PRORROGAMOS! Assine a partir de 1,50/semana

Um pré-sal no meio do mato

Enquanto aqui só se falava em eleições e petróleo, algo tão importante quanto era decidido no Japão: a maior parte dos países concordou em pagar royalties ao Brasil pela riqueza científica da Amazônia

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h45 - Publicado em 4 jan 2011, 22h00

Salvador Nogueira

O craque uruguaio Dario Pereyra foi abordado certa vez por um repórter que, para fazer graça, perguntou: “Por que vocês, jogadores, sempre falam a mesma coisa?” O zagueirão não teve dúvida. “Porque vocês fazem sempre as mesmas perguntas.”

Pois é. E não são só jogadores e jornalistas esportivos que têm esse vício. Essa coisa de bater sempre na mesma tecla também acontece com os políticos.

Na última disputa presidencial, por exemplo, os candidatos que foram para o 2º turno falaram muito de Bolsa Família, aborto e petróleo, mas praticamente não levantaram temas como a proteção da biodiversidade – um assunto que não se resume aos interesses de ecologistas, mas que pode significar muito para a nossa economia. Como? Veja só.

Enquanto os brasileiros estavam elegendo seus novos representantes por aqui, lá no Japão, representantes de cerca de 190 países, inclusive o nosso, estavam discutindo o futuro do planeta. Após muita conversa mole (como normalmente acontece nesses encontros diplomáticos com muitas nações), eles conseguiram o improvável: definir um acordo com objetivos claros para proteger a biodiversidade mundial.

Continua após a publicidade

Esse novo acordo estabelece metas para a preservação da biodiversidade e engaja os países no combate à maior extinção maciça de espécies desde que os dinossauros foram para o brejo. Estima-se que a taxa anual média de sumiço de espécies hoje esteja pelo menos 100 vezes mais alta do que deveria ser se apenas a natureza estivesse agindo.

Pelos termos estabelecidos, o ritmo de extinções deve ser reduzido pela metade até 2020, com o aumento de áreas terrestres protegidas para 17% (hoje é de 12,5%) e áreas oceânicas para 10% (atualmente é menos de 1%).

A preservação já é algo que vale por si só, claro. Mas existe um potencial menos óbvio aí. E ele começa com um fato: somos péssimos inventores de remédios. A maioria deles é feita de substâncias químicas que descobrimos, não que inventamos. Para ficar só em dois exemplos, vamos com a mãe dos antibióticos e a mãe dos analgésicos. A penicilina, descoberta por acidente por Alexander Fleming em 1928, é produzida pelo fungo Penicillium notatum. Já a aspirina, que existe desde o século 19, é originária do salgueiro.

Continua após a publicidade

Um levantamento feito por pesquisadores americanos em 2007 mostrou que 70% de todos os medicamentos introduzidos no mercado nos 25 anos anteriores eram derivados de produtos naturais. A floresta ainda fabrica drogas com mais eficiência que nós.

E aí é que o problema fica mais sério. Estamos devastando a biodiversidade, extinguindo as espécies (e os medicamentos que poderiam vir delas) antes que possamos descobri-las. Daí o desespero para reduzir o ritmo de destruição.

Estima-se que existam no planeta dezenas de milhões de espécies (incluindo aí todos os micróbios que você possa imaginar). Dessas, pouco mais de 1 milhão foram descritas pela ciência. Ou seja, ainda há muita pesquisa a fazer.

Continua após a publicidade

É onde o Brasil entra. Com a maior fonte de biodiversidade do mundo, na floresta Amazônica, poderíamos fazer dinheiro ao explorar esses recursos de forma sustentável. Nesse sentido, o Protocolo de Nagoya é importante, porque ele define basicamente que os recursos genéticos presentes no território de cada país são pertencentes a ele e não podem ser explorados sem autorização.

Basicamente, trata-se de uma declaração de guerra à biopirataria – a transferência dos recursos de um país para que sejam estudados e explorados em outro.

Agora, para usar alguma coisa da Amazônia brasileira no exterior, será preciso pagar royalties ao governo. Isso pode valer como um pré-sal no meio do mato: a indústria farmacêutica mundial fatura US$ 800 bilhões por ano.

Continua após a publicidade

Ainda não há uma decisão sobre o valor desses royalties. Mas, se futuros remédios amazônicos um dia renderem um décimo disso, 10% de royalties já pagariam com folga o Bolsa Família (R$ 13 bilhões por ano). E olha que, diante do potencial da Amazônia, essa é uma hipótese modesta: em cada campo de futebol de floresta existem mais espécies de árvores que na Europa toda.

O protocolo, por fim, também obriga as multinacionais a ajudar o país dono dos recursos em outras áreas, como a pesquisa científica. Mas falta um passo. O acordo foi assinado por mais de 100 dos países participantes, mas só passará a valer depois de uma ratificação, uma aprovação final. O Protocolo de Kyoto levou 8 anos entre a assinatura e essa confirmação. Que não demore tanto desta vez.

Publicidade


Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY
Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 10,99/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.