Cultura X Cultura
Esta semana, a revista Veja traz uma reportagem sobre os infanticídios praticados em aldeias indígenas no Brasil. A cultura dessas tribos obriga que os bebês que nascem com algum defeito físico – ou mental – sejam mortos pelos pais ou parentes. É uma espécie de “seleção natural”. Para eles, somente os mais fortes e saudáveis podem dar continuidade à aldeia; assim, os mais fracos são eliminados.
A história da menina Hakani dá bem a medida da crueldade dessa prática. Ela não se desenvolveu na mesma velocidade que as outras crianças da sua tribo e, por isso, foi condenada a morrer. Só que ela sobreviveu a diversos ataques, inclusive ao de uma flechada entre o ombro e o peito, e, a partir daí – até os 5 anos -, foi abandonada na aldeia, só comendo restos de comida. Mas o final dessa história foi diferente do da maioria: um casal de missionários adotou-a, depois de um processo que levou cinco anos para ser encerrado.
A decisão da Justiça demorou tanto porque um antropólogo do Ministério Público acreditava que, com seu interesse em salvar a indiazinha, o casal ameaçou a cultura daquela tribo. Para ele, a tentativa de assassinato é “uma prática cultural repleta de significados”.
E a Fundação Nacional do Índio (Funai) também tem uma visão semelhante sobre essas questões. Vetou a transferência de uma criança para Brasília para receber cuidados médicos por acreditar que um índio isolado não poderia viver na civilização. Depois que o caso saiu na mídia, a Funai voltou atrás e permitiu que a criança vá para a cidade a cada três meses, para se tratar.
E então? Até que ponto a cultura de um povo deve ser respeitada? Até que ponto nós, “civilizados”, podemos/devemos interferir em uma outra cultura, como nestes casos? Proibir esse tipo de prática não significa obrigá-los a desrespeitar seus princípios ou o direito à vida está acima de tudo?