Texto R.L.
“Cuidado com o que você deseja” é provavelmente um dos melhores conselhos do mundo, mas ele não parece muito convincente para algumas das mentes mais brilhantes do planeta. Sujeitos como o cientista da computação Hans Moravec, o futurologista Ray Kurzweil e o filósofo Nick Bostrom estão na linha de frente do chamado transumanismo, um movimento científico e filosófico (com uma revista online toda modernosa) cujo objetivo maior é, como o nome já diz, possibilitar a transformação completa da condição humana. Trocando em miúdos: esses caras querem nos transformar em deuses e dizem saber como fazer isso.
Imagine o uso conjunto de muitas das tecnologias futuristas que você encontrou nas páginas desta revista. Clonagem, “transplante de mente” ou técnicas antienvelhecimento para evitar a decrepitude do seu corpo; conexões avançadas cérebro-máquina para unir sua mente a todos os computadores do mundo; energias alternativas poderosíssimas que nos permitam colonizar o espaço, de preferência acopladas a alterações genéticas que facilitem a sobrevivência do organismo humano em ambientes muito diferentes dos que existem na Terra. Como os deuses gregos, seríamos imortais e eternamente jovens.
É muito cedo para dizer se esse plano grandioso tem alguma chance de dar certo. Por enquanto, a principal crítica científica aos transumanistas é que eles subestimam demais a complexidade dos seres vivos: é muito difícil alterar detalhes da biologia de um animal como nós sem que haja efeitos colaterais em milhões de outros pormenores do nosso organismo. Mas esse é um obstáculo menor. O verdadeiro problema é que dificilmente as características definidoras da nossa humanidade – nossos sonhos, aspirações, elos emocionais e espirituais – sobreviveriam a uma mudança tão radical de nossa natureza. Ser super-humano seria apenas uma forma de ser não-humano – ou até desumano. Desse ponto de vista, ouso dizer que talvez a imortalidade física seja menos legal do que parece.