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Deriva Continental

Por Sociedade Brasileira de Geologia (SBG) Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Um blog para terráqueos e terráqueas interessados no que aconteceu nos 4,5 bilhões de anos em que não estiveram por aqui. Feito pela Sociedade Brasileira de Geologia (SBG) em parceria com a Super.
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Uma breve história da meteorítica contada por 13 meteoritos

Do meteorito que virou uma estátua de Buda ao que foi confundido com minério, conheça os pedaços do céu que fizeram história na Terra

Por Grupo de trabalho de meteoritos da SBG
Atualizado em 6 set 2024, 10h30 - Publicado em 3 fev 2022, 18h53

Este é o nono texto do blog Deriva Continental. Colaboraram na elaboração e edição da matéria: Álvaro Penteado Crósta, Débora Correia Rios, Maria Elizabeth Zucolotto, Kátia Leite Mansur, Natalia Hauser, Wolf Uwe Reimold e Umberto Giuseppe Cordani.

O que você precisa fazer quando acha um meteorito? Como explicamos no último texto do blog, o Brasil não tem uma legislação específica sobre meteoritos encontrados em locais públicos. Mas a gente explica o que você deve fazer: entrar em contato com uma instituição de pesquisa, para que os cientistas possam estudar, classificar, e registrar a rocha encontrada.

Existem cerca de 70 mil meteoritos reconhecidos e catalogados no Meteoritical Bulletin, mantido e atualizado pela The Meteoritical Society. Deste catálogo, apenas 84 foram encontrados no Brasil. A seguir, conheça alguns dos meteoritos mais raros e importantes que já foram registrados ao longo da história.

Os anciões

Desde os tempos mais remotos existem relatos de quedas de pedras do céu. Se até hoje a passagem de um meteoro causa admiração e espanto, no passado isso era ainda mais intenso. Muitas vezes o fenômeno era considerado sinal da ira dos deuses ou um presságio de guerras ou pragas.

Só existem três meteoritos preservados da antiguidade. Um deles é o Nõgata, que caiu no ano 861 e está preservado em um templo xintoísta no Japão. Já o “Buda do Espaço” é um meteorito que caiu há cerca de 10 mil anos, com um detalhe: ele foi esculpido e transformado em uma estátua tibetana, em forma de Buda. Ninguém sabe ao certo quando a rocha foi esculpida. A estátua foi descoberta em 1939 pelo militar nazista Ernst Schäfer, durante uma expedição ao Tibete. Ele foi atraído pelo fato da imagem conter uma cruz suástica (ao contrário) em seu centro.

Meteorito esculpido em formato de buda.
(Elmar Buchner/Divulgação)

O terceiro da lista é o lendário meteorito de Ensisheim. Ele caiu na cidade medieval da Alsácia, na França, em 1492, poucos dias antes da visita do rei Maximiliano I, que viria a se tornar imperador do Sacro Império Romano-Germânico. Na época, circulou o boato de que a pedra era um presságio de que Maximiliano venceria a batalha contra os franceses.

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Dito e feito. Ao retornar vencedor da batalha, Maximiliano decretou que a pedra seria preservada na igreja de Ensisheim, na França. Cuidada por um grupo chamado “Guardiões do Meteorito de Ensisheim”, a rocha resistiu às destruições da Primeira e Segunda Guerra Mundial, e hoje é celebrada como um tesouro cívico.

O iluminista

No século XVIII, a corrente filosófica iluminista buscava explicações racionais para fenômenos desconhecidos. Por isso, os relatos de rochas ou objetos metálicos vindos do espaço eram considerados superstições dos camponeses.

No final do século, o físico Ernst Chladni sugeriu que o ferro Pallas (atualmente conhecido como meteorito Krasnojarsk) seria um objeto extraterrestre. Foi isso que definiu os pallasitos: um tipo de meteorito que contém grandes cristais verdes de olivina, (um silicato de ferro e magnésio), em uma matriz de ferro-níquel. Ele foi o primeiro a ser atacado com ácido e a mostrar as estruturas de Widmanstätten, típicas em meteoritos férricos e em alguns palasitos.

Meteorito Krasnojarsk.
(National Museums Scotland/Divulgação)

Em 1803, 311 anos após a descoberta do meteorito Krasnojarsk, houve uma queda de múltiplos meteoritos na cidade de L’Aigle, na França. Isso atraiu o cientista Jean-Baptiste Biot, que confirmou a natureza extraterrestre dessas rochas. Com isso, Biot também validou a origem de um grande número de outros meteoritos.

Os brazucas

O maior  e possivelmente mais famoso meteorito entre os brasileiros é o de Bendegó. Pesando 5.360 quilos, ele foi encontrado em 1784 no sertão da Bahia por um vaqueiro. Naquela época, não se sabia que os meteoritos vinham de fora da Terra. Em 1820, o Bendegó foi um dos primeiros meteoritos a serem reconhecidos no mundo. Mas não era o maior neste tempo: o el Chaco, um meteorito argentino de 28.840 quilos, já havia sido descoberto em 1576.

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Um dos meteoritos mais famosos do mundo é o Angra dos Reis, que caiu no estado do Rio de Janeiro. Ele caiu em 1864 no mar, em frente à Igreja de Bonfim, e foi coletado por dois homens escravizados. Ele deu origem a um novo tipo de meteorito: os angritos.

Os angritos formam um grupo de meteoritos raros do tipo acondrito. Estes meteoritos são originados nos interiores de corpos celestes diferenciadas, que possuem camadas com diferentes composições, como a Terra, quando o sistema planetário estava se formando. Desse modo, eles são registros fundamentais da composição do universo primordial e trazem informações sobre a evolução do Sistema Solar.

Meteorito encontrado em Angra dos Reis.

(URFJ/Divulgação)

O maior meteorito brasileiro, na verdade, não existe mais. Ele teria sido o Santa Catharina, descoberto em 1875 na Ilha de São Francisco do Sul (SC). Ele pesava mais de 20 toneladas e é o meteorito com maior teor de níquel já encontrado no mundo. Lamentavelmente, sem saber que era um meteorito, a pessoa que descobriu a raridade vendeu-a como minério – e o Santa Catharina foi fundido na Inglaterra.

Os (quase) vivos

O meteorito Orgueil caiu perto de Toulouse, na França, em maio de 1864. A semelhança entre os compostos orgânicos presentes nele e os hidrocarbonetos de origem biológica da Terra levantou a possibilidade de vida extraterrestre. A determinação das propriedades ópticas do material orgânico, no entanto, indicou que sua origem não estava associada a processos biológicos.

Já o meteorito carbonáceo Murchison, caído na Austrália em 1969, tem hidrocarbonetos mais complexos, como aminoácidos e açúcares, considerados como “blocos fundamentais da vida”. A queda do meteorito Águas Zarcas, na Costa Rica, em 2019, revelou mais compostos orgânicos. O estudo desses casos ainda está em andamento, e podem ter impacto na astrobiologia.

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Meteorito colorido encontrado em Águas Zarcas.
(Arizona State University/Divulgação)

O gigante

O maior meteorito do mundo é o Hoba West, do norte da Namíbia, que pesa aproximadamente 60 toneladas. Estima-se que esse seja o maior tamanho que um meteorito pode alcançar na Terra sem ser fragmentado na atmosfera.

Meteorito Hoba West.
(Sergio Conti/Divulgação)

Meteoritos maiores do que isso são freados pela atmosfera e reduzem sua velocidade cósmica em até 50%. Ao se chocarem com a Terra, essas grandes rochas produzem uma explosão de magnitude superior à das bombas atômicas, o que resulta na destruição tanto do meteorito quanto das rochas da superfície, formando crateras de impacto.

Em casos excepcionais (geralmente em crateras menores), é possível encontrar fragmentos do meteorito, como é o caso da famosa Meteor crater no Arizona, nos Estados Unidos. A cratera foi formada há cerca de 50 mil anos pela queda do meteorito metálico Canyon Diablo e deixou uma cratera de aproximadamente 1 km. O maior fragmento recuperado pesa 639 quilos.

Cratera de meteoro no Arizona.
(NASA/Divulgação)

Bônus: As maiores explosões atmosféricas

Explosões atmosféricas de meteoroides são o que formam as “bolas de fogo”, que geram um brilho intenso no céu. Elas ocorrem quando um pequena partícula extraterrestre entra ionizada na atmosfera terrestre e libera grande energia.

Essas explosões acontecem entre 5 e 50 quilômetros de altitude da superfície terrestre. Supondo que o diâmetro mínimo original do meteoroide seja equivalente ao de uma laranja, a explosão será suficiente para produzir um brilho intenso, seguido de um estrondo sônico causado pela onda de choque gerada. Essa onda de choque, dependendo da intensidade, pode atingir a superfície e provocar tremores de terra em locais próximos.

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Ainda que relativamente incomuns, fenômenos desse tipo foram registrados no passado relativamente recente. Um exemplo é o bólido de Curuçá, uma explosão atmosférica de grande intensidade que ocorreu no dia 13 de agosto de 1930, no vale do Rio Curuçá (AM), próximo à divisa entre Brasil e o Peru. Por ser uma região bastante remota, ela só foi registrada com base no testemunho de um padre italiano chamado Fedele D’Alviano.

O padre chegou ao local como missionário poucos dias após o evento. Em 1931, ele publicou relatos dos habitantes ribeirinhos no jornal Vaticano L’Osservatore. Os relatos mencionam bolas de fogo cruzando o céu, além de três explosões distintas e muito fortes, seguidas de tremor de terra. Ele termina dizendo que, durante algumas horas após o evento, uma nuvem de cinzas muito finas caiu sobre a região, encobrindo parcialmente a vegetação. O fenômeno foi visto e ouvido em locais a 200 quilômetros do Rio Curaçá. O tremor de terra decorrente da explosão foi registrado pelo único sismógrafo então operante na América do Sul, situado em La Paz, na Bolívia.

A maior e mais intensa explosão atmosférica contemporânea foi o evento de Tunguska, na região da Sibéria, em 30 de junho de 1908. Entre 5 e 15 quilômetros da superfície, um meteoroide explodiu liberando 20 megatons de energia. Para efeito de comparação, a bomba atômica que destruiu Hiroshima na Segunda Guerra Mundial liberou 50 megatons de energia.

Evento de Tunguska
(CreativeCommons/Reprodução)

O efeito das ondas de choque destruiu uma área de 2.000 km2 de floresta. Felizmente, a população local na época era reduzida e esparsa, então não houve registro de mortes. Se um evento desse porte ocorresse, por exemplo, próximo a uma cidade como Aracaju (com mais de 600 mil habitantes), toda a população seria dizimada.

Para despertar a consciência da sociedade sobre os riscos associados ao impacto de corpos celestes contra a Terra, a ONU aprovou, em 2014, o “Dia Internacional do Asteroide”, adotando a data da explosão de Tunguska, 30 de junho. Desde então, o Dia do Asteroide tem sido celebrado anualmente por meio de atividades de extensão científica-culturais promovidas em museus, universidades, clubes de astronomia, entre outros.

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Outro fenômeno desse tipo que aconteceu há pouco tempo foi a explosão de um bólido próximo à cidade de Chelyabinsk, também na Rússia, em 15 de fevereiro de 2013. Um meteoro estimado de 20 metros de diâmetro explodiu a pouco mais de 20 quilômetros de altitude, em um local relativamente próximo à cidade de um milhão de habitantes

A energia liberada foi calculada em 500 quilotons. A onda de choque estilhaçou o vidro das janelas de mais de 7 mil casas e edifícios, ferindo 1,5 mil pessoas. No total, cerca de seis toneladas de meteoritos foram recuperados. A maioria media apenas alguns centímetros, mas alguns exemplares eram maiores – um deles chegando a pesar 570 quilos.

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