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Por Bruno Garattoni
Vencedor de 15 prêmios de Jornalismo. Editor da Super.
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Sars-CoV-2 desenvolve nova forma de infectar células humanas

Nova variante é capaz de invadir células sem os receptores ACE2, que hoje são a porta de entrada do vírus; descoberta é surpreendente e pode alterar o rumo da pandemia, mas vacinas e anticorpos mantêm eficácia

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Atualizado em 29 jun 2021, 18h58 - Publicado em 29 jun 2021, 16h50

Nova variante é capaz de invadir células sem os receptores ACE2, que hoje são a porta de entrada do vírus; descoberta é surpreendente e pode alterar o rumo da pandemia, mas vacinas e anticorpos mantêm eficácia 

A nova habilidade do vírus foi descoberta acidentalmente por cientistas da Universidade de Washington, que estavam testando o efeito do Sars-CoV-2 em dez tipos de célula do pulmão, da língua, da faringe e do esôfago. O vírus não conseguiu infectá-las, com uma exceção: as células pulmonares H522. Isso surpreendeu os pesquisadores, já que essas células não possuem receptores ACE2 (da “enzima conversora de angiotensina 2”), que hoje são a porta de entrada para o coronavírus nas células humanas – as espículas do vírus se conectam justamente a eles.  

Os cientistas decidiram olhar aquela amostra do vírus com mais atenção. Ela havia sido coletada em um paciente de Covid em Washington, e cultivada no laboratório da universidade para testes. Os pesquisadores descobriram que, durante o cultivo, o Sars-CoV-2 tinha adquirido duas mutações. As duas são localizadas na proteína spike, que forma as espículas do vírus. Elas se chamam R682W (troca do aminoácido arginina por triptofano na posição 682 da sequência genética da proteína spike) e E484D (troca de ácido glutâmico por ácido aspártico na posição 484). 

A segunda mutação é a mais importante – é ela que dá ao vírus a capacidade de infectar células que não possuem receptores ACE2. Isso é espantoso, inclusive pelo seguinte motivo: os cientistas da Universidade de Washington não conseguiram determinar como o vírus infectou as células. Se ele não usa os receptores ACE2, como age? Ainda não se sabe. Uma possibilidade é que a nova cepa do vírus explore alguma outra “chave” celular – que ainda não foi identificada, e foi batizada provisoriamente de “receptor X”.

ilustração
Comparação da infecção de células que possuem receptores ACE2 (esquerda) e novo mecanismo desenvolvido por variante do coronavírus – com destaque para o “receptor X”, ainda não identificado. (Universidade de Washington/Reprodução)

A capacidade de desenvolver um novo meio de infecção pode alterar o caminho evolutivo do Sars-CoV-2 – e mudar o futuro da pandemia. “É assustador pensar na população mundial lutando contra um vírus que diversifica seus mecanismos de infecção celular”, declarou o biólogo M. Ben Major, um dos autores do estudo. “É possível que o vírus use a ACE2 até acabarem as células com esse receptor, e aí ele muda para o caminho alternativo”, afirmou o biólogo Sebla Kutluay, co-autor do estudo. Os testes foram realizados in vitro, não in vivo. Logo, não se sabe se o fenômeno também ocorre, e com qual intensidade, no organismo. “Isso pode ter relevância no corpo, mas sem saber qual é o receptor [alternativo], não conseguimos dizer qual será a relevância”, disse Kutluay.  

A boa notícia é que a cepa mutante foi testada com anticorpos colhidos de pessoas que tiveram Covid-19 ou se vacinaram contra a doença – e, em ambos os casos, eles se mostraram capazes de neutralizar o Sars-CoV-2 alterado. Também há outro fator atenuante. Na natureza, fora do laboratório, a posição 484 da proteína spike já costuma ser ocupada por outra mutação: a E484K, que está presente nas variantes Beta (antiga B.1.351, descoberta na África do Sul), Gama (a P.1 brasileira) e, em menor escala, também na variante Alfa (a B.1.1.7 inglesa). 

Essa mutação é altamente vantajosa para o vírus, pois dá a ele resistência parcial aos anticorpos. Para que a E484D se espalhe, ela precisaria oferecer algo ainda melhor em termos evolutivos – o que parece pouco provável a curto e médio prazo (pois as células com receptores ACE2 são abundantes no corpo humano, e ainda não existem medicamentos capazes de bloquear a ação do coronavírus sobre elas).    

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