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O papel do machismo nos casos envolvendo atiradores em escolas

Por Ana Prado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 4 set 2024, 15h06 - Publicado em 23 out 2017, 18h23

Só neste ano, bebês já atiraram em 23 pessoas nos EUA

Notícias envolvendo ataques de atiradores em escolas, como o que aconteceu há alguns dias em Goiânia, sempre suscitam discussões sobre o que leva as pessoas a cometerem atrocidades assim. Pesquisadores da Universidade Estadual de Portland, nos EUA, investigaram 29 tiroteios em massa em escolas americanas entre os anos de 1995 e 2015 e chegaram a algumas características comuns entre os 31 garotos envolvidos nos casos.

Segundo Kathryn Farr, autora principal do estudo (que foi publicado recentemente no jornal Gender Issues), os responsáveis por esses ataques lutavam para se encaixar naquilo que percebiam como o ideal de masculinidade reinante em suas escolas.

Ela explica que o status social dos meninos nesse ambiente é determinado em grande parte pela aceitação dos colegas – e essa aceitação depende basicamente de ser considerado “macho o suficiente”. Para isso, eles devem obedecer a regras que geralmente envolvem ser heterossexual e durão, além de se afastar de “coisas de maricas” e se envolver em atividades e maneirismos típicos dos “caras”.

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Todos os 31 atiradores descritos no estudo não se encaixavam nesse padrão e tinham grandes problemas na escola por causa disso. Eles sofriam bullying, recebiam apelidos com referências homossexuais e femininas e sofriam rejeição de garotas e colegas do sexo masculino. Alguns até mesmo relataram terem sido vítimas de agressões físicas e sexuais de outros garotos.

Para tentar se defender, muitos deles acabavam provando sua masculinidade de forma exagerada ao se mostrarem excessivamente agressivos. Alguns, por exemplo, levaram armas para a escola, ou começaram a representar temas violentos em seus textos, desenhos e apresentações de aula. Isso prejudicava ainda mais o status social já baixo dos meninos, e as respostas negativas que recebiam faziam com que se sentissem ainda mais injustiçados. E quanto mais injustiçados se sentiam, mais eles ficavam irritados, deprimidos e violentos, e desenvolviam um rancor profundo contra aquelas pessoas – situação que acabou culminando nos ataques com tiros nas escolas.

Precauções

É claro que esse problema, se considerado isoladamente, não é o suficiente – muitos meninos sofrem bullying e poucos deles têm essa reação extrema. Outros fatores contribuíram: por exemplo, dez dos 31 atiradores tiveram histórico de sérios problemas psiquiátricos, enquanto outros dez cresceram em famílias extremamente abusivas. Os outros 11 tendiam a reagir de forma explosiva e inadequada a incidentes que lhes pareciam injustos.

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Farr acredita que as escolas têm um papel fundamental em evitar casos semelhantes. Além de alertar os alunos para a incidência de episódios com atiradores e apontar os possíveis sinais de alerta que precisam ser relatados, é necessário que se promovam discussões sobre padrões de masculinidade e outras questões de gênero.

“Quantas vezes os adolescentes têm a oportunidade de conversar uns com os outros sobre normas de masculinidade e seus desafios, incluindo aquelas que incitam a violência ou o bullying? Essas discussões em sala de aula também podem ajudar as escolas a identificar e dar valor a atividades que possam interessar àqueles que não se encaixam nesse padrão vigente”, diz a autora.

Por fim, ela ainda adverte contra a estigmatização desnecessária de adolescentes com problemas: “Embora muitos meninos mostrem comportamentos e atitudes de risco, muito poucos se tornarão atiradores da escola”.

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(Via Medical Xpress).

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