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Terra já esteve perto de perder seu campo magnético

Há 565 milhões de anos, solidificação do núcleo do planeta deu novo gás ao processo responsável pelo magnetismo terrestre

Por Guilherme Eler
Atualizado em 31 jan 2019, 14h29 - Publicado em 30 jan 2019, 16h41

Sem um campo magnético, a vida na Terra seria inviável. É graças ao magnetismo do planeta, combinado a seu movimento de rotação, que existe a atmosfera, camada de ar que nos impede de ser completamente tostados pela radiação e sofrer com a influência dos ventos solares – partículas carregadas que o Sol emite. Sem esse escudo protetor, a Terra se tornaria um enorme descampado, como Marte, por exemplo, é hoje.

Parece um cenário distante, não é? Mas por muito pouco isso não aconteceu. Pelo menos é o que argumentam pesquisadores da Universidade de Rochester, nos Estados Unidos, em um novo estudo, publicado na revista científica Nature Geoscience.

Segundo o grupo, o campo magnético da Terra chegou a ser dez vezes mais fraco que o atual no final do período Ediacarano (entre 630 e 542 milhões de anos atrás). Por volta de 565 milhões de anos atrás, no entanto, teve início um fenômeno que impediu seu colapso definitivo: a solidificação do magma no interior da Terra, que ocasionou a formação do núcleo do planeta.

Pesquisas anteriores sempre apontaram para a ideia de que o núcleo interno de nosso planeta seria mesmo relativamente novo. Nos anos iniciais da Terra, há 4,5 bilhões de anos, seu interior era feito basicamente de magma – rochas em estado líquido. Por conta da diminuição da temperatura terrestre e consequente perda de calor, no entanto, a camada rochosa que hoje conhecemos como crosta e manto foi aumentando – deixando o magma represado em partes mais profundas.

Isso aconteceu porque, a partir de um certo momento – algo que os cientistas acreditam ter ocorrido entre 2,5 bilhões e 500 milhões de anos atrás – o ferro e o níquel do interior terrestre passaram a se resfriar, dando origem ao núcleo interno. A solidificação do núcleo fez com que elementos como sílica, magnésio e oxigênio fossem expulsos do centro, criando um movimento de convecção.

Esse fluxo de metais no centro do planeta mantém partículas eletrizadas em constante movimento, o que gera corrente elétrica e, por tabela, o campo magnético terrestre. É esse movimento de fluidos de rocha que explica, até hoje, a existência do magnetismo.

“Conforme a Terra foi se formando, a energia para manter o processo de convecção foi diminuindo aos poucos, até o ponto crítico de 565 milhões de anos atrás em que o campo magnético tinha intensidade extremamente baixa”, explicou John Tarduno, co-autor do estudo, em entrevista à revista Newsweek. “O crescimento do núcleo interno da Terra proveu uma nova fonte para a convecção e religou o ‘geodínamo’ do planeta”.

Ou seja: quando, há 565 milhões de anos, o movimento natural de minerais no interior terrestre estava quase cessando, o início do resfriamento do núcleo deu o empurrãozinho que a Terra precisava. Isso religou o sistema e colocou o movimento de convecção para funcionar novamente, moldando o campo magnético terrestre até que ele atingisse a força que tem hoje.

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Mas como é possível saber de um evento que aconteceu há quase 600 milhões de anos, você leitor, deve estar se perguntando. Para estimar essa data, cientistas analisaram partículas de cristais com o tamanho de um grão de areia, retiradas de uma rocha próxima a Sept-Îles, atual Quebéc, no Canadá, formada nessa mesma época geológica.

Amostras de minerais dessa rocha como plagioclásio (primo do feldspato) e piroxena (da família dos silicatos), mesmo milhões de anos depois, são, portanto, uma forma de mapear o campo magnético terrestre. Em sua composição, elas carregam partículas de ferro em formato de agulha. Aí está a chave: elas se alinham na rocha em um padrão que obedece a orientação do campo magnético da época de sua formação – um prato cheio para entender o comportamento do magnetismo da Terra no período.

Ao analisar as amostras com a ajuda de um equipamento chamado magnetômetro, usado para medir intensidade, direção e sentido de campos magnéticos, cientistas identificaram que a carga das partículas era muito baixa. Estimativas dos pesquisadores indicam que a força do campo magnético da Terra na época seria, mais precisamente, dez vezes mais baixa que atual – a menor já registrada pelos geólogos em todos os 4,5 bilhões de anos de história do planeta.

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A Terra segue perdendo calor desde então. É por isso que, daqui a alguns bilhões de anos, o miolo de magma do planeta tende a ficar cada vez menor pelo processo de resfriamento e solidificação – atrapalhando, de novo, o campo magnético. Isso, a menos que outro fenômeno do tipo dê conta de colocar o sobe e desce de minérios no interior terrestre de volta nos eixos. Como sempre acontece quando se trata de escalas geológicas, não devemos estar aqui para ver a história se repetir, é claro.

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