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Startup de Elon Musk quer hackear o cérebro humano

Neuralink está desenvolvendo tecnologia para conectar a mente a um computador — e diz que ela poderá ser testada em humanos já em 2020

Por A. J. Oliveira
Atualizado em 17 jul 2019, 16h19 - Publicado em 17 jul 2019, 16h16

Desde que foi fundada em 2017 por Elon Musk e oito especialistas em neurociência e engenharia, a startup Neuralink esteve envolta em mistério. Seu grande objetivo sempre foi desenvolver uma interface cérebro-máquina: sistema de transmissão de dados capaz de captar a atividade elétrica dos neurônios e conectá-la a um computador. Mas, até a noite desta terça (16), ninguém sabia ao certo como isso poderia ser feito. 

Em uma coletiva de imprensa organizada em São Francisco, Musk revelou os primeiros detalhes sobre a tecnologia em que a empresa vem trabalhando, os estudos conduzidos até agora e, é claro, não deixou de compartilhar algumas ideias de onde pretende chegar. 

Alguns spoilers: ciborgues e telepatia podem se tornar realidade daqui a algumas décadas. Mas nem todos têm a mesma visão futurista e civilizacional da tecnologia como a de Musk. Por exemplo, Matthew McDougall, neurocirurgião-chefe da Neuralink, fez questão de frisar durante o evento que a interface será destinada exclusivamente a pacientes com condições médicas graves e sem cura, como paralisia causada por lesões na coluna espinhal.

Para conectar a mente de uma pessoa a um computador, é preciso enfiar eletrodos dentro do cérebro e fazer com que registrem e transmitam os sinais neuronais. Só que o cérebro não costuma se dar bem com essas estruturas. Isso porque, com a movimentação do indivíduo, o cérebro se mexe um pouquinho dentro da caixa craniana – e isso faz com que os eletrodos entortem, sofrendo danos, ou acabem machucando o tecido cerebral.  

Para contornar o problema, a Neuralink criou cabos maleáveis, com um quarto do diâmetro de um fio de cabelo humano, que contêm dezenas de eletrodos em seu interior. Os pesquisadores a serviço de Musk também criaram um robô para implantar esses filamentos ultrafinos no cérebro, sob a supervisão de um médico. Até agora, o equipamento só foi testado em ratos – oficialmente.

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De acordo com a empresa, o robô neurocirurgião já implantou os eletrodos em 19 animais, tendo obtido uma taxa de sucesso de 87%. A Neuralink diz ter conseguido monitorar 1,5 mil neurônios ao mesmo tempo (mas não liberou dados comprovando isso). Musk deixou escapar que um macaco também foi submetido ao procedimento, e conseguiu controlar o computador apenas com o cérebro. Agora, a startup diz que está pronta para testar a interface cérebro-máquina em humanos.

Para isso, vão precisar mostrar à FDA, agência federal que controla a saúde nos EUA, que o equipamento é seguro e será útil aos pacientes, além de convencer voluntários a se submeterem ao procedimento. Eles receberão quatro furinhos de oito milímetros no crânio, por onde os fios vão entrar, ligando os eletrodos a um implante inserido atrás da orelha. É esse dispositivo que transmite os dados neuronais para que o computador os decodifique.

Não é um processo simples, e o deadline estabelecido por Musk (segundo trimestre de 2020) provavelmente é apertado demais. Não será a primeira nem a última vez que uma de suas empresas terá de adiar um compromisso assumido em público. Desde 2017, o empreendedor já investiu US$ 100 milhões na Neuralink.

Ele acredita que precisaremos virar ciborgues para não sermos superados pela inteligência artificial. Se seus planos de aprimorar o cérebro humano derem certo, pode ser que, em um futuro relativamente distante, seja possível aprender uma nova língua fazendo o download dela dentro de sua cabeça, ou se comunicar usando apenas a força do pensamento. Difícil será impedir que hackers e empresas invadam o único lugar onde ainda temos privacidade.

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