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Alexandre Versignassi

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.

Rumo ao limbo

Para entender o que está acontecendo agora, é só olhar para o histórico de qualquer país que já passou por estagflação. Os EUA dos anos 70, por exemplo. O país tinha jogado todas as fichas no crescimento da indústria, principalmente a automobilística. E boa parte da energia para mover esse crescimento vinha de termelétricas a […]

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 21 dez 2016, 09h48 - Publicado em 18 ago 2015, 14h47

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Para entender o que está acontecendo agora, é só olhar para o histórico de qualquer país que já passou por estagflação. Os EUA dos anos 70, por exemplo. O país tinha jogado todas as fichas no crescimento da indústria, principalmente a automobilística. E boa parte da energia para mover esse crescimento vinha de termelétricas a diesel. Então chegou a Crise do Petróleo, o preço do barril quadruplicou, e ferrou tudo: a demanda por carros caiu e o preço da energia subiu, encarecendo os custos de produção de tudo. As fábricas passaram a produzir menos. Vieram as demissões. Então o consumo caiu, a produção baixou de novo. E mais demissões… Mas o dinheiro que o governo tinha criado para fomentar a indústria não deixou de existir. Continuou circulando de um jeito ou de outro. Só que agora, que a quantidade de dinheiro era maior do que a quantidade de produtos para comprar com esse dinheiro, os preços começaram a subir.

A solução? Passar o aspirador financeiro e tirar dinheiro de circulação, aumentado os juros. Isso acabou controlando a inflação, mas aprofundou a recessão mais ainda, porque uma hora acaba faltando dinheiro na praça. Por essas, a economia lá só entrou mesmo nos trilhos depois de 15 anos, na década de 90.

No Brasil, a aposta foi no petróleo, no ferro, nos produtos agrícolas. Então veio o xisto, e o petróleo caiu de quase US$ 200 para US$ 50, mais recentemente, US$ 40. Mais um pouco e o preço do barril não paga mais o custo de extração do pré-sal – dada a lisura dos contratos assinados com as empresas responsáveis, o custo real talvez seja mais alto do que os US$ 9 que a Petrobras divulga.

Bom, o ferro e o agronegócio também se complicaram. Não só por causa da desaceleração do nosso cliente número 1, a China, mas pq a China não é besta: passou a extrair minério na Mongólia, e produtos agrícolas na África, reduzindo a dependência que tinha do Brasil. As bases que tinham imaginado para sustentar o nosso crescimento de longo prazo ruíram ainda no curto prazo.

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Tudo isso diminuiu o fluxo de moeda forte para o Brasil. O dólar subiu, encarecendo o custo de investir em máquinas e outros insumos de fora. E a produção foi caindo. Mesmo assim, o dinheiro criado via BNDES, isenções de impostos e crédito ao consumidor para fomentar o crescimento não deixou de existir. Continuou circulando de um jeito ou de outro. Mas agora, que a quantidade de dinheiro, é maior do que a de produtos para comprar com esse dinheiro, ferrou: inflação. E com o PIB caindo.

O único jeito, agora, de consertar nossa estagflação é fazer basicamente o que os EUA fizeram lá atrás (e que qualquer país são faz): juro lá em cima, e só voltar injetar dinheiro de novo na economia quando o suprimento de moeda estiver a par com a produção. Mas isso demora. Lá, foram 15 anos. Aqui pode ser menos, pq o mundo é bem mais acelerado agora, 40 anos depois. Mas se a única coisa que o Brasil fizer em relação a isso for se engalfinhar numa luta insana por poder, aí não tem jeito.

De um lado, Dilma resiste a uma eventual renúncia por valores pessoais (Nixon renunciou por menos – é do jogo abandonar o barco pelo bem da governabilidade quando a sua casa cai). De outro, a Câmara pratica uma política de terra arrasada, também por uma questão pessoal – o projeto de poder de seu presidente, Eduardo Cunha. É um cabo de guerra que só retarda qualquer solução para o que realmente interessa. Continuando essa toada, neste e nos próximos governos, aqueles 15 anos que os EUA levaram para voltar aos eixos vão parecer uma marolinha temporal. Dilma, Cunha, Aécio, Temer… Todos já terão saído da vida para entrar no limbo do esquecimento que a história reserva às figuras sem brilho nem estofo intelectual. E a nossa economia ainda nem vai ter recebido alta da UTI.

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