras, acabariam surgindo muito distantes umas das outras, de modo que a comunicação por rádio se tornaria virtualmente impraticável.
A hipótese da autodestruição
Durante os anos 40, o físico americano Philip Morrison trabalhou no Projeto Manhattan, que criou as primeiras bombas atômicas. Em 1959, em parceria com Giuseppe Cocconi, ele foi o primeiro a sugerir que a melhor forma de “telefonar” para os ETs seria com sinais de rádio, numa freqüência específica. A ironia é que Cocconi teve essa idéia só depois de criar a bomba.
Até agora, mais de meio século após a detonação das primeiras armas nucleares, ainda estamos por aqui para contar a história. A pergunta é: até quando? A ausência de sinais alienígenas evoca em alguns a noção de que não há ninguém lá fora porque, no momento em que uma civilização tem meios para procurar outras no Cosmos, ela também tem formas de se autodestruir. E que, supostamente, cedo ou tarde, ela acabaria caindo na tentação de usar esse arsenal.
A hipótese da tv a cabo
Desde o início da era dos satélites de comunicação, temos usado nossos transmissores para enviar sinais para o espaço. Ficou claro, no século 20, que essa também é a melhor forma de tentar nos comunicar com outras civilizações – e também que elas poderiam detectar nossa presença se tivessem como sintonizar suas antenas para acompanhar nossos programas.
Só que isso talvez seja apenas um viés criado pela época em que vivemos. Hoje, por exemplo, as transmissões via satélite estão sendo trocadas por sinais via cabo. Será que os ETs também não descobriram que havia meios mais fáceis de trocar sinais entre si? Será também que, depois disso, concluíram que havia formas melhores de se comunicar com o espaço? Há quem diga que sinais de laser ou outros meios podem ser melhores que sinais de rádio para um chat interestelar.
4,2 anos-luz é a distância entre a Terra e Proxima Centauri, a estrela menos distante de nós – a qual pode ser inabitável.