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Como as Pessoas Funcionam

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Estudos científicos e reflexões filosóficas para ajudar você a entender um pouco melhor os outros e a si mesmo. Por Ana Prado
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Narcisistas são mais populares (mas isso é temporário e no final vence quem for mais gente boa)

Por Ana Carolina Prado
Atualizado em 4 set 2024, 11h17 - Publicado em 5 out 2016, 00h06

Você com certeza conhece muita gente extrovertida, que curte ser o centro das atenções e parece querer cultivar mais uma base de fãs e seguidores do que amigos de fato. As redes sociais são um campo fértil para esse tipo que os psicólogos chamam de narcisista.

“O narcisismo é um traço de personalidade caracterizado por uma autoestima excessivamente positiva e um constante desejo de aprovação externa. Pessoas altamente narcisistas costumam usar os outros como instrumento para construir e manter a sua autoimagem desejada”, diz um estudo publicado no fim de setembro no periódico Personality and Social Psychology Bulletin.

Apesar de soar como algo negativo, isso funciona para conquistar as pessoas – e é por isso que é tão comum ver essa gente cercada de admiradores por aí. Mas nem tudo são flores para esses Narcisos. Pelo menos foi o que descobriram os autores do estudo – um grupo de psicólogos da Polônia, Reino Unido, Alemanha e Estados Unidos que quiseram entender como funciona essa coisa complexa que é a popularidade. Para isso, eles levaram em conta diversos aspectos, como a motivação, as habilidades sociais de cada um e a variação da popularidade ao longo de um período de tempo.

O estudo

Os autores trabalharam com estudantes universitários do primeiro ano na Polônia. “Na educação superior polonesa, os calouros geralmente são divididos em grupos de estudo formais que fazem todas as aulas juntos”, diz o artigo. Os pesquisadores começaram a acompanhar os estudantes (273 ao todo) na primeira semana de aula, quando os grupos foram formados e ninguém ainda se conhecia. Ao todo, eles trabalharam com 15 grupos que tinham entre 19 e 29 pessoas.

Nessa primeira semana, cada participante completou questionários avaliando seu grau de narcisismo e medindo sua inteligência emocional – a capacidade de compreender as pessoas, entender suas necessidades e agir de acordo, controlando as próprias emoções. Eles tinham ainda que dizer quais eram as pessoas do grupo de quem havia gostado mais. A pergunta foi repetida três meses depois, desta vez com 170 calouros que permaneceram como voluntários do estudo.

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Os resultados iniciais não diferem muito do que aconteceria em qualquer festa ou início de Big Brother: quando um grupo de estranhos é reunido, os indivíduos com maior grau de narcisismo se destacam logo como a alma da festa e conquistam de cara a admiração e a amizade de seus colegas.

Mas a coisa muda de figura depois. Com o tempo, a autoconfiança e carisma desses narcisistas deixam de promover novas amizades – ou mesmo de fortalecer aquelas que já haviam sido criadas. Por outro lado, aqueles com alta inteligência emocional vão se destacando aos poucos e construindo sólida e constantemente sua própria base de amigos e admiradores. No fim, eles é que seriam os vencedores de um hipotético concurso de popularidade. “Parece que um ego mais silencioso e menos necessitado, junto com habilidades para perceber, compreender, usar e gerir as emoções, garantem um melhor relacionamento no longo prazo”, concluem os autores.

Narcisista x emocionalmente inteligentes

Antes de se gabar ou de se sentir mal, é preciso frisar que as pessoas não são OU narcisistas OU emocionalmente inteligentes: dá para ser os dois, e a maioria de nós tem um pouco dessas duas características. Além disso, os pesquisadores não encontraram nada que indique que quanto mais narcisista, menor a inteligência emocional ou vice-versa. Essas características são independentes.

É verdade que algumas combinações podem ser mais problemáticas. Quem combina um grau extremo de narcisismo e inteligência emocional pode cultivar aliados duradouros com muito sucesso – mas é também um potencial sociopata manipulador. (Mas podemos ficar tranquilos: no estudo em questão, pouca gente tinha essa característica). Outra combinação ruim é a do outro extremo: pessoas que apresentam um grau baixíssimo de narcisismo e também de inteligência emocional: esses indivíduos foram os que menos fizeram amigos no estudo.

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O que funciona para cada um

Esses resultados não indicam necessariamente que narcisistas são mais infelizes. Os autores lembram que a elevada autoestima pode ajudá-los a levar na boa a perda de admiradores e lhes permite sair em busca de amigos novos sem grandes problemas. E isso pode funcionar muito bem para eles.

Os emocionalmente inteligentes, ao contrário, parecem não ver essa coisa de fazer amigos e influenciar pessoas como um fim em si mesmo. Para eles, o que importa é a relação a ser construída, não o que ela pode lhes proporcionar em termos de prestígio.

No final das contas, o segredo para ser popular – com amigos de verdade – não é nenhuma novidade: seja legal, mostre empatia e invista em relações pessoais e não superficiais.

O estudo: “Do Narcissism and Emotional Intelligence Win Us Friends? Modeling Dynamics of Peer Popularity Using Inferential Network Analysis”. Anna Z. Czarna, Philip Leifeld, Magdalena Śmieja, Michael Dufner e Peter Salovey.

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