O sertão vai virar mar?
O bispo de Barra, na Bahia, d. Luiz Flávio Cappio, trouxe de volta à atenção da mídia a transposição do rio São Francisco ao iniciar, há 23 dias, uma greve de fome. Foi o único meio encontrado por ele para tentar retomar as negociações com as autoridades públicas. A questão não é simples e diversas perguntas surgem na cabeça:
O que está acontecendo?
O bispo Cappio, que já tinha feito uma greve de fome contra as obras em outubro de 2005, voltou a jejuar para que o governo retome as negociações e modifique os projetos para o rio, que nasce em Minas Gerais e cruza a Bahia até desaguar no Atlântico. Para a autoridade da igreja católica, existem diversas alternativas à transposição para conseguir levar água às regiões com déficit hídrico do Nordeste. A idéia do governo é construir centenas de quilômetros de canais para que a água chegue aos que precisam.
O governo decidiu, porém, que não negociaria mais com o bispo e o Supremo Tribunal Federal liberou para que as obras reiniciassem, derrubando a decisão de um juiz que as suspendia. Os ministros, por 6 votos a 3, negaram o pedido de paralisação feito pelo procurador-geral da República, que acreditava que o governo não cumpriu as exigências necessárias para executar o projeto.
Ao saber do resultado, bispo Cappio foi internado em um hospital por causa de fraqueza e pressão arterial baixa.
Por que o governo defende tanto o projeto?
Desde quando Lula assumiu a cadeira de presidente pela primeira vez, a transposição (mudar de lugar) foi uma de suas principais bandeiras de sua campanha política. As autoridades públicas acreditam que esse projeto – que envolve cerca de R$ 4,5 bilhões – é o melhor meio para atingir a população com déficit hídrico. Pelas contas oficiais, aproximadamente 12 milhões de pessoas seriam beneficiadas diretamente com a mudança, já que geraria oportunidades de trabalho e combateria a fome, a pobreza e a migração. Outro argumento é que o sucesso da construção de mais de 700 quilômetros de canais seria o fim da indústria da seca, na qual políticos usam carros-pipa cheios de água para conseguir votos.
O ponto mais importante, porém, é o impacto ambiental que tais mudanças poderiam provocar. O governo afirma que já combate a poluição que as populações ribeirinhas geram e evita outros problemas que poderiam acontecer, como o acúmulo de bancos de areia que impossibilitariam a navegação e comprometeriam a biodiversidade do rio.
Por que o bispo é contra?
De acordo com o próprio bispo, existem mais de 500 alternativas que são melhores do que a proposta pelo governo. A transposição não acabaria com a dependência de água que muitas regiões têm. Além disso, poderia afetar a economia da região, uma vez que o custo da água seria muito caro. E não pense que só o Nordeste seria afetado. Segundo os opositores, o custo da energia aumentaria em todo o Brasil, pois o sistema é interligado por todo o país e o potencial hidrelétrico da região cairia.
Na parte ambiental, os que são contrários afirmam que ainda há o que se questionar do processo de licenciamento ambiental para a obra e que haveria perda de terras férteis e ameaçaria a biodiversidade terrestre e aquática da região.
Agora, uma pergunta continua: quem está certo?
Algumas reportagens que podem ajudar a esclarecer melhor a situação:
Transposição do São Francisco: polêmica sem fim
A greve de fome é uma boa forma de protesto?
O Velho Chico dá assunto para muita escrita e leitura