O lado escuro da imagem histórica
O sucesso diplomático de Kim Jong-un passa um recado sinistro aos outros 48 ditadores do planeta: construam suas armas nucleares.
Sim, é melhor um mundo sem a ameaça de uma guerra nuclear do que um com ameaça de guerra nuclear. E o encontro de hoje entre Kim Jong-un e o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in nos deixa mais próximos do melhor dos mundos.
Mas o sucesso diplomático do Kim Jong-un manda um recado claro para os outros 48 ditadores pelo mundo – e para outros tantos políticos linha-dura de países democráticos: acelerar seu programa nuclear pode ser o melhor caminho para ter seu regime reconhecido como legítimo pela comunidade internacional. Kadafi abriu mão do programa nuclear dele e terminou sem cabeça. Saddam Hussein fez o mesmo em 1991 e acabou na forca. Kim, se bobear, vai terminar com um Nobel da Paz, ainda mais depois de trocar abraços com Trump, já que o encontro entre os dois deve acontecer em pouco tempo.
O PIB per capita da Coreia do Norte está na rabeira mundial. A soma de tudo o que o país produz dividido pelo número de habitantes equivale a R$ 500 por mês – mesmo nível de Haiti, Serra Leoa e Guiné Bissau. A Coreia do Norte é um fracasso descomunal. Kim, porém, tem status de líder planetário. Tudo garantido pelas ogivas, e por ter deixado claro que pode ser insano o bastante para usá-las.
Isso não é um lamento, muito menos um guia para ditadores leigos (se eu soubesse ser ditador, estava jogando pingue-pongue com o Sultão de Brunei, não estava aqui escrevendo). É só uma constatação. Como não existe um Estado global, a comunidade internacional segue firme na lógica das tribos e das escolas de ensino fundamental: se você é forte, entra para a turma, se não é, a gente se junta e quebra a sua cara na primeira oportunidade.