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Seu cachorro tem mais chances de morrer de câncer do que você

Mas calma, isso não quer dizer que ele vai bater as patas em breve.

Por Pâmela Carbonari Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 11 mar 2024, 11h23 - Publicado em 8 ago 2016, 16h15

Vocês moram juntos, passeiam juntos, respiram o mesmo ar, tomam a mesma água, têm muito mais semelhanças físicas do que imaginam e podem desenvolver várias doenças em comum. Ninguém gosta de pensar nisso, mas seu cachorro um dia também vai morrer e, se for de uma doença, é provável que seja de câncer.

Não é Nostradamus – a profecia da causa mortis é científica: seu cãozinho tem 10 vezes mais possibilidades de desenvolver um tumor do que você. Um estudo realizado pela Universidade de Utah em conjunto com a Universidade da Carolina do Norte constatou que, nos Estados Unidos, a cada 100 mil pessoas, 500 morrem de câncer. Já no meio animal, são 5.300 óbitos para cada 100 mil cachorros. A pesquisa também demonstrou que câncer é a principal causa de morte canina, seguida de doenças muscoesqueléticas, como artrose e reumatismo, e neurológicas. E a incidência de tumores só aumenta.

Calma, isso não quer dizer que seu cachorro vá bater as botas (ou melhor, as patas) em breve. Pelo contrário. Uma das poucas explicações para o aumento da incidência de tumores é positiva: eles estão vivendo mais. De acordo com um estudo feito com 120 mil animais no hospital veterinário Sena Madureira, em São Paulo, a expectativa de vida dos cachorros dobrou nos últimos 30 anos – se na década de 1980 um cão pequeno não passava dos nove anos, hoje eles atingem os 18 anos e os maiores chegam a 13 anos.  E, quanto mais velhos, mais suscetíveis eles estão.

“No início da evolução humana morríamos mais de doenças infecciosas, causadas principalmente por agentes externos como bactérias, fungos e parasitas. Com o aumento da expectativa de vida e a melhora da medicina, passamos a morrer mais de doenças degenerativas. O mesmo está acontecendo com os cachorros”, compara o veterinário Marcello Tedardi, do Registro de Câncer Animal de São Paulo (RCA-SP).

Outro fator que interfere na relação cachorros versus câncer são as raças. Imagine um Chihuahua e um Pastor Alemão, é difícil listar o que esses dois têm em comum, não é mesmo? Poucas espécies de mamíferos apresentam características físicas tão diferentes entre si quanto os cachorros e, dessas variações de fenótipo, partem predisposições a doenças distintas e manifestações diversas da mesma doença, como é o caso do câncer. Uma pesquisa da Universidade da Georgia mapeou as causas de morte de 74 mil cães ao longo de 20 anos na base de dados dos hospitais universitários de veterinária do país e descobriu que as raças que mais tiveram câncer foram Berneses e Goldens Retrievers – na lista, o mais conhecido pelos brasileiros é o Boxer.

Raças com maior incidência de câncer

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Para o diretor da Associação Nacional dos Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (ANCLIVEPA-SP), Lucas de Araújo Freitas, não é à toa que a maioria dos cachorros com câncer seja de grande porte. “Raças grandes têm mais predisposição para desenvolver doenças nos ossos. Osteossarcomas são tumores malignos muito frequentes e tendem a aparecer em ossos que sustentam estruturas maiores e nos locais de crescimento dos ossos. Animais de grande porte costumam ter traumas nessas regiões, dentre outras coisas, devido ao peso e o crescimento rápido”.

Um estudo semelhante foi desenvolvido na Inglaterra pelo Royal Veterinary College para entender o que interfere na longevidade dos cachorros domésticos. Por lá, a principal causa de morte também foi câncer, seguida de doenças relacionadas à velhice e problemas cardíacos. Ao longo da pesquisa, os veterinários perceberam que cães de raças puras tinham menos tempo de vida e eram mais propensos a ficarem doentes. Enquanto isso, os vira-latas eram mais saudáveis e viviam 1,2 ano a mais.

Essa supremacia vira-lata pode ser explicada pela diversidade genética, o chamado vigor híbrido, presente nos cachorros que não têm uma raça definida. Com pais de linhagens diferentes, as possibilidades dos genes predispostos a problemas se manifestarem são menores e, consequentemente, as de terem câncer também.

“Os cruzamentos para obter animais de raça pura geralmente são consanguíneos, entre pais e filhos ou ninhadas próximas. Assim, os genes da raça são preservados e passados adiante, mas isso aumenta as chances de transmitir aos filhotes as características recessivas, aqueles genes que podem ter algum problema ou propensão a determinadas doenças. Isso não acontece entre os vira-latas, a mistura de heranças genéticas faz com que eles sejam mais saudáveis”, afirma a professora Maria Lúcia Dagli, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP. 

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Tal cão, tal dono

O câncer se manifesta em cães da mesma maneira que em humanos: uma célula sofre alteração em seu código genético e fica mais vulnerável a se tornar cancerosa. Ganha uma forcinha de uma herança propensa a doença e um (ou mais) hábito que acelere a formação do tumor. Então, quando o sistema imunológico baixa, essa mesma célula que sofreu alteração nos cromossomos pode começar a se multiplicar. O acúmulo dessas células modificadas forma um tumor maligno, se propaga e vai invadindo tecido por tecido até atrapalhar o funcionamento do órgão todo.

É difícil prever se você vai ter câncer ou não. Mas todo mundo sabe que fumar, beber, se expor demais ao sol, fazer sexo sem proteção e levar uma vida estressante nos torna ainda mais vulneráveis. Entre os animais, os fatores de risco não mudam (embora ainda não se tenha notícias de cachorros preocupados com o vencimento do aluguel por aí). Mas o canil não é outro mundo, é a sua casa e eles são sensíveis como você: cães que moram em regiões poluídas ou cujos donos são fumantes estão mais propensos a ter tumores de pulmão. Raças com pelo claro apresentam mais melanomas. Aqueles com dietas desequilibradas podem desenvolver câncer de cólon, bexiga ou rins. “Como eles vivem grudados nos donos, são sentinelas da exposição que o homem sofre. É interessante estar atento ao organismo deles para prevenir o que pode acontecer conosco”, defende a professora Dagli.

Incidência câncer

De olho neles

Quando um cachorro é diagnosticado com câncer, ele é submetido à cirurgia para retirada dos tumores e, dependendo do caso, faz quimio e radioterapia – o tratamento é feito com os mesmos medicamentos que os médicos usam em pacientes humanos, o que muda são as proporções. “Mesmo com doses menores, metade deles sente os efeitos típicos da quimio, como perda de pelo, diminuição de apetite, vômito e diarreia. Depois do tratamento, inclusive, podem nascer pelos mais claros, mais escuros, mais lisos, mais enroladinhos ou de outra cor”, diz a veterinária Renata Setti, especialista em oncologia para cães e gatos. O tratamento costuma durar de três a seis meses e, em São Paulo, custa cerca de R$ 800 por mês mais o valor da cirurgia, que varia de R$ 1 mil a R$ 2 mil. 

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Como toda doença, as chances de cura aumentam quando ela é descoberta nos primeiros estágios. Por isso, o ideal é que os donos levem seus cães aos consultórios uma vez por ano, fiquem atentos às mudanças no comportamento do cachorro e ao aparecimento de nódulos (ver quadro abaixo).

Os veterinários também sugerem passar protetor solar nos bichos de pelo claro. A ideia parece um tanto absurda, mas é isso mesmo: atenção especial à área das orelhas e da barriga. Outra proteção é castrar os animais. O tumor venéreo transmissível (TVT) passa por relação sexual, é muito frequente no Brasil e pode ser evitado se o cachorro for castrado – sexo protegido ainda não é uma realidade no mundo animal, então a castidade após a retirada dos testículos acaba sendo uma forma de proteção. O câncer de mama também é prevenível: se a cadela fizer a operação antes dos seis meses de vida, as possibilidades de desenvolver o tumor são quase nulas.

“A principal diferença entre uma pessoa com câncer e um cachorro com câncer é o fator psicológico. Quando faço o diagnóstico de um animal doente, eles não ficam preocupados com a gravidade da doença nem perdem resistência com isso”, conta Renata Setti. Não estigmatizar o câncer é meio caminho andado. Até porque, na matemática dos diagnósticos, quem teme a doença somos nós – nossos melhores amigos não.

Sintomas

 

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