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Lost no purgatório: editor da Superinteressante comenta final

Por Redação Super
Atualizado em 19 ago 2024, 14h57 - Publicado em 26 Maio 2010, 17h43

ATENÇÃO! SE VOCÊ NÃO VIU O EPISÓDIO FINAL DA SÉRIE, SAIBA QUE O TEXTO ABAIXO CONTÉM SPOILERS!

Por Alexandre Versignassi

Foi passar meia-dúzia de episódios da primeira temporada para todo mundo ter certeza de que a ilha era o purgatório (o lugar onde você tem que fazer estágio antes de ser aceito no céu). Tinha sentido: os primeiros flashbacks mostravam os pecados e as frustrações de cada personagem. E a ilha era o lugar das redenções. Purgatório.

Seria um bom final para uma minisérie com uma dúzia de capítulos. E era para ser isso mesmo: os produtores tinham certeza de que Lost não passaria da primeira temporada, disseram isso várias vezes.

Mas aí veio o problema: o povo gostou demais da série. E os produtores ganharam um contrato para continuar por anos no ar (num primeiro momento, a ABC queria que Lost fosse eterno, enquanto durasse a audiência). Mas e agora? Como enrolar anos pra terminar com um final que todo mundo já tinha adivinhado?

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Desmentir esse final, ué! Foram várias entrevistas dizendo que, não, eles não estão mortos. Que tudo ali era real e blá blá blá. Segundo passo: bolar histórias que se fechem em si mesmas, na medida do possível, enquanto o final original, o do purgatório, esperava na geladeira. E aí tome estações da Dharma, vila dos outros, tribo dos hostis, estátua, templo, Jacob, Samuel… Ah, pegadinha: esse era o nome do Homem de Preto nos scripts. Só não usaram na história para fazer charme, para inventar “mistério” onde não havia nada.

Aí veio o último capítulo e descobrimos que realmente não havia nada. A cabeça dos criadores estava vazia. Todos os mistérios importantes eram falsos. Tinham sido concebidos sem conclusão. Claro. Se a ideia original era a de que a própria ilha fosse o purgatório, quando ela deixa de ser, por decreto dos produtores, ela própria deixa de fazer sentido. Por isso a série acabou sem falar nada sobre a natureza mitológica da ilha. Transformaram ela num mundo “Caverna do Dragão”. Uma terra sobrenatural sem um propósito convincente.

E aí… chegou a hora de o programa terminar. Mickey Mouse tinha que partir. E o que fizeram? Em vez de bolar alguma coisa que amarrasse o mínimo que fosse as (ótimas) histórias que tinham criado para ganhar tempo, os produtores pularam fora do próprio barco. Resolveram manter aquele que seria o final original. Mas com outro purgatório, a realidade alternativa, já que a ilha tinha ganho o status de “lugar real”.

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Fizeram provavelmente o mesmíssimo final que tinham na cabeça lá atrás. Christian Shephard é a maior evidência disso. Vemos o caixão dele vazio logo no comecinho da série. E o próprio Christian surge para Jack no mato – mas ainda sem falar nada.

Ele só falaria no final da primeira e única temporada imaginada originalmente para Lost. A cena: Jack encontraria Christian na praia (ou em uma eventual igrejinha que tivessem contruído na ilha). E…

– Pai, o que vc está fazendo aqui se está morto?

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– O que VOCÊ está fazendo aqui, Jack?

– Então eu morri! Todo mundo aqui morreu…

Fim.

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E seria bom. O problema foi colocar esse final agora, improvisado, como se nada tivesse acontecido entre a primeira e a última temporada.

É disso que boa parte dos fãs reclamou. Só que, na real, não aconteceu nada mesmo entre a primeira e a última. Histórias inconclusivas não são histórias. São passatempos. As viagens no tempo, os templos, a coisa de apertar o botão a cada 108 minutos para salvar o mundo… Foram brincadeiras bem legais. Mas soltas, sem nenhuma relevância para a história que tinham para contar.

Vender essas brincadeiras como elementos que formariam uma saga foi estelionato. Para piorar, a própria Lostpedia estava cheia de idéias de fãs que dariam conta de resolver tudo. De fundir aquela miríade de histórias sem pé nem cabeça numa narrativa coerente. A criatividade coletiva dos fãs tinha ultrapassado com folga a dos produtores. Mas eles preferiram fechar os olhos. Para um pecado desses, não tem purgatório.

E você, o que você achou do capítulo final da série? Comente aqui.

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