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Por Maria Clara Rossini
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Bianca Rangel estuda o impacto da poluição em tubarões urbanos

Após estudar raias que tem leite e útero como se fossem mamíferos, a #MulherCientista desta semana analisou o sangue de tubarões que moram perto de Miami – e viu que eles têm uma dieta típica de fast-food.

Por Maria Clara Rossini
Atualizado em 23 abr 2021, 18h17 - Publicado em 23 abr 2021, 18h15

Boa parte dos biólogos que estudam animais marinhos acabam abraçando a causa ambiental depois de fazer as primeiras pesquisas sobre eles – e descobrir que a situação não é das melhores. 

Com a pesquisadora Bianca Rangel, foi diferente. Ela começou a se interessar por conservação ambiental quando ainda trabalhava como eletricista em uma empresa, e logo depois se tornou voluntária do grupo ativista Sea Shepherd, que atua principalmente na proteção de baleias.

Os mamíferos marinhos são os queridinhos do público, mas Bianca percebeu que pouca gente se importa com os tubarões e raias, um grupo de peixes de esqueleto cartilaginoso denominados elasmobrânquios.

Ela já entrou no curso de biologia da Uninove querendo estudar os elasmobrânquios. Devido à falta de oportunidades de pesquisa em faculdades particulares, Bianca se juntou a uma orientadora da Universidade de São Paulo (USP) para uma iniciação científica uma pesquisa realizada por um aluno de graduação.

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Lá, ela passou a estudar a morfologia de estruturas microscópicas desses animais em laboratório. Após terminar a graduação, Bianca foi fazer mestrado na USP e migrou para a pesquisa de campo em fisiologia, o que envolve estudar raias e tubarões vivos.

Talvez você já tenha visto, em alguma rede social, vídeos de grandes grupos de raias em migração. Muitas delas são da espécie Rhinoptera bonasus.

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Além de formarem imagens aéreas encantadoras, essas raias são interessantes por causa de sua gestação. A R. bonasus passa 12 meses carregando um único filhote (em vez de pôr ovos, que é o comum entre peixes).

Além disso, ela secreta uma espécie de leite pela parede do útero para nutrir sua cria. Ou seja: essa raia é um elasmobrânquio que evoluiu, por uma via totalmente diferente, características que nós normalmente associamos a mamíferos.

O líquido das raias não chega a ser igual ao leite de humanos ou vacas, mas mesmo assim tem uma composição bioquímica bem complexa. No mestrado, Bianca quis entender como esse tipo inusitado de nutrição influenciava a vida dos filhotes ao nascer.

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Alguns filhotes de Rhinoptera bonasus nascem na cidade de Bertioga, litoral de São Paulo. As mães usam a região como berçário, dão à luz ao filhote por lá e depois migram para outros lugares. Sem as mães por perto, os filhos únicos criam uma comunidade para se ajudar. O comportamento social da espécie já era observado nas raias adultas, e a pesquisa de Bianca verificou que ele está presente desde o primeiro ano de vida.

Essa ajuda mútua faz com que as raias aprendam a procurar comida bem cedo. Por causa do “leite” secretado no útero, elas já nascem com muitos nutrientes necessários ao desenvolvimento, como os ácidos graxos essenciais. Os tubarões placentários, por outro lado, nascem com um bom estoque de energia no fígado, mas com poucos ácidos graxos essenciais. Eles demoram mais para aprender a caçar, e até lá precisam conviver com esse déficit nutricional.

Tudo isso pode ser visto apenas por análises do sangue desses animais, não é necessário matá-los. A pesquisadora fez análises semelhantes no doutorado, mas dessa vez verificou o impacto da poluição nos tubarões que vivem próximos à cidade de Miami. A espécie escolhida para a pesquisa foi o tubarão-lixa (Ginglymostoma cirratum), já que esses animais tendem a permanecer em uma mesma região ao longo da vida. 

O que ela verificou foram consequências de uma típica dieta de fast-food: tubarões mais gordinhos e com altos índices de gordura saturada no sangue. O mais provável é que isso seja consequência do esgoto da região. Esses tubarões também têm poucos ácidos graxos essenciais, como o ômega 6, o que pode dificultar a reprodução futuramente.

A bióloga faz o doutorado em parceria com a Universidade de Miami devido a falta de financiamento para estudar os tubarões do Brasil. Foi só nos últimos anos que ela conseguiu verba para estudar cinco espécies de tubarões em Fernando de Noronha, onde faz expedições para coleta de tempos em tempos.

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O primeiro objetivo é entender o básico: o que esses animais comem e como se reproduzem. Depois, Bianca pretende verificar se o aumento do turismo na ilha está tendo algum impacto sobre eles, como aconteceu com os tubarões de Miami.

Para o pós-doutorado, a cientista pretende mergulhar nos impactos da urbanização em áreas de berçário de tubarões e raias ameaçados de extinção. Muitas espécies utilizam regiões costeiras rasas para viver nos primeiros anos de vida, e por isso acabam expostas à poluição química, sonora e luminosa. Esse estudo poderá, por exemplo, propor medidas de conservação para as espécies e estimular melhorias no tratamento de esgoto.

Sejam as raias que fazem cosplay de mamíferos, ou tubarões inexplorados de Fernando de Noronha, o Brasil ainda conhece pouco sobre seus elasmobrânquios. O objetivo da pesquisadora é contribuir com o mapeamento das espécies que vivem ao redor do País. Afinal, o único jeito de preservar a biodiversidade brasileira é sabendo que ela está lá.

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