Últimas palavras
Em abril publicamos um infográfico sobre as últimas palavras dos condenados à morte. Foi um longo trabalho com o então editor Emiliano Urbim e começou com uma simples tabela, que registrava as declarações dos condenados do estado do Texas. Abaixo vocês vêem um pouco do trabalho que tivemos com ele.
1. FORMATAÇÃO DOS DADOS
A) Não jogue nada fora
No começo, ainda não tínhamos uma ideia muito clara do que fazer, mas sabíamos que a tabela era uma fonte bem completa de informação. Por isso mantivemos a tabulação original para ter acesso às categorias dela por inteiro (raça, idade…) depois. Nossa melhor decisão de formatação aqui foi não reformatar nada. Ao longo do processo isso se mostrou muito útil, pois acabamos descobrindo novas informações/conclusões que teriam se perdido se já partíssemos de dados editados.
B) Muitas possibilidades = muita confusão
Quando já tínhamos em mente que faríamos uma word cloud — gráfico onde palavras são espalhadas e seu tamanho corresponde a uma ordem de importância/quantidade —, experimentamos fazer 3 gráficos: um pra cada raça.
Hispânicos
Negros
Brancos
Se você não viu nenhuma diferença significativa nas 3 imagens aí em cima, é porque não dá pra ver mesmo. Nosso faro de que os discursos de cada raça revelariam dferenças significativas não se confirmou e acabamos fazendo um gráfico só.
C) Separando o joio do trigo
Um erro comum desse tipo de gráfico é que a maior parte das palavras que usamos não diz muita coisa quando retirada de uma frase. Daí, preposições e artigos acabam roubando a atenção do que realmente precisa ser mostrado.
Começamos uma lista de palavras a serem ignoradas pelo software, que foi crescendo até o dia do fechamento da página — nomes próprios, verbos auxiliares, pronomes e tudo o que percebíamos não fazer sentido.
Depois disso, finalmente conseguimos uma formatação razoável, que trazia algum sentido e permitia comparações entre as palavras.
2. DESIGN
A) De que vocês estão falando?
Uma coisa importante na Super é deixar claro para o leitor de que tema estamos tratando, ao mesmo tempo que tentamos “conquistá-lo” pra ler a página. É um fator simbólico-emocional da revista e tem a ver com o jeito como trabalhamos e como achamos que o leitor responde ao nosso trabalho. A partir disso, tentamos então encaixar nosso gráfico em alguma imagem.
Cada um desses testes tinha seus defeitos — reconhecimento não muito fácil (sim, o primeiro é uma forca), associação contextual ou simbólica errada etc… Acabamos dando o braço a torcer e usando um clichê que estávamos evitando: a caveira.
P.S. em defesa dos clichês: um símbolo muito conhecido não é, em si, um problema. Pelo contrário, fazer com que o maior número de pessoas possível compreenda sua mensagem é uma virtude. Um jeito já desgastado de usar esse símbolo é que seria um clichê, pejorativamente falando. Mas isso já é outra discussão…
B) Contexto e níveis diferentes de informação
A história que queríamos contar já estava aí, mas ainda faltava um tanto de informações auxiliares — em uma página, sempre tentamos hierarquizar a informação de forma que o leitor perceba o tema principal e as histórias paralelas a ele.
Testamos várias formas de representar as informações sobre idade e raça dos condenados, para que fossem claras e significativas.
Desenhando um dos gráficos, descobrimos o aumento no número de execuções de 1995 a 2000 — descobrindo depois que o período correspondia ao mandato de George Bush como governador do Texas.
C) Qual é o melhor jeito de mostrar isso?
Por fim, ainda tínhamos a pista de que o discurso de cada raça, se analisado separadamente, revelaria diferenças. O gráfico de palavras não foi uma boa opção pra isso, pois nele as comparações individuais são mais difíceis. Então geramos 3 contagens diferentes e, analisando o ranking, confirmamos que diferenças culturais apareciam.
E esse é o resultado final. Espero que vocês tenham gostado.
abs,
Gabriel Gianordoli
@gianordoli
designer