13 trailers de filmes muito criativos
Por Jessica Soares
Colaboração para a SUPERINTERESSANTE
Tudo começou em 1913, quando um trechinho de The Adventures of Kathlyn passou na telona depois do filme da noite. Era possivelmente o primeiro trailer da história – e o primeiro capítulo de uma história marcada pela criatividade. Nos primeiros anos do trailer, a fórmula básica era repetida: títulos hiperbólicos seguidos de destaques do elenco e do enredo. Aos poucos, a coisa foi ficando mais complexa. Nos anos 1950, a variedade de experimentações com a linguagem cinematográfica também apareceu nos trailers. E inovar virou palavra de ordem. A SUPER vasculhou a história dos trailers e separou alguns dos mais criativos, em ordem cronológica. Confira como a arte de resumir tramas e atrair espectadores evoluiu:
1. De Ilusão Também Se Vive (Miracle In The 34th Street, 1947)
“Hilário! Romântico! Encantador! Terno! Emocionante!” – até o chefão do estúdio que lançaria o filme achou exagero. Foram precisos depoimentos emocionados de atores para que o empresário decidisse assisti-lo. O vídeo acima não é exatamente um trailer – está mais para um curta-metragem promocional. A grande jogada do vídeo foi levar para as telonas o que acontecia no mundo real: na época, o chefe da Fox não acreditava que o filme, que se passa no Natal, fizesse sucesso se fosse lançado no verão. No fim, o chefão fictício do estúdio se convenceu e aprovou a película. O público também: o clássico arrematou 3 estatuetas no Oscar e faturou 2 milhões de dólares (uma grande fortuna nos anos 1940).
2. Psicose (Psycho, 1960)
Fazer pequenas participações nos próprios filmes não era o bastante. Alfred Hitchcock também estava disposto a defender e promover suas criações. Com seu senso de humor peculiar, ele transformava cada trailer em um curta-metragem. Nada de cortes frenéticos ou narrações em off anunciando o destino incerto dos personagens. Alfie preferia conduzir o público em passeios inusitados, como a viagem turbulenta de Intriga Internacional ou a ~educativa~ palestra sobre a relação entre homem e aves no curta de divulgação de Os Pássaros. O passeio mais icônico, porém, é o de Psicose. No trailer do filme lançado em 1960, Hitchcock guia o público através das cenas do crime anunciado, com descrições detalhadas que aumentam a antecipação e a tensão. Ao final do tour, as mãos agarradas à cortina (e à poltrona, do lado de cá da tela) não deixam dúvidas de que o título de “Mestre do Suspense” realmente faz jus ao cineasta.
3. Dr. Fantástico (Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb, 1964)
Uma monatagem frenética e psicodélica de fragmentos do filme entrecortados por letreiros que estabelecem o clima de tensão histérica da Guerra Fria e jogam para o público as perguntas que o vídeo não se preocupa em responder. O mérito não é só de Stanley Kubrick. O trailer foi montado pelo designer cubano Pablo Ferro, cujo talento atraiu a atenção do diretor. A parceria dois dois se repetiu no trailer de Laranja Mecânica e a montagem com inconfundíveis cortes rápidos e múltiplas sequências de Ferro vem se destacando na história do cinema há quarenta anos.
4. A Noite do Iguana (The Night Of The Iguana, 1964)
Richard Burton, Ava Gardner, Deborah Kerr. O elenco estrelado talvez já fosse o suficiente para atrair o público, mas o que garantiu a A Noite do Iguana um espaço na história do cinema foi um nome bem menos alardeado: Andrew J. Kueh, um dos responsáveis pela revolução do trailer. Para divulgar a adaptação da peça de Tennessee Williams, Kuehn combinou narração em off com a voz grave de um jovem James Earl “Darth Vader” Jones e montagem com cortes rápidos no ritmo da trilha de jazz. A lógica empregada no trailer não só serviu como base para os igualmente icônicos trabalhos seguintes do americano (que assina também os trailers de Taxi Driver, Alien e Tubarão) e de toda a indústria cinematográfica.
5. O Dorminhoco (Sleeper, 1973)
Um filme intelectual, com cenas cabeça e de natureza quase didática. É assim que Woody Allen começa a apresentação de seu (então) novo filme, O Dorminhoco. Nada de inovador até aí. Mas, em um mundo dominado por vídeos promocionais que exclamam elogios aos longas que anunciam, Allen brinca com as expectativas do público e aposta no oposto: no trailer do “romance entre duas pessoas que se odeiam”, que se passa no ano de 2173, é estabelecido um jogo de contradição entre narração e imagem, que nunca passam a mesma mensagem. “Os acompanhantes de pessoas incoerentes pagam meia-entrada”, o diretor-ator-roteirista esclarece no final. Um argumento válido para quem tem saudades do velho (e bom) Woody.
6. Real Life (Idem, 1979)
Como filmar a vida real de forma bastante realista? Mostrando tudo em três dimensões, é claro! Albert Brooks apresenta a comédia Real Life, de 1979 – com um trailer “em 3D” que pouco diz sobre o filme, mas que chega ao humor nonsense. Claro que tudo não passa de uma brincadeira do comediante, que assina roteiro e direção e atua no longa. No trailer, Brooks caçoa de todas as gags visuais que continuam sendo clichês em filmes em 3D para apresentar a história de um filmmaker que convence uma família a se deixar filmar. Profético.
7. Estranhos Prazeres (Strange Days, 1995)
(Clique na imagem para assistir ao trailer)
Escapismo, sentimento de identificação e imersão sensorial. Descrita por um charmoso Ralph Fiennes, a experiência de “realidade virtual” parece bastante com a de assistir a um bom filme – uma coincidência que não acontece por acaso. O vídeo promocional do longa dirigido por Kathryn Bigelow foge do padrão e assume que está vendendo algo (no caso, o próprio filme). Pode parecer que o grande atrativo ali é a misteriosa “realidade” da qual o personagem fala. Mas, na verdade, o que você quer é assistir ao filme – e há um estranho prazer em ser fisgado assim.
8. Magnólia (Magnolia, 1999)
A realidade às vezes é mais estranha que a ficção. E o trailer do filme de Paul Thomas Anderson mostra, logo de cara, uma daquelas cenas bizarras que parecem inacreditáveis demais para ser verdade. É justamente o inesperado que une os personagens vividos por um elenco de estrelas, que se conectam em uma das cenas mais famosas de sing-along da história do cinema. O vídeo não deixa dúvidas de que Magnólia transita pelo terreno do pouco provável, mas nunca do impossível – e quem discordar, que atire o primeiro sapo.
9. Um a menos (The Minus Man, 1999)
Sabe quando você se sente tão intrigado por um filme que não consegue falar de outra coisa? É isso que o trailer de Um homem a menos sugere que acontecerá assim que você sair do cinema – mesmo que não fique claro se a discussão vai ser com elogios. Mas o protagonista, um serial killer cujas vítimas são pessoas descontentes com a própria vida, sequer aparece no vídeo promocional em questão. No lugar dele, um casal passa a noite inteira conversando sobre o enredo, os personagens e a trama do filme que acabaram de assistir, até se darem conta de que um novo dia já nasceu.
10. Femme Fatale (Idem, 2002)
Pode parecer confuso notar que, ao invés de um trailer, vemos na tela os créditos iniciais do thriller Femme Fatale, dirigido por Brian De Palma. Enquanto você tenta desvendar o mistério, a surpresa: o filme passa a ser exibido em um frenético fast-foward, que só desacelera para apresentar os principais personagens, como a sedutora ladra Rebecca Romijn e o paparazzo Antonio Banderas. A montagem serve mais para despertar a curiosidade do que para resumir o enredo. Mas dá pra captar a mensagem: um filme com muita ação, cenas sensuais, roubos e explosões. Quando os créditos finais começam a correr pela tela, vem o golpe final: “Você acabou de assistir ao novo filme do Brian de Palma. Não entendeu? Tente novamente…”
11. O Guia do Mochileiro das Galáxias (The Hitchhicker’s Guide To The Galaxy, 2005)
A sacada do trailer de O Guia do Mochileiro das Galáxias (adaptação há muito esperada – mas não tão bem recebida – do cultuado livro de Douglas Adams) é não fugir dos clichês, mas sim voltar todos os holofotes para os maneirismos repetidos à exaustão. Ao explicar o funcionamento de um trailer cinematográfico, a narração sarcástica feita pelo próprio Guia, na voz do comediante Stephen Fry, já brinca com o fato de que trailers geralmente são acompanhados de uma locução com timbre de “um homem de dois metros de altura que fumou pesadamente desde a infância”. É uma referência à voz de trovão do prolífico narrador Don LaFontaine, responsável por popularizar a frase “Em um mundo…”, abertura clichê de 9 em cada 10 trailers. Um clichê que, à propósito, é prontamente ironizado pela – ops! – explosão do planeta Terra.
12. Um Homem Sério (A Serious Man, 2009)
Com uma montagem rítmica – ao som de batidas angustiantes – o trailer do longa roteirizado e dirigido pelos irmãos Ethan e Joel Coen estabelece em apenas 60 segundos todo o sofrimento de seu sério e miserável protagonista. A vida de Larry Gopnik está desmoronando – ele precisa de ajuda. E você não consegue parar de imaginar se ele vai, em algum momento, encontrá-la.
13. The Master (Idem, 2012)
São também as batidas sufocadas que ditam o ritmo do trailer de The Master, novo longa de Paul Thomas Anderson que tem estreia no Brasil prevista para 25 de janeiro de 2013. O homem não é um animal, defende o personagem de Philip Seymour Hoffman, que parece atacar as próprias imagens que sobrepõem sua fala e o contradizem. O vídeo não revela muito do filme em que um intelectual americano carismático cria uma seita para dar um novo sentido a sua vida. E a antecipação provocada pela carência de grandes explicações prova que talvez seja melhor assim.
Você conhece outros trailers surpreendentes e criativos? Mande para nós nos comentários.