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Por Bruno Garattoni
Vencedor de 15 prêmios de Jornalismo. Editor da Super.
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Aspartame causa câncer? Entenda por que a nova polêmica não é bem o que parece

Possível anúncio de agência da OMS tem causado controvérsia sobre esse adoçante, usado em refrigerantes e outros produtos. Mas a lista na qual ele poderá entrar é famosa pelo exagero - e não considera o real risco de câncer em humanos

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Atualizado em 3 jul 2023, 14h57 - Publicado em 3 jul 2023, 14h13

Possível anúncio de agência da OMS tem causado controvérsia sobre esse adoçante, usado em refrigerantes e outros produtos. Mas a lista na qual ele poderá entrar é famosa pelo exagero (também inclui coisas banais, como café, picles e luz solar), e não considera o real risco de câncer em humanos

Na última quinta-feira (29), a agência de notícias Reuters publicou um texto explosivo: segundo duas fontes não-identificadas, a International Agency for Research on Cancer (IARC), braço de pesquisas sobre câncer da OMS, estaria se preparando para adicionar o aspartame à sua lista de substâncias prejudiciais – esse adoçante entraria na categoria 2B, “possivelmente cancerígeno em humanos”. 

Segundo a Reuters, o anúncio será feito em 14 de julho – mesma data em que a JECFA (Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives), uma agência da OMS e da ONU que estuda aditivos alimentares, deverá anunciar sua nova posição sobre o aspartame. A notícia começou a se espalhar furiosamente pela internet, e com motivo: o aspartame é usado em vários tipos de produto alimentar, como refrigerantes diet, sucos, sorvetes, iogurtes, cereais e balas.

Mas, ao mesmo tempo, o caso não é bem o que parece ser. Isso porque a lista da IARC é famosa pela extensão (tem mais de 1.100 itens), e por juntar substâncias comprovadamente perigosas, como tabaco, tolueno e dioxinas, por exemplo, com coisas banais. 

Ela afirma, por exemplo, que tomar chá causa câncer – a lista classifica “bebidas muito quentes, acima de 65 graus celsius” em sua categoria 2A, que significa “provavelmente cancerígeno em humanos”. A lista da IARC também inclui café, carne vermelha, bebidas alcoólicas, picles em conserva, a luz do Sol, e até extrato de aloe vera – uma planta usada há séculos para fazer hidratante, que é enquadrada como “possivelmente cancerígena”.

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Isso significa que tudo na vida dá câncer, então? Não. Porque, eis o ponto crucial, a IARC não determina o risco de uma coisa causar câncer. Ela simplesmente vê se existem estudos relacionando aquela substância a câncer – mas não leva em conta a dosagem, as circunstâncias nem outros fatores envolvidos. Se tomada ao pé da letra, a lista pode causar interpretações bem erradas.

Os raios solares podem causar câncer de pele – mas isso não significa que você não possa, ou não deva, tomar sol. Basta usar protetor solar. Idem com o chá e bebidas quentes: é só deixá-las esfriar um pouquinho (até porque tomá-las a 65 graus queimaria a sua boca). Carne vermelha? Há uma enorme diferença, com relação ao risco de câncer, entre comer todo dia e ingerir de vez em quando. O fato de algo constar da lista da IARC não significa, automaticamente, que você deva bani-lo da sua vida.

Em certos casos, a IARC se baseia em descobertas que não podem ser transpostas à realidade humana. Veja o caso do aloe vera, por exemplo. Ele entrou na lista devido a estudos mostrando maior incidência de câncer de intestino em ratos, que ingeriram essa substância misturada à água.

Só que você não vai tomar aloe vera. Ela é um ingrediente em cremes, que você passa na pele (até existe aloe vera para beber, mas não é comum; você encontra em lojas de produtos naturais, onde também há outras coisas surpreendentemente perigosas).

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A lista também tem itens que são pura e simplesmente inconclusivos. Sobre o café, ela afirma que “há evidências de ausência de carcinogenicidade em humanos para cânceres do pâncreas, fígado, mama, endométrio e próstata”, mas em seguida afirma que “houve associações inversas […] com cânceres do fígado e endométrio”. Primeiro diz que não há perigo, depois diz que há. 

Essas situações equívocas acontecem porque a IARC não é uma agência de segurança alimentar, e não avalia os reais riscos de uma substância à saúde; só junta estudos sobre ela. No dia 14 de julho, se a agência de fato anunciar a inserção do aspartame em sua lista, provavelmente irá relacionar os estudos nos quais se baseou. 

Esses trabalhos serão analisados com atenção pela comunidade científica – e aí saberemos se eles de fato são suficientes para mudar, ou não, o chamado “perfil de segurança” do aspartame. Com o que se sabe hoje, ele é considerado adequado: desde 1974, quando liberou a produção e comercialização da substância, a FDA americana analisou mais de 100 estudos, que demonstraram sua segurança. 

Isso significa que tudo bem sair se entupindo de alimentos contendo aspartame? Não. Por uma razão elementar, e bem anterior à polêmica envolvendo o adoçante: essas coisas, como quaisquer alimentos altamente industrializados, simplesmente não são saudáveis.

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