4 mortes marcantes de políticos brasileiros
Por Luíza Antunes
Uma série de acidentes aéreos chocaram o mundo em 2014. Mas, em agosto, um em especial deixou os brasileiros ainda mais surpresos. Num jato particular que caiu numa área residencial em Santos estava o candidato à Presidência da República Eduardo Campos (PSB). O político pernambucano tinha 49 anos, era pai de cinco filhos e havia participado de uma entrevista transmitida ao vivo pela TV Globo na noite anterior, na qual falava sobre seus projetos de governo. A tragédia afetou diretamente as eleições em outubro, uma vez que Campos era um dos três candidatos com maior intenção de votos.
Não é a primeira vez, porém, que a morte de um político causa comoção. Ao longo da história brasileira, a morte de nomes expressivos no cenário do Congresso Nacional já gerou muitas lágrimas, notícias e teorias da conspiração. Relembre outras quatro histórias de mortes marcantes de políticos brasileiros
1. Ulysses Guimarães
Ulysses Guimarães lutou pela redemocratização do país na época da ditadura e, mais tarde, teve papel fundamental na criação da Constituição Brasileira de 1988. Em 1973, ele chegou a lançar uma anticandidatura simbólica à Presidência da República, repudiando o governo militar. Nos anos seguintes, participou de campanhas em favor da democracia e luta pela anistia. Ele foi presidente da Assembleia Nacional Constituinte, contribuindo diretamente com os avanços adquiridos.
Em 1989, ele se candidatou à Presidência da República, mas recebeu apenas 4,4% dos votos. Era deputado federal em 1992, durante o processo de impeachment do presidente Fernando Collor de Melo. Nesse período, voltou a ganhar popularidade porque lutou para que a votação do impeachment no Congresso não fosse secreta. Ele teve sucesso e no dia 2 de outubro de 92 Collor foi afastado do poder, numa votação aberta.
No dia 12 de outubro do mesmo ano, o helicóptero que levava Ulysses Guimarães, sua esposa, o ex-senador Severo Gomes e a mulher, sofreu um acidente e caiu em Angra dos Reis. Todos morreram, incluindo o piloto. O acidente chocou o país, principalmente porque o corpo de Ulysses Guimarães nunca foi encontrado.
2. Tancredo Neves
Tancredo Neves foi o primeiro Presidente da República civil eleito desde 1960. Ele ficou gravemente doente e foi internado um dia antes de tomar a posse, causando uma enorme comoção nacional.
Sua carreira política começou no interior de Minas Gerais, onde foi vereador. Ao longo dos anos, cresceu nesse cenário, tendo sido deputado estadual e federal. No segundo governo de Getúlio Vargas, foi nomeado Ministro da Justiça. Foi durante esse mandato que Vargas se suicidou. Após a morte de Getúlio, Tancredo articulou a candidatura de Juscelino Kubitschek à presidência.
Em 1961, com a renúncia de Jânio Quadros, Tancredo Neves assumiu o cargo de Primeiro Ministro, na breve existência do regime parlamentarista no Brasil. Nessa época, sua posição moderada garantia que ele fizesse a ponte entre os militares e o presidente, João Goulart, evitando temporariamente um golpe de estado.
Durante o Regime Militar, Tancredo Neves exerceu uma oposição moderada, o que garantiu que ele não fosse exilado. No período, foi eleito deputado federal e governador de Minas Gerais. Em 1983, ele começou a articulação de seu nome para a sucessão do presidente João Figueiredo. Tancredo foi um dos grandes nomes no movimento das Diretas Já e com suas manobras políticas, conseguiu o apoio de nomes como Leonel Brizola e Ulysses Guimarães para sua campanha. Em 1985, ele venceu as eleições indiretas contra Paulo Maluf.
Tancredo Neves já vinha sentindo dores abdominais durante a campanha, mas continuou com o trabalho duro, com o objetivo de tomar posse antes de cuidar da saúde e anunciar publicamente sua doença (diverticulite). Ele temia que os militares se recusassem a passar o poder para Sarney, seu vice-presidente.
No dia 14 de março de 1985, foi internado para uma cirurgia de emergência. No dia seguinte, Sarney assumiu a presidência, lendo o discurso de posse escrito por Tancredo Neves. Tancredo não resistiu à doença e morreu 38 dias depois, em 21 de abril de 85.
3. Getúlio Vargas
Getúlio Vargas é considerado um dos presidentes mais importantes da história do Brasil. Em 1930, ele se tornou chefe de um Governo Provisório, após a Revolução de 30. Depois, foi escolhido como Presidente da República em 1934. Em 1937, deu um golpe de estado e se manteve como presidente-ditador durante o Estado Novo, que só terminou em 1945, completando 15 anos de Getúlio no poder.
Mesmo tendo governado durante uma ditadura, com todas as perseguições e censura, Getúlio era um político bastante popular – foi ele quem instituiu o salário mínimo e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), além da criação de várias empresas públicas. Em 1951, foi eleito novamente Presidente da República, dessa vez por voto direto.
No segundo mandato, Getúlio sofreu com a oposição e acusações de corrupção. Os problemas chegaram ao ápice com o crime da Rua Tonelero, quando o chefe da sua guarda pessoal foi condenado pela tentativa de assassinato de Carlos Lacerda, opositor ferrenho de Vargas. Com isso, ele passou a ser pressionado pela imprensa e militares a renunciar o cargo.
No dia 23 de agosto de 1954, seu ministros o aconselharam a se licenciar da presidência. Na madrugada do dia 24, Getúlio Vargas deu um tiro no próprio coração. A nota oficial divulgada pela Presidência da República, assinada pelo presidente após a tal reunião ministerial, afirmava que Getúlio aceitava entrar em licença, desde que a ordem e os poderes constitucionais fossem mantidos, com sacrifício, se necessário, de sua própria vida.
4. Juscelino Kubitschek
Juscelino é considerado por muitos como herdeiro político de Getúlio Vargas. Alguns estudiosos acreditam que o suicídio de Getúlio não só adiou o Golpe Militar no Brasil, como também facilitou a eleição de JK em 1956. Durante a carreira política, JK havia sido prefeito de Belo Horizonte e governador de Minas Gerais.
O governo de Juscelino, de 56 a 61, foi muito popular. Suas ações permitiram que o Brasil vivesse um período de desenvolvimento econômico (às custas de um aumento significativo nas dívidas públicas e externas), estabilidade política e grandes obras – incluindo a construção de Brasília. Quando deixou o governo, em 61, após as eleições que deram poder à Jânio Quadros, JK se tornou o primeiro presidente civil eleito por voto direto que iniciou e conclui seu mandato dentro do prazo determinado pela Constituição desde Artur Bernardes, em 1926.
O Golpe Militar em 1964 impediu Juscelino de concluir seus planos de ser eleito presidente novamente em 1965. Na época, ele era senador eleito pelo estado de Goiás, mas teve seus direitos políticos cassados e saiu do Brasil, num exílio voluntário. Ele só voltou ao país definitivamente em 1967.
Durante 10 anos, JK tentou articular um retorno político e exerceu forte oposição à ditadura. Os militares, por sua vez, tentavam desmoraliza-lo com acusações de corrupção e a proibição de citações ao seu nome na televisão. No dia 22 de agosto de 1976, ele morreu num acidente de carro na Rodovia Presidente Dutra. Porém, até hoje existem várias discussões de que JK foi alvo de uma conspiração e assassinato.
A Comissão Nacional da Verdade concluiu um inquérito em abril de 2014 afirmando que não existiu conspiração e que a morte Juscelino foi acidental. Porém, um relatório de 2013, da Comissão da Verdade da cidade de São Paulo, diz o contrário, que se tratou de assassinato. Uma teoria da conspiração afirma que JK, João Goulart e Carlos Lacerda, três fortes líderes políticos, se aproximavam numa tentativa de retomar a democracia e foram todos assassinados pelo militares, uma vez que suas mortes suspeitas ocorreram um período de nove meses.
Foto Eduardo Campos: Wilson Dias/Agência Brasil / Outras imagens: Wikimedia Commons