Terapia macabra
O lado auto-ajuda do criador de Zé do Caixão
Na segunda passada, a reportagem da SUPER se uniu à da revista Mundo Estranho para entrevistar José Mojica Marins, o criador de Zé do Caixão. O cineasta de 71 anos está concluindo seu mais novo filme, A Encarnação do Demônio, previsto para estrear em outubro. A “fita” – como ele diz – é sua mais cara e ousada obra, e completa a trilogia do folclórico serial killer de unhas compridas que foi iniciada há mais de 40 anos.
Na entrevista, Mojica falou sobre mortes misteriosas nos sets de filmagem de seus filmes (entre elas, a do ator Jece Valadão), contou como fez o primeiro filme pornô do Brasil protagonizado por um cachorro e deu outros incríveis depoimentos, que você vai poder conferir em algumas semanas, no site da Mundo Estranho. Mas falamos disso depois. O que interessa agora é que revelamos mais dois lados inusitados do cineasta, o de consultor de imagem profissional e o de professor de auto-ajuda.
Consultoria Zé do Caixão
Num boteco do bairro de Santa Cecília, em São Paulo, entre uma gin tônica e outra, degustando uma oleosa porção de calabresa, Mojica nos contou que seus principais clientes são detetives, vendedores, políticos e… líderes religiosos.
E o que ele ensina? Malandragem, jogo de cintura, como ser ator no cotidiano. “Imagine um detetive tirando fotos de uma mulher. Se ele for pego por um marido, praticamente vai ter que inventar uma história para se livrar de problemas. Na hora ele precisa ser artista, chorar, dizer que tem família e filhos pequenos…”, diz Mojica.
Para políticos, ele ensina expressão corporal e como falar em público. É claro, personagem é personagem e Mojica é Mojica, mas tente imaginar o discurso de um político treinado por Zé do Caixão: “Você! Se não votar nos meu projeto (sic), se não aderir à minha bancada seu cérebro vai ferver e sua boca vai ficar cheia de escorpião venenoso!”
Mojica ainda tem conselhos para líderes religiosos: “o camarada não pode ficar falando de dízimo o tempo todo. Nem pode pedir dinheiro dizendo que Jesus era pobre e depois ser visto por aí com roupas caras e carro importado. Se o padre quiser demonstrar que tem dinheiro, que faça isso longe da igreja, onde ninguém vai poder vê-lo”.
Auto-ajuda infernal
O cineasta também falou sobre os polêmicos testes que aplicava para contratar colaboradores para seus filmes. O ator Mário Lima, por exemplo, presente em quase todos os trabalhos de Mojica, foi enterrado vivo durante um teste e quase morreu. Uma chuva inesperada alagou o local e fez com que o resgate do ator ficasse quase impossível. Mas tudo deu certo e Lima inclusive dividia a calabresa com os repórteres no dia da entrevista.
Mojica afirma que não se tratava apenas de escolher gente para participar dos filmes. Ele queria que as pessoas enfrentassem seus medos mais profundos. O próprio Lima depois fez tranqüilamente vários filmes em que esteve em situações tão claustrofóbicas quanto as do teste.
O cineasta diz também ter ajudado a curar um ator com problemas cardíacos testando-o com choques elétricos. E continua: “Uma vez uma menina linda e recém-casada veio trabalhar comigo. Fiquei sabendo que ela apanhava do marido, que também era da equipe. Aí eu disse: ‘chamem o cara mais feio que vocês encontrarem no set’. E veio um homem horrível mesmo. Mandei a menina beijar o sujeito ali, na frente do marido. Ela beijou. E nunca mais apanhou”.
Isso é o que chamamos de terapia de choque. Quer conferir de perto? Mande ver.