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Por Bruno Garattoni
Vencedor de 15 prêmios de Jornalismo. Editor da Super.
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Rússia vai reconhecer repúblicas separatistas na Ucrânia e enviará tropas para apoiá-las; entenda o que ela pretende com isso

Medidas anunciadas hoje por Vladimir Putin visam a prolongar conflito iniciado em 2014 - e com isso evitar a entrada da Ucrânia na Otan, que colocaria a Rússia em perigo; EUA veem no caso uma oportunidade de frear o fornecimento de gás russo para a Europa; entenda o jogo

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Atualizado em 22 fev 2022, 13h05 - Publicado em 21 fev 2022, 17h27

Medidas anunciadas hoje por Vladimir Putin visam a prolongar conflito iniciado em 2014 – e com isso evitar a entrada da Ucrânia na Otan, que colocaria a Rússia em perigo; EUA veem no caso uma oportunidade de frear o fornecimento de gás russo para a Europa; entenda o jogo

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) é uma aliança militar criada em 1949 pelos Estados Unidos com o Canadá e dez países europeus. Ela foi se expandindo ao longo do tempo, especialmente após o fim da União Soviética, e hoje tem 30 membros. 

O ponto mais importante do estatuto da Otan é o Artigo 5, que estipula o princípio de “defesa coletiva”: se um dos países-membros for atacado, é como se todos os demais estivessem sendo atacados também – e eles são obrigados a defendê-lo militarmente. Têm de ir à guerra, querendo ou não, seja qual for a circunstância.  

É por isso que a Ucrânia, apesar de seu aparente interesse e dos esforços dos EUA para que isso aconteça, ainda não entrou na Otan. Porque, desde fevereiro de 2014, ela vive um conflito armado: a Guerra Russo-Ucraniana, em que separatistas apoiados pela Rússia lutam contra tropas do Exército ucraniano. 

Para Moscou, é estrategicamente importante que esse conflito persista, porque ele trava a adesão da Ucrânia à Otan – afinal, se ela ocorresse, todos os demais membros da aliança ficariam automaticamente obrigados a entrar no combate, sendo arrastados para um conflito no qual eles têm pouco ou nada a ganhar. 

A última coisa que a Alemanha, a França e outros países europeus querem é se meter num combate envolvendo direta ou indiretamente a Rússia, com quem mantêm uma relação vital: o país fornece 38% de todo o gás consumido na Europa. Uma guerra provavelmente levaria à interrupção desse fluxo, causando sérios problemas ao Velho Continente. 

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Hoje o presidente russo, Vladimir Putin, anunciou que seu país irá reconhecer as regiões separatistas da Ucrânia como áreas autônomas. Em seguida, disse que a Rússia irá enviar tropas para apoiar os separatistas – que supostamente vêm sofrendo ataques mais fortes do exército ucraniano nos últimos dias.

Isso não é uma mudança de rumo; só reforça o apoio que Moscou já dava, inclusive com fornecimento de equipamento militar, aos separatistas. Um eventual fim do conflito, com vitória do Exército ucraniano sobre os insurgentes, abriria o caminho para a Ucrânia se juntar à Otan – o que a Rússia não quer. Daí o envio de tropas.

Ao longo dos últimos anos, a Rússia manifestou repetidamente sua preocupação com o avanço da Otan, que chega cada vez mais perto do seu território. É que os países-membros da Otan podem ter, e geralmente têm, bases militares americanas: França, Itália, Bélgica e Alemanha, entre outros, abrigam instalações militares dos EUA. Esse é o primeiro problema.

O segundo problema é que, em outubro de 2018, os EUA se retiraram do Tratado de Mísseis Nucleares de Alcance Intermediário (INF), que proibia a operação de mísseis com alcance entre 500 e 5.500 km. Com isso, e com a não renovação do INF (que havia sido assinado em 1988), os americanos passaram a poder colocar armas nucleares de médio alcance nas bases da Otan. 

Isso perturba o equilíbrio de forças com a Rússia – pois dá aos EUA a vantagem hipotética de um first strike (ou “ataque decapitador”). Como os mísseis americanos seriam disparados de perto, eles chegariam muito mais rápido ao inimigo – permitindo que os EUA atacassem a Rússia antes mesmo que ela conseguisse esboçar uma resposta. Um míssil disparado de Kiev chegaria a Moscou em 1 ou 2 minutos; já um ICBM (míssil nuclear intercontinental) russo levaria 15 a 30 minutos para alcançar Washington. 

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Isso se a Rússia conseguisse disparar o tal ICBM: a proximidade extrema da Otan poderia manietar o país, evitando até que ele usasse suas próprias armas. As bases americanas poderiam lançar mísseis interceptadores, projetados para destruir ICBMs quando eles ainda estão no estágio de subida, relativamente lentos (e são muito mais fáceis de acertar do que quando já reentraram na atmosfera e estão descendo em direção ao alvo, a mais de 20 mil km/h). 

Nada disso significa que haja qualquer risco iminente de guerra nuclear. Nem de longe. Mas ilustra bem a disputa geopolítica permanente entre as superpotências. O avanço da Otan é uma peça central desse jogo, e um problemaço para a Rússia – que tem respondido a ele desenvolvendo armas mais avançadas. E não é de agora. Falamos detalhadamente sobre isso na reportagem “A nova era nuclear”, publicada pela Super em setembro de 2020

A Ucrânia também é um ponto sensível porque por ela passam alguns dos principais gasodutos russos – foi por causa deles que começou o conflito do país com a Rússia, em 2014. Ao longo da última década, a Rússia tem driblado o problema construindo gasodutos que não passam pela Ucrânia, como o Nord Stream 1 e o novo Nord Stream 2.

E aí está a principal novidade no jogo geopolítico: a Rússia está prestes a inaugurar o Nord Stream 2, que irá abastecer a Europa com ainda mais gás. Com isso, ela terá ainda mais influência sobre a segurança energética do Velho Continente – algo que os Estados Unidos, ferrenhos opositores do gasoduto, não querem. 

A Casa Branca tem dito que uma eventual invasão da Ucrânia significaria o fim do Nord Stream 2, que seria abandonado pelos países europeus. Algo ótimo para os EUA, pois frearia a influência russa. Washington tem acenado com a possibilidade de mandar gás de navio para a Europa em substituição ao produto russo. Mas é uma operação no mínimo incerta: o processo seria lento e caríssimo, e as petrolíferas dos EUA dizem que têm pouco gás sobrando

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Por isso, os países europeus não querem abrir mão do Nord Stream 2. O primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz, vem se recusando a vincular uma eventual invasão da Ucrânia ao fim do gasoduto – o que tem gerado atrito diplomático com os EUA. 

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