Terceira dose da vacina produz células adaptadas para combater Ômicron
Estudo revela que células B, responsáveis por fabricar anticorpos e guardar informações sobre o vírus, se tornam mais capazes de reconhecer e atacar a nova variante após reforço da vacina; descoberta pode afastar a necessidade de uma quarta dose
Estudo revela que células B, responsáveis por fabricar anticorpos e guardar informações sobre o vírus, se tornam mais capazes de reconhecer e atacar a nova variante após reforço da vacina; descoberta pode afastar a necessidade de uma quarta dose
Com o surgimento da variante Delta, vários países liberaram a terceira dose da vacina para todos os adultos – uma política que, após o aparecimento da Ômicron, se tornou quase universal. A dose de reforço eleva os níveis de anticorpos no organismo, restaurando a proteção contra infecção e doença severa causadas pela nova variante. Mas, assim como nas doses anteriores, esse aumento é temporário; alguns meses após a vacinação, a quantidade de anticorpos cai naturalmente. Isso cria uma dúvida crucial: a terceira dose será suficiente para frear a pandemia, ou a vacina terá de ser aplicada mais vezes (talvez até periodicamente, como a da gripe)?
Um estudo feito por cientistas da Universidade Harvard e do MIT sugere que a terceira dose da vacina muda a resposta imunológica, induzindo uma diferenciação importante nas células B. Essas células, que fabricam anticorpos e guardam a “memória” do vírus, se tornam mais capazes de reconhecer e atacar a variante Ômicron (mesmo ela não estando presente nas vacinas, que ainda são baseadas no vírus “original”, de Wuhan).
Os pesquisadores coletaram amostras de sangue dos voluntários em três momentos: antes da vacinação, logo após a segunda dose, e depois da dose de reforço. Os voluntários receberam imunizantes de RNA mensageiro, da Pfizer ou da Moderna. Os cientistas também colheram sangue de pessoas que haviam sido infectadas pelo Sars-CoV-2.
Em seguida, todas essas amostras foram colocadas em contato com a proteína spike (os “espetos”) da variante Ômicron. Como esperado, o sangue pré-vacinação não apresentou níveis significativos de células B anti-Ômicron. Após vacinação ou infecção pelo coronavírus, o sangue passou a conter células B capazes de reconhecer e atacar o vírus. Isso era esperado também.
O surpreendente foi o que ocorreu após a terceira dose da vacina. Ela não aumentou a quantidade de células B. Porém, “o boost [dose de reforço] induz a diferenciação de células B pré-existentes em células efetoras e de memória que se conectam à Ômicron”, relata o estudo. O nível de células B “genéricas” diminui – porque elas dão origem a células capazes de reconhecer e atacar a variante Ômicron. Veja abaixo:
Tanto as células B efetoras (que fabricam anticorpos) quanto as células B de memória (que guardam informações sobre o vírus) se tornam mais adaptadas à Ômicron. Mais do que simplesmente aumentar os níveis de anticorpos ou de células de defesa, a terceira dose da vacina parece provocar uma alteração qualitativa na resposta imunológica do organismo, inclusive contra a nova variante.
Isso significa que ela não é um mero “reforço”, que precise necessariamente ser refeito de tempos em tempos; ao aperfeiçoar as defesas do organismo, talvez estabeleça um patamar de imunidade mais alto – e, com isso, afaste a necessidade de reaplicações periódicas da vacina.
A necessidade ou não de uma quarta dose ainda é uma incógnita. Alguns países, como Israel e Chile, já começaram a aplicá-la em certos grupos demográficos; outros, como França e Alemanha, cogitam a medida. Já os EUA dizem que é prematuro considerar uma quarta dose – e o Reino Unido decidiu não aplicá-la. Ontem o CEO da Pfizer, Albert Bourla, disse que a empresa está desenvolvendo uma vacina adaptada contra a variante Ômicron, que deverá estar pronta em março.