A Apple plagiou Santos-Dumont (ou quase)
Existe uma lenda persistente no Brasil: a de que Santos-Dumont inventou o relógio de pulso. Mentira: ele inventou o Apple Watch. Bom, inventar mesmo ninguém inventou nada. Essa história de usar relógio no pulso começou como uma moda feminina. Primeiro, as mulheres da metade do século 19 começaram a usar relógios de bolso como enfeite […]
Existe uma lenda persistente no Brasil: a de que Santos-Dumont inventou o relógio de pulso. Mentira: ele inventou o Apple Watch.
Bom, inventar mesmo ninguém inventou nada. Essa história de usar relógio no pulso começou como uma moda feminina. Primeiro, as mulheres da metade do século 19 começaram a usar relógios de bolso como enfeite para o corpo. Até porque saia não tem bolso. Então elas penduravam no vestido, com a ajuda de um broche. Ficava bonito, ó:
Mas esses brológios, os broches-relógio, logo iriam para o limbo da moda. Porque em 1868 o relojoeiro Patek Philippe deu um pulo do gato estético. Criou um reloginho minúsculo, fofo, incrustou num bracelete todo cheio dos rococós e assim, meio sem querer, deu à luz o primeiro relógio de pulso da história:
Pronto. Estava criada ali a indústria que mais colaboraria para o PIB da Suíça depois da lavagem de dinheiro. Só que isso de relógio no pulso não era coisa para homem. Relógio de macho continuava sendo relógio de bolso. Roots.
Até que, em 1904, um milionário parisiense reclamou com um amigo que isso de ter que tirar o relógio do bolso para ver as horas era um saco. Esse milionário era uma celebridade internacional, uma espécie de Elon Musk da Belle Époque: Alberto Santos-Dumont, um jovem de 31 anos que gastava os tubos para aperfeiçoar sua invenção. Não essa invenção. Outra: o dirigível. O avião, vamos combinar, já estava inventado desde 1903. E O 14-bis, de 1906, foi tão importante para a história dos transportes aéreos quanto o pogobol. Dumont mesmo jogou o projeto no lixo.
Anyway. Tirar um relógio do bolso voando num dirigível a 300 metros de altura devia ser um saco mesmo. Pior ainda, para um sujeito elegante como Monsieur Santôs, seria amarrar um cebolão de bolso no braço, igual os marinheiros da época faziam.
Então Santos-Dumont foi reclamar com aquele amigo, um sujeito cujo sobrenome também é familiar: Louis Cartier, um joalheiro que tinha enriquecido vendendo relógios de bolso que serviam mais para mostrar o tamanho da conta bancária do dono do que as horas.
E Cartier respondeu à reclamação com uma criação: o Cartier Santos, primeiro relógio de pulso masculino de todos os tempos. Era um retângulo de bordas arredondadas, com uma tira de couro no lugar do metal brilhante dos relógios femininos. Uma peça de joalheria projetada à imagem e elegância do aviador mineiro. Tão elegante que nunca saiu de linha. E que, mais de cem anos depois, inspiraria outro relógio que espera ter uma dimensão histórica tão grande quanto: o Apple Watch.
A semelhança entre os dois, que estão lado a lado nas fotos ali em cima, deixa claro que não se trata de coincidência. A Apple mesmo assume. Sem falar que Marc Newson, designer da Apple e um dos responsáveis principais pela criação do smart relógio, não tirava seu Cartier Santos do pulso. Agora ele provavelmente usa um Apple Watch mesmo, por questão de marketing, mas deve continuar com o Cartier também, para não se ver sem relógio nas várias horas diárias em que o da Apple precisa ficar fora do pulso do dono, na tomada. Isso sim é um saco.