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Alexandre Versignassi

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Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.

Mais pragmatismo, menos choradeira

O governo vai gastar quase um milhão para reformar uma igreja na Palestina. Faz sentido? Faz.

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 4 set 2024, 15h43 - Publicado em 29 jan 2018, 13h43

Está fazendo barulho a doação de R$ 792 mil do Ministério das Relações Exteriores para a Palestina – mais especificamente para a reforma da Igreja da Natividade, em Belém, que fica nos territórios palestinos.

A igreja foi fundada no ano 333 d.C., pelo imperador Constantino, antes até de o cristianismo virar a religião oficial de Roma, para representar o lugar onde Jesus teria nascido. O sujeito que viria a ser conhecido como Cristo não nasceu lá, mas essa é outra história. O ponto é que a Igreja da Natividade é uma obra de valor histórico tão imensurável quanto a Acrópole de Atenas ou o Fórum Romano.

Bom, viralizou o vídeo que um cara gravou na porta da Igreja da Natividade, dizendo que o Brasil estava “dando dinheiro para terroristas”, até porque a tal reforma já tinha terminado.

Não. Não terminou. E quem recebe o dinheiro não é um grupo armado de canibais, ou seja lá o que se passa pela cabeça de quem acha que palestino é bandido até prova em contrário com firma reconhecida. Quem recebe a grana no final é o Piacenti Restauration Center, um grupo italiano especializado em restaurar afrescos, contratado pelo governo palestino.

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A reforma conta com a ajuda financeira de vários países, e começou em 2013. Estive lá antes, em 2012, e de fato: o lugar parecia um galpão abandonado do Brás. A reforma é a primeira pela qual a igreja passa em 500 anos. E, segundo o Haaretz, o melhor jornal de Israel, está trazendo da igreja de volta à vida.

Só fica a questão: desde quando o Brasil tem quase R$ 1 milhão sobrando para reformar a casa dos outros? Bom, aí entra outra tradição: a diplomacia.

De cada US$ 100 que a Palestina compra em produtos importados, US$ 1,20 vem para o Brasil. Estamos entre os 10 maiores parceiros comerciais deles, junto com China, Alemanha, Japão, Coreia do Sul. Em 2015 (dado mais recente da minha fonte favorita, o Índice de Complexidade Econômica do MIT), a Palestina gastou US$ 56,6 milhões importando produtos brasileiros, e exportou para nós US$ 130 mil. São valores irrisórios, mas não deixa de ser uma balança comercial extremamente favorável ao Brasil.

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Outras doações do Ministério das Relações Exteriores colaboraram para isso – a começar por uma de US$ 20 milhões entre 2007 e 2009 para a restauração da Faixa de Gaza.

Desde 2011 tramita um acordo de livre-comércio entre a Palestina e o Mercosul. O projeto foi aprovado por uma comissão da câmara só agora, em 27 de dezembro de 2017, e está indo para votação. Esses R$ 792 mil servem para pavimentar o caminho de um acordo assinado há seis anos, e que é absolutamente favorável ao país.

Direitistas, nem tudo o que começou no governo Lula é banditismo. Esquerdistas, nem tudo o que o governo de hoje assina visa a destruição iminente da humanidade. Certas coisas são só o dia a dia da geopolítica. A doação de R$ 792 mil para uma igreja a 10 mil quilômetros daqui é uma delas.

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Bora viver a vida adulta, pessoal. Ela é meio chata, pragmática, mas é a que tem botado comida no seu estômago nos últimos 2 milhões de anos.

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