Tocadores de silêncio
Fones de ouvido para quem não quer barulho
Com a popularização dos tocadores de mp3, é cada vez mais fácil ver pessoas usando fones de ouvido. O custo da trilha sonora pessoal é alto: o som ambiente das cidades nos força a aumentar o volume dos players para conseguir escutar algo. Estaríamos condenados a detonar nossos tímpanos?
Não exatamente. Nesta semana, um dos mais importantes sites especializados em tecnologia, CNET, deu destaque para um fone que consegue “tocar” silêncio. Quer dizer, quase consegue. Ele tem um microprocessador que analisa os ruídos do ambiente e emite ondas sonoras com padrões inversos a eles. Isso faz com que as ondas “cancelem” umas às outras, dando a sensação de ausência de barulho.
O Kensington noise-canceling custa US$39.99 e pode ser comprado na loja Overstock. A idéia do fabricante é que o fone seja usado não apenas para ouvir música, mas também para proteger os ouvidos do usuário em situações cotidianas.
Já ouvi isso antes
Parece novidade, mas não é. A Kensington não foi a única a lançar esse tipo de produto. A Direct Sound também tem o seu EX29 Extreme Isolation Noise e a Sennheiser tem pelo menos quatro modelos na mesma linha. E se você entende de eletrônica, também pode construir o seu, seguindo estas instruções.
No site de Fernando Iazetta, professor de música e tecnologia da ECA (USP), há mais informações sobre como o cancelamento pode acontecer: “Para duas ondas de mesma freqüência e amplitude, mas defasadas em 180º, as amplitudes estão exatamente opostas, cancelando-se totalmente”.
Todos estão surdos
Mais que uma curiosidade, os fones canceladores de ruído tentam lidar com um dos problemas mais estressantes da atualidade, o da poluição sonora. Mas também esbarram em dois outros aspectos:
Tecnológico – ok, criamos aparelhos que conseguem reproduzir fielmente cada freqüência que o ouvido humano possa captar. Mas aí você tem de instalá-lo no seu apartamento barulhento, com instalações elétricas sucateadas, que influenciam na qualidade do som.
Comportamental – Afinal, quando é que você tem tempo de parar tudo e ouvir música com concentração, reparando em todos os detalhes?
No começo do século 20, o sociólogo Theodor Adorno causou polêmica ao dizer que sofríamos de “regressão da audição”. Segundo ele, ouvimos música em segundo plano, enquanto fazemos outras coisas. Ou seja: experimentamos muito pouco da música. Mais ou menos como quem tenta fazer sexo enquanto lê um livro.
Concordando ou não, imagine se o sociólogo tivesse conhecido os mp3 (e suas baixas taxas de qualidade técnica), a internet e os iPods? Talvez ele fosse o primeiro a encomendar um fone cancelador de barulho e nunca mais o tirasse dos ouvidos.
(Eduardo Fernandes)
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