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Alexandre Versignassi

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.

A delação de Cunha pode destruir cem deputados. E um Presidente

Cunha não deve passar muito tempo preso – talvez nunca na história da Lava Jato tenha havido um prisioneiro com tanto poder de fogo pra uma delação premiada. Não que se trate de uma negociação fácil. Cunha não é só um meio para chegar a um fim. Não é só um instrumento para pegar peixes […]

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Atualizado em 21 dez 2016, 08h50 - Publicado em 19 out 2016, 16h16

cunha

Cunha não deve passar muito tempo preso – talvez nunca na história da Lava Jato tenha havido um prisioneiro com tanto poder de fogo pra uma delação premiada. Não que se trate de uma negociação fácil. Cunha não é só um meio para chegar a um fim. Não é só um instrumento para pegar peixes maiores. A prisão de Cunha é um fim em si mesmo. É importante para a Justiça mantê-lo preso por uns bons anos, independentemente do que ele tiver para delatar.

Por outro lado, tapar os ouvidos para as bombas que Cunha tem para soltar não faz sentido. As delações do maior gangster de Brasília têm potencial de fazer coisa de 100 deputados perderem o mandato. Cem deputados e um Presidente da República.

Mais: Cunha não é só o parlamentar mais bandido. É o mais safo. O que ele tiver para delatar virá acompanhado não de ilações, mas de provas sólidas – provas que o nobre deputado certamente juntou ao longo da carreira de canalizador de propina. Metódico, provavelmente tem dossiês bem organizados contra todos aqueles a quem, até outro dia, cumprimentava com beijos no rosto. Frio, não deve titubear antes de lançar ex-amigos aos leões para abater alguns anos de pena.

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Sim, como tanta gente já analisou, quem mais corre perigo agora é Lula. Não pela chance que ele tem de aparecer nas delações do ex-deputado, já que eles são de times diferentes, mas por isonomia mesmo: a PF se considera portadora de tantas evidências de corrupção contra Lula quanto contra Cunha. Prendeu um, o outro vem no vácuo. Além disso, a prisão de Cunha torna mais legítima a de Lula – seria intragável ver um ex-presidente detido e um Cunha solto. Esse aspecto deixou de existir hoje. Mas Lula provavelmente não é o único político que já ocupou o terceiro andar do Planalto tenso neste momento.

O atual ocupante da sala presidencial também deve estar. Temer, ao que parece, adiantou em um dia sua volta do Japão ao saber da prisão de Cunha – seus assessores negam: dizem que já tinham resolvido voltar antes, e mais, que Temer ainda nem sabe da prisão, pois estaria dormindo no avião presidencial. Se for isso mesmo, que o presidente aproveite bem o seu sono, então, porque provavelmente será sua última noite tranquila neste ano.

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