Um pequeno passo, mas uma grande aventura
Saiba tudo que os astronautas Neil Armstrong e Buzz Aldrin fizeram nas 21 horas que passaram em solo lunar, na primeira excursão realizada por seres humanos a outro mundo
O presidente americano Richard Nixon já tinha até o discurso pronto, dependendo do resultado do pouso da missão Apollo 11 em solo lunar, em 20 de julho de 1969.
“O destino quis que os homens que foram à Lua para explorá-la em paz ficassem na Lua para descansar em paz”, começava o documento, datado de 18 de julho, sob o cabeçalho “Em caso de desastre lunar”. “Esses bravos homens, Neil Armstrong e Edwin Aldrin, sabem que não há esperança para seu resgate. (…) Nos tempos antigos, os homens olhavam para as estrelas e viam seus heróis nas constelações. Nos tempos modernos, fazemos a mesma coisa, mas nossos heróis são homens épicos de carne e osso.”
Pois é, podem dizer o que quiserem de Nixon, mas o homem era mesmo precavido. O discurso, divulgado apenas em 2005, nunca precisou ser usado. Mas o simples fato de existir demonstra o tamanho do desafio e do risco envolvidos na primeira tentativa humana de pousar uma nave tripulada na superfície da Lua. Não havia garantia alguma de sucesso.
Uma espaçonave Apollo equipada para descida na Lua era composta de dois pedaços. Um era o módulo de comando, onde ficavam os 3 astronautas durante toda a viagem espacial. Essa nave entrava em órbita da Lua e ficava por lá, enquanto o outro pedaço, o chamado módulo lunar, levava apenas dois astronautas até a superfície. Um dos tripulantes tinha de ficar no módulo de comando e se certificar de que a nave estaria apta a levar o trio de volta à Terra, assim que a excursão lunar terminasse.
Para o pouco lembrado papel de “cuidar da lojinha”, enquanto Neil e Buzz (como era mais conhecido Edwin) desciam ao solo, foi escalado o astronauta Michael Collins. Enquanto ele orbitava solitário a Lua, Neil comandava o módulo lunar Eagle (“Águia”) no procedimento de descida – que não foi nada tranquilo. Durante a aproximação, o (pré-histórico) computador de bordo da nave insistia em disparar alertas, por causa de uma sobrecarga de dados. Neil prosseguiu com a descida, como se nada houvesse.
Ao se aproximar mais, a dupla notou que estava passando por certos marcos na superfície 4 segundos antes do previsto – o que, na prática, significava que eles iriam descer vários quilômetros além do ponto originalmente projetado para o pouso.
A cerca de 500 metros do chão, outro problema: o novo local que o computador indicava para a alunissagem (termo técnico para um pouso na Lua) estava cheio de rochas grandes e muito próximo à encosta de uma grande cratera. Sem alternativas Neil teve de assumir, de última hora, o controle manual da espaçonave e guiá-la até um local seguro para a descida.
Enquanto ele controlava no braço os propulsores de descida, Buzz fazia leituras constantes dos painéis, indicando a altitude e o ângulo de inclinação da nave. Medições do ritmo cardíaco de Neil saltaram dos normais 77 batimentos por minuto para 156 – o equivalente a dizer que o coração do astronauta estava saltando pela boca.
Faltavam apenas 25 segundos de combustível quando as luzes de contato com o solo se acenderam no módulo lunar. Neil comandou o desligamento dos motores. Dois ou 3 segundos de silêncio pareceram uma eternidade no controle da missão, quando a voz do astronauta ecoou pelos alto-falantes: “Houston, aqui é a Base Tranquilidade. O Eagle pousou”.
TAREFAS LUNARES
Logo após a descida, ocorrida às 17h18 (horário de Brasília), os astronautas iniciaram a etapa mais importante da missão – preparar o módulo lunar para a futura decolagem. Afinal, o objetivo claramente era levar um homem à superfície da Lua e trazê-lo de volta em segurança. Fazer ciência seria apenas um bônus.
Antes de iniciarem a saída da espaçonave, Aldrin fez uma discreta comunhão presbiteriana (para não dizer secreta), com uma eucaristia preparada pelo pastor de sua igreja. A quem estivesse ouvindo, Buzz pediu que “agradecesse, cada um à sua maneira” pelo fato de que homens pela primeira vez residiam em solo lunar. Em seguida, ele e Neil se prepararam para descer.
Neil, mais próximo da escotilha, foi o primeiro a sair. Ele iniciou os passos para fora do Eagle às 23h39 e teve dificuldade para atravessar a estreita passagem com a mochila de suporte de vida de seu traje espacial. Ao chegar ao penúltimo degrau da escada, acionou um dispositivo que ligava uma câmera de TV. Avançou então para o último degrau, proferiu sua famosa frase (“É um pequeno passo para um homem, um salto gigantesco para a humanidade.”) e imprimiu a primeira pegada humana na face da Lua. Isso aconteceu exatamente às 23h56.
Dali em diante, as coisas avançaram de forma rápida. Neil coletou algumas amostras preliminares de solo lunar e as levou rapidamente para o Eagle (para o caso de uma emergência que exigisse partida imediata). Buzz se juntou a ele na superfície, e os dois começaram a trabalhar em conjunto. Buzz instalou um experimento destinado a coletar partículas do vento solar, Neil continuou recolhendo rochas lunares, e os dois foram fincar a bandeira americana perto do Eagle. Receberam uma ligação do presidente Nixon, após o que Buzz se afastou cerca de 10 metros para instalar mais dois experimentos – um sismógrafo, para medir terremotos, e um refletor de laser, que é usado até hoje para medir com precisão a distância entre a Terra e a Lua.
Por fim, as rochas foram levadas ao módulo lunar, assim como o experimento de coleta de partículas do vento solar. Em duas horas e meia, a dupla já estava de volta ao Eagle, para deixar a Lua e se unir a Collins em órbita lunar. Após a primeira soneca na Lua, claro. O módulo lunar decolou às 14h54 do dia 21 e menos de 4 horas depois já havia se reencontrado com o módulo de comando, para o início da jornada de volta. O trio de astronautas foi resgatado em sua cápsula no oceano Pacífico na tarde do dia 24, encerrando com sucesso a maior aventura já realizada até hoje pela humanidade.
Lenda Espacial
Tudo não passou de uma farsa?
Até hoje, não são poucos os que duvidam do que aconteceu naqueles dias de julho de 1969. Será que foi tudo verdade mesmo? Foi. Mas isso não impediu que a “teoria da fraude lunar”, com o passar dos anos, se tornasse uma persistente e intrincada lenda urbana. Há vários sites que apontam “inconsistências” nas fotos e nos vídeos produzidos pelos astronautas. Houve até quem dissesse que tudo não passou de uma encenação, produzida por ninguém menos que o cineasta Stanley Kubrick. As provas de que o homem esteve na Lua são incontestáveis. Na época, os russos monitoraram atentamente as transmissões da Apollo 11, vindas da Lua. E os astronautas deixaram muita tranqueira por lá – inclusive um refletor de laser, usado até hoje – e trouxeram muita coisa de volta – rochas cuja origem não poderia ser falsificada.