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Bruno Garattoni

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Vencedor de 15 prêmios de Jornalismo. Editor da Super.

Cientistas de Wuhan previram pandemia em março de 2019

Estudo publicado há um ano discute o possível surgimento de novo coronavírus com alcance mundial - e aponta mercados de animais vivos como fator de risco

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Atualizado em 5 set 2024, 09h09 - Publicado em 25 mar 2020, 13h52

Estudo publicado há um ano discute o possível surgimento de novo coronavírus com alcance mundial – e aponta mercados de animais vivos como fator de risco 

“Aparentemente, o risco de um CoV (coronavírus) passar para humanos, levando a uma epidemia na China, é baixo, pelas seguintes razões: (1) a distribuição geográfica dos CoVs-MERS e CoV-HKU4 que têm o potencial de infectar humanos (são capazes de acessar receptores celulares humanos) é limitada, e (2) os CoVs-HKU5, que existem em morcegos por toda a China, não têm a capacidade de usar os receptores de entrada humanos. Contudo, não devemos subestimar a possibilidade de recombinação entre diferentes CoVs de morcego, levando à geração de vírus com potencial pandêmico.” (grifo meu)

Esse é um dos trechos do estudo Bat Coronaviruses in China, escrito por três cientistas do Instituto de Virologia de Wuhan (mais um quarto pesquisador, da Academia Chinesa de Ciências) e publicado em 2 de março de 2019, pouco mais de um ano atrás, no periódico Viruses

Depois de explicar por que os morcegos são bons transmissores de coronavírus (eles são os únicos mamíferos capazes de voar longas distâncias), os cientistas fazem mais uma previsão: “Acredita-se que CoVs carregados por morcegos irão reemergir para causar a próxima epidemia de doença. Nesse aspecto, a China é um foco provável.” 

Por que a China? Diz o artigo: “A maioria dos morcegos que hospedam CoVs vive perto de humanos, podendo transmitir vírus a eles e a animais de corte. A cultura chinesa acredita que animais recém-sacrificados são mais nutritivos, e essa crença pode impulsionar a transmissão viral.” Os cientistas afirmam, de modo claro, que um novo coronavírus poderia emergir de mercados que vendem animais ainda vivos. 

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Foi exatamente o que aconteceu com o SARS-CoV-2, que está provocando a pandemia de 2020 – e foi identificado pela primeira vez no mercado Huanan, em Wuhan, onde animais de 75 espécies eram comercializados. O SARS-CoV-2 é geneticamente similar aos coronavírus que infectam morcegos, e por isso acredita-se que ele tenha vindo desse animal (não há certeza a respeito; outra hipótese afirma que outro bicho, o pangolin, poderia estar envolvido. Animais de ambas as espécies eram vendidos no mercado Huanan). 

O estudo, que foi custeado pelo governo chinês, termina fazendo referência aos surtos de SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave) e SADS (Síndrome da Diarreia Aguda Suína), ocorridos em 2003 e 2017. “Dois CoVs originados de morcegos causaram grandes epidemias na China ao longo de 14 anos, ressaltando o risco de um futuro surto de CoV de morcegos neste país.” Não é o primeiro alerta do tipo. Em 2007, um estudo publicado por quatro cientistas chineses destacou o risco associado aos wet markets (mercados de animais vivos), que “podem servir como fontes e amplificadores de novas infecções”.

Em 27 de janeiro de 2020, quando o SARS-CoV-2 já ganhava força, o governo chinês anunciou a proibição da venda de animais silvestres por tempo indeterminado. Era tarde demais. 

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