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Bruno Garattoni

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Vencedor de 15 prêmios de Jornalismo. Editor da Super.

Aviões comerciais da próxima geração poderão voar com apenas um piloto

Modo "single pilot", cogitado pela indústria, pode reduzir custos e facilitar a vida das empresas aéreas - mas levanta questões relativas à segurança

Por Bruno Garattoni Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 5 set 2024, 09h00 - Publicado em 29 Maio 2019, 16h22

Modo “single pilot”, que está sendo cogitado pela indústria, pode reduzir custos e facilitar a vida das empresas aéreas – mas também levanta questões relativas à segurança

A próxima aeronave da Boeing, que é conhecida pela sigla NMA (de New Midsize Airplane, ou “novo avião de porte médio”) mas tem sido apelidada de 797 ou 7K7 por analistas, poderá ser a primeira a dispensar a figura do co-piloto e ser totalmente controlável por uma única pessoa. É o que afirma um relatório do banco de investimentos Jefferies Group, que cita executivos de companhias aéreas. Segundo o relatório, o modo single pilot representaria economia de recursos, e é visto com bons olhos pelo setor. O banco suíço UBS estima que, com o novo esquema de voo, as companhias economizariam US$ 15 bilhões por ano. Isso também ajudaria a resolver um grande problema: a escassez de pilotos no mundo. Só nos próximos 20 anos, segundo estimativa da Boeing, as empresas aéreas terão de contratar e treinar 790 mil deles.

Contatada pela SUPER, a Boeing negou a possibilidade envolvendo o NMA – e disse que a cabine desse avião “está sendo projetada para dois pilotos”. 

No ano passado, antes da queda de dois 737 Max, um vice-presidente da empresa afirmou ao jornal inglês Independent que a companhia estava desenvolvendo tecnologias de automação que poderiam reduzir a quantidade de pilotos no cockpit. A empresa também admitiu a possibilidade de começar a operar aviões de carga com um único piloto. A Airbus, por sua vez, falou em diminuir de 3 para 2 os pilotos nas aeronaves de grande porte.  

Os pilotos veem esses movimentos com cautela e ceticismo. “Existe uma tendencia da industria de tentar reduzir mão de obra. Mas são projetos ainda, é difícil prever quando isso vai acontecer, ou se vai acontecer”, afirma Ondino Dutra, presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas. Segundo ele, os salários dos pilotos representam apenas 3% dos custos das empresas aéreas – e seria necessário fazer grandes investimentos em tecnologia de tráfego e controle para viabilizar a operação single pilot. “Se o piloto passa mal, como você resolve esse problema?”, questiona Dutra.  

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O piloto a bordo teria de ser monitorado por um auxiliar em solo, que precisaria estar pronto para assumir o controle a qualquer instante. Esse co-piloto remoto supervisionaria mais de uma aeronave ao mesmo tempo. “É uma redução de custo tao pequena, para se estabelecer toda uma [nova] estrutura de trafego aereo e redundancia”, diz Dutra. De fato, o desafio envolvido não é trivial. Estabelecer uma conexão de dados 100% confiável, e que apresente pouca ou nenhuma latência, entre o solo e uma aeronave a 950 km/h e 10 mil metros de altura provavelmente exigiria novas tecnologias de transmissão.    

A redução na quantidade de pessoas no cockpit traz outro ponto de preocupação: a eventual sobrecarga cognitiva do(s) piloto(s). Em desastres recentes, como o do voo Air France 447 (com um Airbus A330) e os dois Boeing 737 Max que caíram, esse fator esteve envolvido. No caso do Airbus, os pilotos foram induzidos a erro por falhas no sensor de velocidade, mas também houve confusão mental. Um deles acertadamente tentou corrigir a trajetória de estol (perda de sustentação da aeronave). Mas o outro estava fazendo o movimento oposto, puxando o nariz do avião para cima, e a ação foi nula.

Nos 737 Max, tudo indica que os acidentes tenham sido causados por anomalias no MCAS (Maneuvering Characteristics Augmentation System), um sistema automático de correção de ângulo que empurrou o nariz das aeronaves para baixo. Porém, existia um procedimento manual que poderia anular o efeito do MCAS – e os pilotos não o acionaram.

A apresentação do NMA/797 estava prevista para o Paris Air Show, em junho, mas deverá ser adiada. A Boeing ainda sofre com a repercussão dos dois acidentes envolvendo aeronaves 737 Max, que estão proibidas de voar no mundo todo. Ao contrário do 737 Max, redesenho do antigo 737, o NMA/797 é um projeto novo, que irá atender o segmento de aeronaves médias, de 200 a 250 passageiros. Ele deverá começar a voar em 2025.

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