9 cidades que foram destruídas por incêndios
Por Luíza Antunes
Se hoje em dia a notícia de um incêndio nos apavora, imagina numa época em que quase tudo era construído com madeira e o acesso à água era ainda mais limitado? Cidades inteiras já viram seus edifícios queimarem e muitas pessoas morrerem por conta do fogo que se alastrava com facilidade. Conheça 9 grandes incêndios que fizeram com que cidades tivessem que ser reconstruídas a partir das cinzas.
1. Roma, 64
No ano 64, os cidadãos de Roma viram a cidade queimar sem controle por 6 dias seguidos, num incêndio iniciado na madrugada entre os dias 18 e 19 de julho. O fogo se alastrou facilmente e deixou 10 dos 14 distritos de Roma completamente destruídos.
Até hoje o Imperador Nero é apontado como responsável pelo início do fogo, apesar de não haver uma evidência real que prove isso. Acredita-se que Nero iniciou o incêndio para se livrar de alguns prédios que estavam no local onde ele mais tarde construiria seu opulente novo palácio. Mas isso são rumores. Fato é que o Imperador usou o fogo como justificativa para perseguir cristãos na cidade, afirmando que foram eles os responsáveis pela tragédia.
2. Amsterdã, 1421 e 1452
Como acontecia com a maior parte das cidades nessa época, as construções em Amsterdã eram feitas com madeira. Além disso, as casas eram todas muito próximas umas das outras, com telhados de palha. Para aquecer, o pessoal colocava fogueiras no meio da sala – lareiras e chaminés eram muito caras e difíceis de manter. Essa combinação tornava muito propícia a possibilidade de um grande incêndio, uma vez que a menor faísca seria capaz de queimar várias casas ao mesmo tempo. E o telhado de palha em chamas, se espalhado pelo vento, poderia levar o fogo para outros lugares.
O primeiro grande incêndio na cidade ocorreu em 1421, queimando mais de um terço das construções de Amsterdã. Em 1452, a coisa foi mais feia: três quartos da cidade foram queimados até as cinzas. A essa altura, as autoridades da cidade perceberam que precisavam fazer alguma coisa para resolver o problema. Na reconstrução de Amsterdã, os habitantes foram obrigados a construir muros de tijolos entre as próprias casas e as dos vizinhos. E o telhado de palha foi proibido. Com o tempo, as casas de madeira foram desaparecendo. Hoje, apenas duas casas tradicionais de madeira sobreviveram na cidade.
3. Londres, 1212 e 1666
Londres já sofreu muito com incêndios. Os problemas com fogo na cidade ocorreram em 1130, 1132, 1135, 1220, 1227, 1299, 1633. Porém, os maiores e mais marcantes incêndios foram os de 1212 e 1666.
Na primeira data, o fogo atingiu uma região conhecida como Southwark, deixando cerca de 3 mil mortos, muitos deles presos na London Bridge. A famosa ponte era feita de madeira à prova d’água, altamente inflamável. No final das contas, um terço da cidade ficou em ruínas.
Já o Grande Incêndio de 1666 não matou muitas pessoas (por volta de 6), mas definitivamente mudou a história da cidade e, de certa forma, de toda a Inglaterra. Acredita-se que as chamas começaram com uma empregada que se esqueceu de apagar o fogo do forno numa confeitaria. O incêndio se alastrou por uma área enorme, destruindo milhares de prédios na cidade. A questão é que a destruição acabou queimando também focos da peste bubônica, que estava se alastrando na periferia. Assim, Londres teve que ser reconstruída a partir das cinzas, mas pelo menos a população inglesa se viu livre da peste.
4. Copenhague, 1728 e 1795
O grande incêndio de 1728 queimou a capital da Dinamarca por 3 dias seguidos, destruindo quase 30% da cidade. As áreas mais antigas, que ainda tinham construções medievais, foram totalmente danificadas. Boa parte da população ficou sem casa e o processo de reconstrução durou 10 anos. O fogo gerou muitas perdas culturais, como todos os livros da biblioteca da Universidade de Copenhague, além de instrumentos de observação astronômica dos pioneiros Tycho Brahe e Ole Rømer.
Sessenta e seis anos depois, um incêndio começou numa antiga base da marinha onde eram armazenados carvão e madeira. Como os trabalhadores já haviam ido embora, demorou até que os esforços de combate ao fogo começassem. Para piorar, os hidrantes tinham sido removidos do local, por medo de roubo. O vento fez o trabalho de espalhar o fogo para o resto da cidade.
Por causa do incêndio de 1728, tinham construído em Copenhague uma estrutura para bombar água rapidamente na região mais populosa da cidade, próxima à Igreja de São Nicolau. Só que quando a igreja começou a queimar, a população em pânico esqueceu onde estava a chave para o reservatório de água. Até alguém decidir arrombar as portas, a igreja já estava destruída. Para completar, a população se acumulou nas ruas, levando consigo a mobília de casa e assim impedindo que os cavalos que carregavam água chegassem perto do fogo.
O incêndio durou dois dias, deixou 6 mil pessoas sem casa e destruiu toda a herança medieval e renascentista dos edifícios de Copenhague.
5. Moscou, 1547 e 1812
Entre o primeiro grande incêndio em 1547 e o último, em 1812, Moscou ainda teve mais outros dois desastres com fogo. Em 1547, o fogo destruiu grandes partes da cidade, toda construída com madeira. O incêndio também atingiu o Kremlin, sede do governo, e explodiu os depósitos de pólvora. Cerca de 80 mil pessoas ficaram sem teto e por volta de 4 mil morreram. Além disso, a população de Moscou ficou extremamente empobrecida depois da tragédia.
Em 1812, o último grande incêndio em Moscou aconteceu no dia em que as tropas de Napoleão chegaram e os soldados russos e moradores abandonaram tudo. O fogo durou quatro dias, destruindo três quartos de Moscou. Documentos históricos mostram que a ordem de iniciar as chamas veio de um general russo. Foram destruídas casas, lojas comerciais, igrejas, universidades e bibliotecas. Foram encontrados 12 mil corpos depois do fogo, 2 mil deles soldados russos.
Com a guerra e o país empobrecido, eles demoraram 5 anos para iniciar os projetos de reconstrução de Moscou – que serviu como uma oportunidade para planejar a cidade do zero.
6. Nova York, 1776 e 1835
Nova York viveu dois grandes incêndios em sua história. O primeiro ocorreu durante a Revolução Americana, em 1776. O fogo, que destruiu por volta de 25% da cidade, começou nos primeiros dias de ocupação militar britânica. Não se sabe quem causou o incêndio, com um lado acusando o outro. Ventos fortes e secos fizeram com que o fogo se espalhasse facilmente por Manhattan.
O segundo grande incêndio de Nova York foi em 1835. O fogo começou num depósito na região da Wall Street, em dezembro, época em que a cidade está coberta de neve e recebe ventos gelados em direção ao East River. Ou seja, para apagar as chamas, os bombeiros precisaram fazer buracos no gelo que cobria o rio. Mas isso não impediu a água de congelar nos hidrantes e canos.
“Somente” 20 pessoas morreram, mas cerca de 200 mil metros quadrados da cidade foram destruídos, num rastro de perdas que foi avaliado na época em vinte milhões de dólares (hoje seriam centenas de milhões), o que gerou várias falências, inclusive de companhias de seguros que também tiveram seus escritórios queimados.
7. Chicago – 1871
Em 1871, Chicago virou um inferno. Mais de 17 mil edifícios foram queimados e 90 mil pessoas ficaram sem casa durante o inverno rigoroso da região. Como as chamas não se espalharam rapidamente, foi possível salvar muitas vidas: foram 300 mortos. Um jornalista inventou na época que o fogo havia sido iniciado por conta de uma vaca que deu um coice numa lanterna que atingiu um celeiro. Hoje em dia, pesquisadores acreditam que o fogo começou no celeiro por conta de uma bituca de cigarro.
Chicago teve que ser reconstruída a partir dos destroços e, graças ao processo de revitalização, acabou se tornando uma das maiores metrópoles dos Estados Unidos. Além disso, as reformas no departamento de bombeiros após a tragédia ganharam fama e até hoje eles são referência nos procedimentos de combate às chamas.
8. São Francisco – 1906
Em 1906, São Francisco foi abalada por um grande terremoto. A destruição deixada pelo tremor foi agravada por um incêndio que queimou cerca de 25 mil prédios na cidade e deixou 3000 mortos. O cenário de destruição não foi só por causas naturais: a prefeitura desviou as verbas que seriam destinadas em equipamento para emergências. Além disso, os bombeiros da cidade eram mal treinados, e acabaram implodindo vários edifícios sem necessidade, numa tentativa de criar barreiras para o fogo. Para piorar a situação, a rede de água da cidade foi seriamente afetada pelos tremores.
9. Tóquio – 1923
Em 1923, a região de Tóquio viveu uma verdadeira catástrofe. Terremoto, tufão, grande incêndio, deslizamento de terra e tsunami. Uma sequência infeliz de desastres que causou 142.800 mortes. O epicentro do terremoto foi no sul de Tóquio e ocorreu por volta de meio dia. Muitas pessoas estavam em casa fazendo almoço, com os fogões a lenha ou carvão acesos. Os fortes tremores tombaram esses fogões, causando o incêndio. Ao mesmo tempo, as tubulações de água quebraram, o que limitava os meios de apagar o fogo.
Para completar, um tufão que se aproximava da costa trouxe ventos fortes, espalhou o fogo e criou labaredas gigantes, como um furação de fogo a 150 km por hora. Nesse cenário infernal, cerca de 38 mil pessoas, que estavam numa praça aberta para se salvar dos efeitos do terremoto, acabaram sendo incineradas pelo turbilhão de chamas. O fogo durou 3 dias e nem o tsunami que arrasou a cidade conseguiu apagá-lo.
Tóquio terminou o processo de reconstrução nos anos 40, só para ser totalmente destruída novamente durante os bombardeios da Segunda Guerra Mundial.