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Alexandre Versignassi

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Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.
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A Teoria dos Jogos por trás da liberdade de Joesley

A liberdade do dono da JBS é um preço alto e injusto a pagar pelo combate a políticos corruptos. Mas talvez seja o único preço possível.

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
22 Maio 2017, 17h57

Neste momento, talvez não exista criminoso confesso sobre a Terra mais privilegiado que Joesley Batista. O próprio Temer, no sábado, usou desse fato para posar como vítima, em seu pronunciamento do último sábado.

Claro: você não precisa ser Michel Temer para ficar indignado com o acordo entre o dono da JBS e a Polícia Federal. Só tem um detalhe: talvez a PF tenha tomado a decisão melhor decisão – não exatamente do ponto de vista da justiça, mas no da ciência.

Existe um ramo inteiro da ciência que se dedica a estudar as relações de cooperação entre as pessoas. As de cooperação e as de puxação de tapete. É a “teoria dos jogos”. Um dos conceitos centrais da teoria é o dos “jogos de soma zero”. Em linguagem de gente, um “jogo de soma -zero” é o mais comum: aquele em que um jogador só se dá bem se o outro se der mal. É o que acontece em qualquer esporte individual, mesa de pôquer, briga de rua. Daí o “soma zero”: um perde, o outro ganha. -1 (a derrota de um) + 1 (a vitória do outro) = zero.

Outro conceito, mais complexo, é o dos “jogos de soma não-zero”. São aqueles em que as duas partes se dão bem. É o que geralmente acontece no jogo entre corruptos e corruptores. Uma empresa corruptora paga um governante corrupto para obter uma vantagem junto ao Estado – um empréstimo do BNDES, uma isenção de imposto, uma vista-grossa em alguma fiscalização, um pau mandado na presidência de uma estatal. Nisso, as duas partes se dão bem: o governante corrupto fica com os bolsos cheios e a empresa corruptora recupera o “investimento”, com uma margem pornográfica de lucro, na hora de receber a vantagem que comprou. Logo, 1 (o ganho de um) + 1 (o ganho do outro) = 2. E temos um “jogo de soma não-zero” (soma não zero só entre os agentes da corrupção, porque entre eles e o País a soma-se zero mesmo: quanto mais eles ganham, mais o Brasil perde, lógico).

A Teoria dos Jogos não se restringe a inventar nomes complicados para situações óbvias, claro. Ela também diz respeito à ideia de criar ambientes propícios a jogos de soma zero ou de soma não-zero. Pense numa empresa. Ela pode moldar uma cultura de competição entre seus funcionários, na qual um tenta ser melhor que o outro (com a empresa se dando bem no final). Ou pode favorecer a cooperação entre os funcionários (também para se dar bem no final).

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Não estamos aqui, porém, para falar em administração de empresas, mas em administração de corruptos e corruptores, de modo que quem se dê bem no final seja o País. Agora imagine. Se você pega o Joesley e joga em Bangu, o que acontece? Vai desestimular que outros corruptores ajam como ele agiu – não apenas delatando em troca de vantagens, mas também trabalhando como espião da própria corrupção.

A ação de Joesley criou um ambiente hostil à cooperação entre corruptos e corruptores. Claro: se o maior doador de campanha da história virou agente infiltrado da polícia, qualquer um pode virar. Cria-se aí um saudável clima de desconfiança generalizada entre pagadores e receptores de propina.

E não há outro caminho. Se tal desconfiança não estiver impressa no sistema reptiliano do cérebro de cada político, nada vai mudar; nunca. O único jeito de “conscientizar” pessoas públicas a a não cometer crimes é incutir medo na cabeça dos excelentíssimos. O sujeito precisa tremer na base, sentir dor de barriga, suar frio cada vez que ver uma mala de dinheiro ou um jato particular à disposição. Mais do que Teoria dos Jogos, condicionamento pavloviano.

A liberdade de Joesley é um preço alto a pagar por tal condicionamento. Alto e injusto. Mas talvez esse seja o único preço possível.

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