World Trade Center , a maior investigação da história
O motivo é que o local é o palco da maior investigação já realizada no mundo.
Rodrigo Vergara
Tanto tempo depois da tragédia no World Trade Center, ninguém mais espera encontrar sobreviventes nos escombros das torres, é claro. Mas, mesmo assim, os operários e bombeiros que removem os entulhos continuam trabalhando com todo o cuidado. O motivo é que o local onde ficavam as torres, chamado de “ponto zero” – um termo análogo ao epicentro de um terremoto – é palco da maior investigação de ciência forense já realizada no mundo. Cada estilhaço da pilha de escombros, que pesa 2 milhões de toneladas e tem a altura de um prédio de nove andares, pode esconder uma série de provas cruciais.
Um dos principais objetivos da investigação é identificar as vítimas, uma tarefa fundamental não só para consolar os parentes dos mortos mas também para possibilitar pagamentos de seguros, partilhas de heranças e concessões de pensões. Além disso, a polícia precisa provar que os suspeitos do atentado realmente estavam no avião e morreram na tragédia para poder acusar eventuais cúmplices.
Não é tarefa fácil. Até agora não se conhece nem o número exato de vítimas. Sabe-se quem eram os passageiros dos aviões, mas não há lista das pessoas que estavam nas torres. No dia 11 de novembro, dois meses depois da tragédia, a polícia havia identificado apenas 556 corpos. Já a lista de desaparecidos continha 3 748 nomes. Ou seja, o total de vítimas giraria em torno de 4 300 pessoas, bem menos do que as 6 000 que foram anunciadas nos primeiros dias (várias delas acabaram sendo encontradas em hospitais).
Todos os reconhecimentos foram feitos por métodos tradicionais: impressões digitais, objetos pessoais, cicatrizes, tatuagens e arcadas dentárias. Mas é certo que serão necessários métodos mais sofisticados. A maioria dos corpos foi dilacerada e até dentes isolados têm sido resgatados e catalogados para identificação. Estima-se que haja, ao final, 500 000 fragmentos humanos, e muitos só poderão ser identificados pela comparação do seu DNA com os de amostras enviadas por parentes: fios de cabelo, restos deixados em escovas de dentes ou fragmentos encontrados em roupas não-lavadas. Logo após o desastre, estimava-se que seriam necessários 20 000 exames de DNA – hoje sabe-se que o número será bem maior. Em muitos casos, nem o DNA possibilitará a identificação.
As moléculas que compõem o código genético, dizem os cientistas, podem ter sido destruídas pelo fogo da explosão ou pelo processo natural de decomposição dos tecidos. Caso isso aconteça, a memória dessas vítimas desconhecidas corre o risco de ficar soterrada para sempre.