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TDAH pode ter sido uma vantagem evolutiva para nossos antepassados coletores

Transtorno que atinge até 8% da população mundial hoje pode ter surgido como uma adaptação estratégica de sobrevivência.

Por Caio César Pereira
23 fev 2024, 18h14

Em um mundo com estímulos pulsando na nossa frente o tempo todo (seja online ou fora das telas), prestar atenção em única coisa é cada vez mais difícil – principalmente para quem tem TDAH. Mas um estudo afirma que, no passado, essa desordem pode ter representado uma vantagem na busca de alimento. 

O trabalho, publicado na Proceedings of the Royal Society, mostrou que indivíduos com características de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade apresentaram melhores táticas de forrageamento (procura de recursos alimentares) do que pessoas mais neurotípicas. 

Para se chegar a essa hipótese, os pesquisadores realizaram o seguinte experimento. Eles selecionaram 457 participantes, que tinham como principal função coletar frutas silvestres de arbustos virtuais em uma tela de computador. Os participantes tinham que coletar o maior número de frutas possível em um determinado período de tempo.  

Sempre que um participante clicava em um conjunto de frutas, elas se esgotavam do arbusto. Aí, eles tinham que fazer uma escolha: continuar procurando por mais frutas no mesmo arbusto ou partir para procurar em outro. 

Os resultados mostraram que as pessoas com características similares ao TDAH tendiam a partir para a procura de frutas em outro arbusto, o que, ao final do experimento, as fazia ter mais frutas coletadas no geral. As pessoas neurotípicas, geralmente, permaneciam mais tempo procurando por frutas no mesmo arbusto.

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Isso levou à hipótese dos pesquisadores de que o TDAH evolui como uma espécie de adaptação de sobrevivência. Os traços dos indivíduos que exploravam novos lugares atrás de recursos teriam sido transmitidos para as gerações seguintes.

 

 

David Barack, neurocientista da Universidade da Pensilvânia e um dos líderes do estudo, explica que caso essas características do TDAH fossem prejudiciais, elas provavelmente teriam desaparecido com o passar da evolução. 

“Se [esses traços] fossem realmente negativos, então você pensaria que ao longo do tempo evolutivo, eles seriam selecionados contra. Nossas descobertas são um ponto de dados inicial, sugerindo vantagens em certos contextos de escolha”, conta em entrevista ao The Guardian.

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Isso ajudaria a explicar a incidência do TDAH em nossa sociedade hoje. Estima-se que entre 5% e 8% da população mundial apresenta esse transtorno. O que antes poderia ser uma vantagem adaptativa para sobreviver, ao explorar mais ambientes em busca de alimentos, hoje pode representar um problema.

De acordo com os pesquisadores, vivendo em ambientes com recursos abundantes como os de hoje, o comportamento de busca constante pode fazer com que as pessoas com TDAH mudem frequentemente entre diferentes tarefas, mas geralmente sem concluir nenhuma. 

Pesquisas anteriores também mostraram a correlação entre a exploração de novos ambientes com os níveis de atenção. Em uma delas, os pesquisadores estudaram ratos, e ao estimular a região no cérebro relacionada à maior atividade em quem tem TDAH, descobriram que os ratos costumavam deixar os ambientes de procura de alimento mais cedo. 

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Apesar dos pesquisadores reforçarem que ainda são necessários estudos mais profundos sobre o tema, as novas descobertas mostram que parte desse problema tão comum em nossa sociedade pode ter sido simplesmente fruto do acaso e das circunstâncias em que nossos antepassados viviam – e que refletem na gente hoje em dia.

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