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Startups investem no desenvolvimento de leite materno em laboratório

O produto, obtido através de células mamárias, promete ser mais nutritivo do que as fórmulas infantis – mas não substitui o leite materno natural.

Por Carolina Fioratti
14 set 2020, 21h44

A ideia de produzir comida em laboratório não é nova. Algumas empresas, como a Beyond Meat e Fazenda do Futuro, já expõem carnes artificias nos corredores dos supermercados. No entanto, duas startups foram além e estão investindo na produção de leite humano a partir de células mamárias para a alimentação de bebês. 

Os pediatras recomendam a alimentação só com leite materno até que o bebê complete seis meses de idade, mas nem sempre os pais ou responsáveis pela criança conseguem seguir isso à risca. Muitas mães deixam de amamentar antes de completar esse período por razões médicas, por estarem produzindo pouco leite, porque precisam voltar a trabalhar, entre outros fatores. 

Hoje, as fórmulas infantis (aqueles compostos em pó que devem ser misturados com água) são vistas como principais aliadas dos pais que não conseguem seguir com a amamentação, mas elas podem ganhar um novo concorrente: o leite materno artificial. Empresas do ramo prometem um alimento muito próximo daquele produzido pelas mães, além de ser mais nutritivo que o composto em pó. Algumas startups que investem nesse negócio são a Biomilq (EUA) e a TurtleTree Labs (Singapura), ambas fundadas em 2019. 

A premissa é similar à das carnes: elas produzem o alimento a partir de células animais e as misturam com componentes vegetais – a diferença é que, ao invés de carne, trata-se de leite materno. A Biomilq  cultiva diretamente as células mamárias adultas, encontradas nos ductos e lóbulos da mama, enquanto a TurtleTree inicia o processo por células-tronco, que são induzidas a se transformar em células mamárias. As duas empresas cultivam as células – que devem secretar o leite – em um fluido contendo nutrientes, vitaminas e hormônios da lactação. 

O testes feitos até agora apontam que as células produzem lactose e caseína – açúcar e proteína encontrados no leite, respectivamente. No entanto, o composto produzido em laboratório não inclui anticorpos ou microrganismos importantes para a saúde e proteção do bebê – eles ajudam a combater infecções e alergias, por exemplo. De toda forma, o objetivo é que as células possam produzir também gorduras, proteínas e oligossacarídeos do leite humano, que nada mais são do que carboidratos que contribuem para a função imune. 

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Outra limitação é que nem todo leite materno é igual. Sua composição varia dependendo da pessoa, de acordo com a dieta da mãe, ao longo das semanas e até dependendo da hora do dia. Na verdade, nem os cientistas sabem ao certo como as glândulas mamárias produzem os milhares de componentes presentes no leite materno. Uma das propostas da Biomilq é extrair células mamárias das mães antes do bebê nascer, fazendo um leite “personalizado” – mas nem isso substituiria o leite direto do peito.

O produto ainda está em fase experimental e fazer sua produção em escala industrial não será um serviço simples e nem barato. A TurtleTree, que pretende licenciar a tecnologia para fabricantes de fórmulas infantis, diz que o custo de cada litro de seu produto é de US$ 35, o equivalente a R$ 184. Uma lata com 800 gramas de fórmula infantil custa, no Brasil, cerca de R$ 60 e rende, aproximadamente, seis litros de leite. 

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