5 escritores famosos que se aventuraram em Hollywood
Por Bruno Assis
A especialidade de um escritor é o trato com as palavras. Seu trabalho é lapidá-las de forma a contar a melhor história, construindo uma estrutura interessante para o leitor, independente do formato escolhido. A maioria, lógico, prefere publicar seus escritos em livros. Outros escolhem o teatro. E, às vezes, alguns escritores decidem se arriscar em uma mídia diferente da que estão habituados. Veja a história de cinco escritores famosos que trabalharam com roteiros para Hollywood:
1. F. Scott Fitzgerald
Quando era mais novo, Fitzgerald se entusiasmou pelo teatro. Enquanto estava em Princeton, escreveu e atuou no Triangle Club. Em 1922, aos 26 anos, quase foi à falência ao produzir a peça The vegetable. Foi nessa mesma época que as histórias do escritor começaram a se popularizar nas revistas dos Estados Unidos. Novos leitores vieram e, com eles, o interesse de Hollywood em adaptar suas obras para o cinema. Apesar da preferência pelo teatro, em 1937 o autor se mudou para Los Angeles e trabalhou com roteiros até o fim de sua vida, em 1940.
Para se ter uma ideia, o ano de 1937 rendeu quase 30 mil dólares aos cofres de Fitzgerald, sendo que só os direitos autorais sobre os livros Este lado do paraíso e Os belos e malditos lhe renderam cerca de 15 mil. Seu primeiro trabalho como roteirista aconteceu um ano depois, ao refinar o roteiro inicial de Um Yankee em Oxford. Neste mesmo ano, trabalhou nos textos de Carnaval na neve e Maria Antonieta.
O que pouca gente sabe é que Fitzgerald foi um dos responsáveis por polir o roteiro vencedor do Oscar de 1940, de E o vento levou…, assinado por Sidney Howard. Porém, ao contrário do sucesso de seus livros O Grande Gastby e Seis contos da era do jazz, os roteiros de Fitzgerald não eram tão populares. Autores mais novos diziam que as produções era didáticas e enfadonhas, sempre pensando em entregar o final feliz que a audiência esperava.
2. Roald Dahl
Talvez você não associe o escritor a sua obra, já que ela é pouco divulgada no Brasil, mas basta dizer que Roald Dahl é o responsável por A fantástica fábrica de chocolate, Matilda, James e o pêssego gigante, Gremlins e O fantástico Senhor Raposo, entre vários outros livros.
Por um breve período de tempo, durante os anos 1960, Dahl também se arriscou com roteiros para Hollywood. Ele inicialmente trabalhou com duas adaptações de livros de Ian Fleming. A primeira delas foi a do quinto filme de James Bond e o penúltimo de Sean Connery, Com 007 só se vive duas vezes. A segunda foi a de O calhambeque mágico. Mas as duas precisaram de vários retoques feitos por outros roteiristas antes de serem produzidas.
Em 1971, Dahl trabalhou na adaptação de um de seus próprios livros. A primeira versão do roteiro de A fantástica fábrica de chocolates precisou ser alterada por outro roteirista e Dahl ficou desapontado com o resultado. Segundo a curadora do Roald Dahl Museum and Story Centre, Liz Attenborough, o autor teria dito que o filme “colocou muita ênfase no Willy Wonka e pouca no Charlie” que, de acordo com Dahl, era o verdadeiro centro do livro. Essa frustração se estendeu para as outras adaptações feitas e o autor não permitiu que A fantástica fábrica de chocolates fosse novamente filmado enquanto estivesse vivo.
3. Aldous Huxley
O autor de Admirável mundo novo se mudou para Los Angeles em 1937, após já ter lançado algumas de suas obras mais conhecidas. Um ano depois, foi colocado em contato com a MGM, que o convidou para trabalhar no roteiro de Madame Curie, que acabou não sendo produzido naquele ano e precisou ser reescrito depois (foi indicado a 7 categorias do Oscar, mas não em roteiro). Huxley também contribuiu nas adaptações de Orgulho e Preconceito (1940) e de Jane Eyre (1943). Os dois filmes não foram um grande sucesso. Mesmo assim, Huxley gostou do clima de Los Angeles, que foi bastante acolhedora com o autor. Ele viveu por lá até sua morte, em 1963.
O mais curioso é que Huxley chegou a trabalhar em uma primeira versão do roteiro de Alice no País das Maravilhas, rejeitado pelo próprio Walt Disney. O criador do Mickey disse que só conseguia entender uma coisa a cada três palavras. No fim, apesar da lagarta ter um pouco da experiência do autor com as drogas, a participação de Huxley no filme pode ser considerada nula.
4. Tennessee Williams
Dos escritores desta lista, Tennessee Williams foi aquele que melhor se adaptou ao cinema. Muito do sucesso veio de sua importante e extensa carreira no teatro. Suas peças de maior sucesso foram transformadas em filmes e a qualidade que era apresentada no palco foi mantida em vários deles.
A primeira vez que trabalhou como roteirista foi, inclusive, adaptando sua peça Algemas de cristal, em 1950. Um ano depois, Williams escreveria o primeiro de seus roteiros indicados ao Oscar, a partir da apresentação Uma rua chamada pecado, vencedora do prêmio Pulitzer. O filme acabou vencendo 4 das 12 categorias em que concorria, porém Williams não levou a estatueta para casa. Sua segunda chance veio em 1952, quando foi indicado novamente à maior premiação do cinema, dessa vez pela adaptação de Baby Doll. De novo foi para casa sem o prêmio.
Ainda contribuiu com os roteiros de Vidas em fuga (1960) e De repente, no último verão (1959). Porém sua maior lembrança continua sendo literária, com peças como Gata em teto de zinco quente, Orpheus Descending e Sweet Bird of Youth.
5. William Faulkner
Em 1932, a situação financeira de Faulkner não era boa. Sem conseguir vender sua novela mais recente, Luz em agosto, o autor recorreu ao MGM Studios para contratá-lo como roteirista. Deu certo. Seu início foi nos diálogos do filme Vivamos hoje, de 1933, que marcou sua primeira parceria com o diretor Howard Hawks. E mesmo sem gostar tanto de cinema, logo desenvolveu roteiros completos, como o de Caminho da glória, em 1936, também dirigido por Hawks. Os dois também foram parceiros em Águias americanas (1943), indicado ao Oscar de Melhor Roteiro – e que Faulkner fez apenas pequenas contribuições – e Uma aventura na Martinica, de 1944.
O filme de maior sucesso da lista de Faulkner, porém, é À beira do abismo, que tinha Humphrey Bogart e Lauren Bacall no elenco. Presente na lista dos 250 melhores do Imdb, o filme conta a história de mistério e amor do detetive particular Philip Marlowe (Bogart). Faulkner continuou trabalhando em roteiros até o meio da década de 1950, mas o maior prêmio do autor veio mesmo do mundo literário. Em 1942, foi laureado com o Nobel da Literatura e ganhou duas vezes o Pulitzer Prize for Fiction, nos anos de 1955 e 1963.